Sporting conseguiu recuperar o que “ofereceu” ao Farense

Os “leões” tiveram o jogo “feito”, mas abriram mão disso por mérito algarvio, mas também algum demérito próprio. E só aos 90’ recuperaram o que tinham desperdiçado, com um triunfo difícil, mas justo.

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Jogadores do Sporting celebram em Faro EPA/LUS FORRA
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Minuto 35, vantagem de 2-0 e superioridade numérica de onze contra dez. Era isto que o Sporting tinha na mão neste sábado, frente ao Farense, mas ofereceu tudo isso.

Em dois lances de bola parada, os “leões” cederam dois golos a uma equipa que pouco perigo tinha criado, mas que teve a arte no pé esquerdo de Mattheus Oliveira, que com dois livres-directos mostrou à antiga equipa aquilo que não soube aproveitar.

Foi já aos 90’ que a equipa de Rúben Amorim conseguiu recuperar aquilo de que tinha aberto mão, com um golo de Gyokeres, de penálti, a dar um triunfo difícil por 3-2. O sueco já tinha marcado um primeiro penálti e Pote também celebrou.

Só largura

Há jogos difíceis de prever, mas há outros não tão difíceis assim – e o Farense-Sporting não era dos mais árduos. Dizemo-lo porque havia tendências muito claras sobre o Farense. É a equipa que permite mais cruzamentos aos adversários, é a que permite mais remates, é a que tem pior percentagem de acerto no passe e é a equipa que mais passes longos tenta – e a que menos acerta.

Todo este “cocktail” era mais do que uma sugestão: era mesmo uma certeza de que o Farense teria a equipa muito “estreia”, preferindo “oferecer” o corredor, sobrepovoando a zona central, para impedir futebol entre linhas. E o tipo de comportamento com bola também sugeria uma equipa de pouca largura e muito junta.

É até curioso que Rúben Amorim tenha dito, antes do jogo, que o Sporting teria de ter “posses de bola mais longas” – mensagem que reforçou a Gonçalo Inácio durante o jogo, segundo o repórter da SportTV.

Porquê? Porque o Sporting tinha o jogo interior totalmente bloqueado e as bolas verticais entre linhas habitualmente inventadas por Inácio seriam inúteis – Edwards, ao contrário do que aconteceu no último jogo, nunca teria espaço para receber e rodar, para ver o jogo de frente (só fez isso uma vez, aos 43’, com perigo criado). E Gyokeres, no lugar que foi de Paulinho, também dificilmente conseguiria dar bons apoios frontais, como fez o português com o Rio Ave.

Nessa medida, o Sporting teve mesmo de ter paciência e prolongar as posses para explorar mais a largura do que faz habitualmente. Chamemos-lhe a jogada “largura-largura” – porque era colocada uma bola no corredor e um outro jogador fazia outro movimento pela ala, pedindo novo passe pelo corredor.

A jogada foi repetida algumas vezes – aos 14’, quando não houve finalização de Pote, aos 26’, quando combinaram Gyokeres e Pote e aos 33’, quando esse desenho deu o canto do 2-0 – grande remate de Pote à entrada da área.

Nesse lance, o Sporting colocou vários jogadores perto da baliza, seduzindo os defensores a ficarem por ali. Resultado: foco nesse local e Pote sozinho à entrada da área – e deixar um finalizador destes sozinho é pedir problemas.

Esse desenho deu dois lances de perigo e um golo, mas, antes disso, já o Sporting tinha conseguido o 1-0 num lance de menor peso estratégico: foi apenas uma transição num momento em que o Farense saiu e perdeu a bola. A jogada deu condução de Gyokeres e penálti e expulsão de Gonçalo Silva, por mão na bola.

Mais Mattheus

O Farense, que pouco perigo criou, chegou ao 2-1 num livre tremendo de Mattheus Oliveira e, apesar de jogar com 10, foi para o intervalo por cima no jogo, penalizando a incapacidade do Sporting para controlar o jogo com bola.

E foi nessa medida que Amorim trocou Hjulmand por Paulinho, baixando Pote para médio – não só protegeu o “amarelado” dinamarquês de uma expulsão como deu ao meio-campo um jogador mais refinado para controlar o jogo com bola.

Parecia haver margem para o Sporting controlar a partida, mas um novo livre-directo voltou a dar golo de Mattheus Oliveira, aos 55’. O ex-jogador do Sporting estava de mira afinada e Adán voltou a parecer ter-se lançado tarde para a bola, tal como no primeiro livre.

Com 2-2 e reduzida a dez, a equipa algarvia baixou ainda mais as linhas. Para uma equipa tão viciada no ataque ao espaço como é o Sporting actual, isto tornou-se um enigma difícil de resolver e o Sporting começou a abusar dos cruzamentos, à espera que o jogo mais directo desse algo especial, em vez de tentar arrastar os defensores com movimentos mais dinâmicos na frente.

E não foi coincidência que o regresso do Sporting ao perigo, só aos 70’, tenha vindo de um raro momento de desposicionamento do Farense, que ofereceu espaço nas costas para Gyokeres explorar – a jogada acabou com cabeceamento de Paulinho.

Aos 87’, uma jogada individual de Edwards deu penálti de Zé Luís. Gyokeres transformou o pontapé em golo e tudo ficou resolvido para os “leões”.

Não foi fácil, mas, pelo que se passou em campo, terá sido o desfecho mais justo.

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