Segunda parte: o fogo

O pai respirou fundo antes de iniciar o movimento descendente e espetar a lâmina no próprio filho.

Ouça este artigo
00:00
02:16

Durante uma destila, já de madrugada, o medronho falou com voz de Deus ao Severo, e ele, depois de beber mais um copo e mais outro copo e mais outro copo e mais outro copo e mais outro copo, ouviu uma sarça-ardente a ordenar-lhe para subir ao monte e sacrificar o próprio filho. O Severo cambaleou até casa, pegou no Carlos que ainda só tinha meses de vida e ainda ninguém suspeitava de que um dia viria a ser chamado o urso, embrulhou-o com a aba do casaco e saiu com ele, subiu o monte, deitou-o numa pedra. O sol nasceu e inundou o campo de luz acabada de criar, o Severo tirou a faca com a qual matava borregos e levantou o braço. O menino agitou-se. O pai respirou fundo antes de iniciar o movimento descendente e espetar a lâmina no próprio filho.

Os leitores são a força e a vida do jornal

O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.
Sugerir correcção
Comentar