O “super Mario” ainda sabe o que faz

Mais de dez anos depois de Balotelli se ter agigantado perante o mundo, é estranho que um texto sobre este italiano seja por bons motivos. Mas Balotelli é diferente quando decide ser menos Balotelli.

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Balotelli no Alemanha-Itália de 2012 GABRIEL BOUYS
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A 28 de Junho de 2012, em Varsóvia, o mundo viu Mario Balotelli destruir a poderosa Alemanha em pleno Europeu, com uma cabeçada e um pontapé forte que enviaram a Mannschaft para Berlim. Estava ali o sucessor em potência
de Roberto Baggio, Del Piero, Totti ou Inzaghi.

A 1 de Outubro de 2023, mais de dez anos depois de Balotelli se ter agigantado perante o mundo, é estranho que uma notícia sobre este italiano seja justificada por bons motivos. Mas Balotelli é diferente quando decide ser menos Balotelli – e isso, por difícil que seja para este italiano estouvado – é sempre uma boa notícia.

Neste domingo, no Alana Demirspor-Alanyaspor (4-0), marcou dois golos na estreia pelo novo clube, o décimo da carreira. Ao lado do português Nani, Balotelli foi bom, como é sempre que decide ser.

Depois de ter argumentado, há poucas horas, que Taarabt é tecnicamente mais forte do que Neymar, alguns dirão que Balotelli não sabe o que diz. Mas pelo menos ainda sabe o que faz – às vezes.

Já não é aquele jovem

Um dia, José Mourinho chegou a dizer: “Confiar nele? Nunca. Não o consigo manter em casa dois dias. Não confio no Mario. Ninguém confia. Pode marcar dois golos ao Arsenal, mas também pode levar um cartão vermelho. Precisa de trabalhar e descansar. Mas ele é jovem...”.

É jovem? Era. Em tempos, foi um jovem avançado cuja personalidade acriançada e despreocupada lhe enevoava o talento de “golden boy”. Hoje, é um homem de 33 anos que nunca justificou a alcunha de “super Mario”.

Balotelli é o homem que não sabe vestir um colete, que não sabe como reagir a uma provocação, que não entende o conceito de recato, que não pratica a tranquilidade, que não compreende que o fogo-de-artifício é perigoso dentro de uma casa e que uma brincadeira com uma pistola, numa praça de Milão, não é boa ideia.

Futebolisticamente, Balotelli é aquele atacante que em 70 jogos na Liga inglesa conseguiu fazer apenas uma assistência para golo – embora a que fez, a 13 de Maio de 2012, tenha dado a Agüero e ao Manchester City, aos 94 minutos, um dos momentos mais lendários da história do futebol. Foi a assistência que valeu um campeonato.

Mas esta, por muito boa que tenha sido, foi a excepção à regra que rege Balotelli: aquela que diz que primeiro está Mario, depois está Barwuah, depois está Balotelli e talvez depois disto haja espaço para mais alguém ser relevante – com sorte.

Balotelli tem sido sempre alguém auto-centrado e isso, quer nível de ambiente de grupo quer de futebol colectivo, nunca lhe permitiu ser o que parecia garantido que iria ser.

Ainda sabe o que faz

Depois de sair do Inter, fez temporadas assim-assim em Manchester, duas épocas de relativa ressurreição, no AC Milan, e dois anos desastrosos: em Liverpool, primeiro, e novamente no AC Milan, depois.

Mais tarde, esteve em Nice, com vista para o Mediterrâneo, cidade também conhecida pelo seu Carnaval. E foi aí que também tentou transformar o “carnaval” que era a sua carreira num percurso de sucesso. Conseguiu, mas pouco.

No Marselha, no Brescia, no Monza e no Sion voltou a ser fraco. A única excepção a este rol de futebol mediano, ainda que sempre com golos, é quando Balotelli se instala em Adana, no Sul da Turquia.

Marcou 19 golos em 33 jogos em 2021/22 e, depois de ter sido assim-assim no Sion, está de volta a Adana. Um jogo, dois golos.

Em Adana, como em Milão e Nice, parece saber como ser feliz. Mas já nem os golos salvarão Balotelli da sina de talento perdido. Para o Adana, ficam os golos. E nesse domínio o avançado italiano ainda sabe o que faz.

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