“Tem Setúbal no coração.” Américo Aguiar investido cardeal pelo Papa

Com 49 anos, Américo Aguiar passa a integrar o Colégio Cardinalício, que tem por missão aconselhar o Papa, sendo o segundo cardeal mais jovem.

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Até agora, Américo Aguiar era bispo auxiliar de Lisboa REMO CASILLI/Reuters

O Papa Francisco exortou Américo Aguiar a ter "Setúbal no seu coração". Aconteceu logo a seguir à entrega do anel e barrete cardinalícios que, este sábado, consagrou a sua investidura como cardeal no consistório, na Praça de São Pedro, na Cidade do Vaticano. Foi "particularmente bonito e inspirador", contou depois aos jornalistas sobre este conselho de Francisco.

Américo Aguiar, presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023 e coordenador geral da organização da visita, em Agosto último, do Papa a Portugal, foi um dos 21 novos cardeais (18 dos quais eleitores) anunciados por Francisco em 9 de Julho.

O novo bispo de Setúbal é o 47.º cardeal português da História. A Américo Aguiar, até agora bispo auxiliar de Lisboa, foi atribuído o título da Igreja de Santo António de Pádua na Via Merulana, em Roma. Disse depois que, em razão da Igreja titular que lhe foi atribuída, o Papa "disse umas piadas sobre isso, [Santo António] 'de Lisboa ou de Pádua, agora entendam-se'".

"Para mim, é particularmente significativo que esta Igreja tenha sido a Igreja titular do cardeal António Ribeiro e também do cardeal Hummes, o culpado do nome Francisco", prosseguiu, reconhecendo que tudo isso são sinais, "recados e provocações que coloca no coração".

Américo Aguiar referia-se ao cardeal-patriarca de Lisboa António Ribeiro (1928-1998) e ao cardeal brasileiro Cláudio Hummes (1934-2022), que inspirou o Papa a escolher o nome de Francisco, ao dizer-lhe “não te esqueças dos pobres”.

Este é o nono consistório para a criação de cardeais de Francisco, cujo pontificado começou em Março de 2013, após a resignação do Papa Bento XVI (1927-2022). Quando o líder da Igreja Católica pronunciou o nome do novo cardeal português, ouviram-se palmas.

Entre os 20 prelados presentes

A celebração, presidida pelo pontífice, começou com uma saudação de D. Robert Francis Prevost, prefeito do Dicastério para os Bispos, em nome dos novos cardeais, antes da oração proferida por Francisco, a leitura de uma passagem dos Actos dos Apóstolos e a homilia, descreveu a Agência Ecclesia a partir de Roma.

Após esta intervenção, o Papa leu a fórmula de criação e proclamou em latim os nomes dos cardeais, para os unir com “um vínculo mais estreito” à sua missão; seguiu-se a profissão de fé e o juramento dos novos cardeais, de fidelidade e obediência ao Papa e seus sucessores.

Cada um dos novos cardeais ajoelhou-se para receber o barrete cardinalício, de acordo com a ordem de criação: D. Américo Aguiar foi o 17.º dos 20 prelados presentes, acrescenta a Ecclesia.

“Quando estava a subir aquela rampa [no Vaticano], lembrei-me do Papa sozinho [a subi-la], no contexto da pandemia, e parece que senti o peso e a partilha dessa caminhada”, disse Américo Aguiar aos jornalistas após a cerimónia. “A partir do momento em que nos entregamos nas mãos de Deus, seja o que Deus quiser.”

Américo Aguiar respondeu ainda ao apelo de uma metáfora do Papa Francisco proferida esta manhã: a ideia de que uma “orquestra pode representar bem o carácter sinodal da Igreja”. “Não sou bom a música, mas faço parte de uma orquestra sinfónica e sinodal. Agora vamos dar música. Um homem do Norte rapidamente se adapta a qualquer instrumento.”

Com 49 anos, Américo Aguiar passa a integrar o Colégio Cardinalício, que tem por missão aconselhar o Papa, sendo o segundo cardeal mais jovem, depois do da Mongólia, o italiano Giorgio Marengo, missionário da Consolata.

Natural de Leça do Balio, Matosinhos, licenciado em Teologia e mestre em Ciências da Comunicação, o até agora bispo auxiliar de Lisboa foi ordenado sacerdote em 2001, sendo integrado na Diocese do Porto. Nesta, desempenhou vários cargos, como pároco e vigário-geral. Foi também director do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Conferência Episcopal Portuguesa e presidente da Irmandade dos Clérigos, antes de ingressar na Diocese de Lisboa.

Na escolha do sucessor do Papa

O prelado junta-se ao patriarca emérito de Lisboa, Manuel Clemente, a António Marto, bispo emérito da Diocese de Leiria-Fátima, e a Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, como cardeais eleitores – que também podem ser eleitos por terem menos de 80 anos – num futuro conclave para escolher o sucessor do Papa Francisco, de 86 anos.

Quando o anúncio foi feito, especulou-se que a elevação de Américo Aguiar a cardeal poderia significar que o também organizador da JMJ poderia suceder a D. Manuel Clemente, como patriarca de Lisboa, ou ocupar um cargo elevado na Cúria Romana. Mas tal não veio a confirmar-se.

No dia 21 de Setembro, o Vaticano anunciou que D. Américo Aguiar era o escolhido para ocupar a cadeira de bispo de Setúbal que se encontrava vazia há quase dois anos, desde que o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. José Ornelas, transitara para a diocese de Leiria-Fátima.

“Sou um fazedor e parto para Setúbal de mangas arregaçadas”, declarou, quando questionado pelos jornalistas que foram naquele dia ao paço episcopal do Porto, para o ouvir comentar “a missão” para que Francisco o escolheu. “Quando soube, fiquei de coração cheio”, insistiu o ainda presidente das empresas do Grupo Renascença Multimédia, predisposto a descartar a ideia de que “ir para fora é que é bom”.

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