Com inimigos internos, Kuss fez um amigo novo na Vuelta

João Almeida teve, em geral, um dia bastante positivo, apesar de ter “abandonado” o seu líder, Juan Ayuso, numa opção no mínimo discutível por parte do português e da equipa Emirates.

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Kuss no pódio da etapa da Vuelta EPA/Manuel Bruque
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Na terça-feira foi Jonas Vingegaard, na quarta foi Primoz Roglic. Sepp Kuss, líder da Volta a Espanha, continua a ser atacado por colegas de equipa, que desta vez até fizeram parelha na ofensiva contra aquele que já foi domestique de ambos nas maiores vitórias conseguidas em “grandes voltas”.

Mas se Kuss (que até faz anos nesta quarta-feira) vai dormir com a camisola vermelha é porque fez um novo amigo – Mikel Landa, que na parte final da subida ao Angliru “rebocou” Kuss estrada acima, quando os colegas do americano já iam uns segundos à frente.

Na escalada brutal ao Angliru, Roglic, que ganhou a etapa, atacou quando apenas restavam os três ciclistas da Jumbo – momento no qual se esperava que apenas seguissem como um trio, dado que todos os outros, mais atrás, tinham um ritmo mais sofrível.

Mas Roglic tinha uma ideia diferente, acelerou e viu-se Kuss a falar no auricular – terá pedido para esperarem por ele, sendo ignorado, ou terá dado a sua “bênção” para o ataque dos “amigos”?

Seja qual for o cenário, a aceleração de Roglic, puxando Vingegaard subida acima, pareceu totalmente desnecessária, já que poderiam ter seguido os três e, no final, deixar que a luta pela etapa sorrisse ao mais forte – e Roglic é o mais explosivo e com melhor ponta final.

Para alegria de quem desdenha esta traição interna na Jumbo, a ajuda de Landa permitiu a Kuss segurar a camisola vermelha por oito segundos, defendendo-se dos seus próprios colegas.

Por outro lado, quem apoia a estratégia de “cada um por si, vença o mais forte” estará satisfeito por ver, uma vez mais, Kuss a abraçar Roglic e Vingegaard no final, sempre de sorriso largo. Não parece chateado, mesmo tendo estado prestes a ficar sem a camisola vermelha.

Uma perspectiva mais cândida de tudo isto é que vão todos dormir satisfeitos: Kuss continua de vermelho, Roglic ganhou a etapa e Vingegaard sabe que, provavelmente, ganhará a Vuelta, mesmo que tenha dito que quer ver Kuss vencer a corrida.

Almeida largou Ayuso

A subida ao Angliru teve ainda um desempenho tremendo de João Almeida. Como sempre, o português cedeu na zona mais dura da escalada, colocando na estrada o seu ritmo. Depois, faz um “Almeida” – movimento já baptizado no ciclismo.

Ultrapassa adversários, um por um, mas, nesta quarta-feira, foi mais longe: ultrapassou também um colega. Juan Ayuso, chefe-de-fila da Emirates, foi deixado sozinho por Almeida, momento que também pode ser visto como uma traição do português ou uma opção táctica da Emirates no mínimo discutível, já que Ayuso fez a parte mais dura da subida sozinho.

Sendo certo que Almeida já sofreu disto na Emirates mais do que uma vez, é certo também que não pareceu bonito e não abona a favor do companheirismo do português, mais atrasado na classificação em relação a Ayuso. Ou não abonará, em último caso, a favor da estratégia sempre confusa da Emirates. Almeida é, agora, nono classificado, subindo um lugar.

Para esta quinta-feira está desenhado mais um dia duro, com final em alto depois de três escaladas de primeira categoria – o segundo nível mais difícil. Parece claro que Kuss vai ser atacado por “amigos”, resta saber se por Roglic ou por Vingegaard – ou os dois.

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