No Valência, o avançado é Duro, é goleador, é engenheiro e é barato

O apelido de Hugo Duro faz justiça a um percurso que não tem sido fácil. Já foi chamado “traidor” pelos seus, já provocou problemas físicos a si próprio e só agora terminou uma longa “seca” de golos.

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Hugo Duro celebra pelo Valência EPA/Ana Escobar
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No futebol, nem sempre sai barato comprar um goleador. Na Fórmula 1, também é preciso pagar bem por um bom engenheiro e, mesmo assim, nem sempre é suficiente – que o diga a Ferrari. Mas o Valência soube, em Espanha, conseguir um bom preço por alguém que conjuga conhecimentos de futebol e engenharia – pelo menos, na teoria.

Hugo Duro, que marcou neste sábado dois dos três golos com os quais o Valência bateu o Atlético de Madrid, é um estudante de engenharia que ainda não abandonou esse percurso.

“Como adoro números e Fórmula 1, comecei a estudar engenharia mecânica. Quis fazê-lo, porque, sinceramente, se não o fizesse, estaria em casa sem fazer nada. Era bom nos estudos e pensei que o melhor para mim era continuar a estudar”, explicou em entrevista à Marca, detalhando que quer manter-se mentalmente activo, apesar de se ter entregado totalmente à carreira de futebolista.

A engenharia não está em primeiro plano, já que o futebol está a correr bem, mas, como o próprio apelido indica, o percurso de Hugo Duro não tem sido fácil.

O traidor

O jogador do Valência fez toda a formação no Getafe, desde os cinco anos, mas é visto no clube como um traidor – e a história não é fácil de explicar.

Em rigor, foi o Getafe quem quis ver-se livre de Hugo Duro, em 2020, emprestando-o ao Real Madrid. É curioso até que os golos do avançado na equipa B lhe valeram três jogos pela formação principal, um deles na Liga dos Campeões, substituindo Isco num duelo frente à Atalanta.

E Duro achou que ia ficar no clube. “Parecia que iam comprar-me, todos me diziam que estavam muito contentes com o meu desempenho. Comecei a ouvir no clube que tinha opções para ficar. Mas não fiquei. Fui de férias a pensar que ia ficar, mas os dias passavam e eu não sabia de nada. Comecei a ficar nervoso e acabei por regressar ao Getafe”.

Sem a chamada de Zidane, Duro voltou a “casa”, mas, com uma proposta do Valência na mão, decidiu sair de Madrid pela primeira vez, dado que o treinador não parecia contar com ele. E os adeptos não perdoaram, apesar de ter sido o Getafe a emprestar o jogador duas vezes.

"É estranho. São os meus adeptos, a minha equipa, sou “azul” de nascença, estarei sempre grato a este clube, ao presidente, aos jogadores, aos treinadores, etc. Estou chateado com a forma como as pessoas me receberam sem eu nunca ter dito nada de mal sobre elas e sempre lhes ter demonstrado carinho. Tem sido estranho", disse Hugo Duro, aborrecido com os assobios que ouviu no primeiro Getafe-Valência pela nova equipa, além dos cânticos permanentes que o insultavam como traidor.

Forçou o corpo

A aventura em Valência não começou mal, com dez golos que levaram o clube a comprá-lo em definitivo por apenas quatro milhões de euros – também este valor prova que o Getafe, ao contrário do que sugere a ira dos adeptos, não acreditava assim tanto nas qualidades de um avançado que até nem se tinha portado mal no Real Madrid.

Mas nem tudo correu bem. Depois dessa boa temporada, a época passada teve uma lesão mal curada – por culpa própria do jogador.

“Lesionei-me na segunda jornada e deram-me um mês de baixa, mas, sendo como sou, quis voltar na semana seguinte. Penso que foi o maior erro, mas aprende-se com tudo. Não voltaria a fazê-lo. Estava a treinar a 70% e sofria ao ir para os treinos. O que podia ter sido um mês, durou até Dezembro e foi a pior coisa que poderia ter feito”, explicou ao site Relevo.

A temporada foi complicada, com apenas dois golos, e esteve perto de pedir ajuda psicológica. “Estive perto disso. À noite não dormia ou dormia mal, só pensava no que fazer para melhorar e sentia muita pressão do ambiente futebolístico. No final, entre a minha família, a minha namorada e os meus amigos, consegui melhorar, mas é verdade que nas duas últimas semanas de competição eu estava a sofrer mesmo quando estava a treinar”.

300 dias depois, voltou a marcar na Liga espanhola, na terceira jornada, e bisou agora, na quinta. Já fez uma assistência e marcou três golos – os golos que o tiraram do suplício e que tornam o apelido de Hugo Duro um pouco mais real.

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