Cartas ao director

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Sobre corrupção

Vivemos sob variados processos corruptivos desde que nos conhecemos como nação, mas, recentemente, alguns personagens desta labiríntica/mafiosa via verde para o enriquecimento ilícito deixaram de lado a discrição e um certo comedimento que lhes era associado (…) e resvalaram até ao descaro e completa falta de vergonha pública.

Falta, a uns quantos, anunciar a sua deriva corruptível no LinkedIn, como habilitação própria, académica e/ou curricular, tipo: “Oh pra mim, aqui às ordens – que o que eu quero é bens e património para ter uma vida boa…!”

E para o resto dos que trabalham, ganham salários que não lhes chegam ao fim dos meses e que não se corrompem – ou por serem desgraçadamente sérios ou porque os caminhos para o dinheiro fácil e sujo só estão reservados para alguns dos de colarinho branco e peúga de seda natural –…

O facto é que em Portugal os da base da pirâmide social produzem para que os que habitam galhos elevados possam lucrar como em alguns outros impérios da História recente e coeva.

Os que trabalham e ganham uma espécie de esmola têm de ir sobrevivendo no fio da navalha da sua honestidade, que, garantidamente, apenas lhes aportará pobreza e mais pobreza como até agora. Outrora: Cidadãos versus Escravos; hoje: Trabalhadores versus Vampiros.

Maria da Conceição Morais Mendes, V.N. Gaia

15.º mês da CIP

O presidente da Confederação da Indústria, Armindo Monteiro, sugeriu a possibilidade de os patrões, que o quisessem, poderem pagar o 15.º mês aos seus trabalhadores desde que o mesmo não esteja sujeito a impostos, ou seja, taxa social única de 11% e IRS, conforme o escalão salarial do trabalhador. À luz da legislação actual, isso é ilegal. Esta ideia tem vários contras: prejudica a taxação progressiva do IRS; ou a perda de rendimentos da Segurança Social. Esta perda de receitas terá consequências nas futuras reformas dos trabalhadores e de receitas para o Estado, com implicações nos serviços de saúde, educação, segurança, etc. Será a degradação do chamado Estado social. Esta sugestão do patronado só pode ter uma leitura: a possibilidade de os aumentos salariais poderem ser muito maiores do que têm sido, ou não será?

Mário Pires Miguel, Reboleira

Estação Nova de Coimbra

Coimbra teve, em tempos, uma exemplar rede suburbana, com sete linhas e um rosário de cidades a cerca de uma hora de viagem: Norte (Oliveira do Bairro, 40 minutos), Nordeste (Santa Comba, 50), Sueste (Lousã, 50), Sul (Soure, 35), Sudoeste (Louriçal, 50), Oeste (Figueira da Foz, 1h05) e Noroeste (Cantanhede, 40). Como relevante centro universitário, administrativo, cultural e comercial, Coimbra muito ganharia se este conjunto de cidades se tivesse organizado como espaço complementar de habitação e lazer, bens sempre escassos ou problemáticos na grande cidade. O levantamento da Linha da Lousã, o encerramento da Linha de Cantanhede, as baixas frequências de operação nas restantes e a apetência pelo grande investimento comprometeram um modelo equilibrado e sadio, hoje inestimável face à duradoura crise da habitação. A prevista desactivação da Estação Nova, presença imprescindível desta rede na icónica Baixa coimbrã, selará o seu desaparecimento, talvez irreversivelmente. É pena.

Eduardo Zúquete, Lisboa

Recuperação das aprendizagens

Estudos feitos reflectem a necessidade de dar continuidade ao programa de recuperação das aprendizagens afectadas pelo período pandémico. Isso, só por si, reflecte a imprescindibilidade do ensino presencial e a necessidade premente de reforçar os recursos humanos para os níveis de escolaridade em que se adquire competências de leitura e escrita. Além disso, as expectativas criadas à volta das vantagens do ensino à distância como parte do futuro da educação saíram goradas. Já o uso das tecnologias no ensino presencial pode ser benéfico se bem doseadas, evitando-as, no entanto, durante os tempos livres dos alunos. Tudo isto se relaciona com a queda nos hábitos de leitura como factor importante na formação. Os jovens crescem dominados por demasiado imediatismo e excitabilidade, alimentados pelo uso excessivo da tecnologia, o que se reflecte no seu comportamento global, criando uma geração que cada vez mais procura o facilitismo, a emoção fácil, efémera e, por isso, instável.

José M. Carvalho, Chaves

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