Jenni Hermoso exige medidas exemplares no caso Rubiales

Jogadora da selecção espanhola quebrou silêncio com comunicado emitido pelo sindicato e pela agência que a representa.

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Jenni Hermoso pede medidas exemplares Reuters/HANNAH MCKAY
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Jenni Hermoso quebrou nesta quarta-feira o silêncio para, num comunicado emitido pelo sindicato FUTPRO e pela agência que a representa, exigir medidas exemplares para os actos de Luis Rubiales, presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), no caso que manchou a festa do título de campeã do Mundo de futebol feminino, conquistado frente à selecção de Inglaterra, na Austrália.

Depois de alguns dias para assimilar os efeitos do ciclone provocado pela conduta do presidente da RFEF, com a espiral de indignação e a pressão vinda de quadrantes políticos e sociais a censurar o comportamento de Rubiales e a exigir a demissão, a jogadora assumiu, agora, a gravidade da situação.

O beijo não consentido pela futebolista na cerimónia de entrega das medalhas, amplificado pelo gesto grosseiro e ofensivo de Rubiales perante a rainha e a infanta de Espanha em pleno camarote, levou Hermoso a demarcar-se da tentativa de desvalorização do incidente e do posterior pedido de desculpas do presidente da RFEF para, finalmente, assumir uma posição clara e firme quanto aos abusos sexuais, como refere no comunicado difundido pelo sindicato.

“Pedimos à Real Federação Espanhola de Futebol que implemente os protocolos necessários, zele pelos direitos das nossas jogadoras e adopte medidas exemplares”, insta a FUTPRO, em coordenação com a agência TMJ, no documento em que se assumem como interlocutores de Jenni Hermoso.

“É fundamental que a selecção seja representada por figuras que protejam os valores da igualdade e do respeito. É preciso continuar a luta pela igualdade, que as nossas jogadoras têm liderado”, refere, alertando o Conselho Superior do Desporto para a necessidade de “apoiar e promover de forma activa a prevenção e intervenção em casos de abuso sexual, machismo e sexismo”.

Ao assumir esta posição — que encerra a tese de se tratar de um comportamento normal naquelas circunstâncias —, Hermoso terá dado a machadada final na continuidade de Rubiales à frente da RFEF, podendo levar à queda do líder antes mesmo da Assembleia Geral Extraordinária agendada para amanhã, marcada com carácter de urgência.

Desfecho que terá implicações na candidatura ibero-africana à organização do Mundial de 2030. O PÚBLICO contactou a Federação Portuguesa de Futebol (FPP), que não quis tecer qualquer comentário sobre o tema.

Depois da intervenção assertiva do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, a exigir, após audiência com o rei Felipe VI, uma postura exemplar do responsável da RFEF, torna-se insustentável a posição de Rubiales, que entretanto viu a Associação de Mulheres Juízas de Espanha (AMJE) avançar com pedido junto da RFEF de aplicação do protocolo de prevenção, detecção e acção contra o assédio e abuso sexual, pedindo a demissão imediata de Rubiales. Do ponto de vista penal, a questão do abuso e assédio sexual sublinhada no comunicado de Jenni Hermoso pode gerar novos e mais gravosos cenários para Rubiales, cujo comportamento representa um retrocesso na luta travada pela RFEF em prol da igualdade de géneros no desporto.

“Este caso mostra-nos que há um longo caminho a percorrer, até por se tratar de um país que está muito à frente nesta matéria, tendo pugnado e implementado a igualdade salarial das mulheres”, declara Leila Marques Mota, antiga atleta paralímpica na modalidade de natação nos Jogos de Atlanta1996, Sydney2000, Atenas2004 e Pequim2008 e actual vice-presidente do Comité Paralímpico de Portugal e coordenadora do grupo de trabalho para a igualdade de género no desporto.

Independentemente de haver quem aceite o beijo de Rubiales à luz de uma certa normalidade em momentos de euforia, como foi a conquista inédita do título mundial, Leila Marques Mota não vê qualquer exagero nas reacções mais contundentes, como a da ministra do trabalho, Yolanda Díaz, que só admite o cenário da demissão.

“Ainda há muito trabalho a fazer. O desrespeito pela jogadora é grave e tem que ser punido. As declarações posteriores só revelam ainda maior desrespeito”, sustenta, enfatizando a seriedade destas situações, a exigir “consequências e medidas efectivas e extraordinárias”, especialmente quando um governo não tem poderes para intervir directamente.

“A jogadora viu-se envolvida em algo que não desejava e está numa posição fragilizada, quando devia estar a desfrutar uma grande conquista e a preparar o futuro”.

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