Cartas ao director

Os rankings das universidades, o plano fiscal do PSD, o ambiente, o capitalismo e a corrupção vistos pelos nossos leitores.

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Ainda os rankings

Todos os anos sai mais um ranking Xangai e todos os anos temos manchetes a celebrar o número de universidades “entre as 500 melhores do mundo”. São apresentados resultados, mas sem qualquer análise que nos indique a razão por detrás desses resultados.

Porque é que a academia portuguesa não produz ou atrai detentores de prémios Nobel ou Fields Medal? Porque é que não temos investigadores com o maior número de citações na sua área de especialidade? Porque é que a ciência por cá produzida não entra para revistas como a Science ou Nature?

Todas estas são questões que deveriam levar a um sério debate e que deveriam ser colocadas aos reitores e à ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Só que os nossos jornalistas nunca o fazem. É incómodo mexer nestes temas, mas a retenção e a atracção de talento só podem acontecer com uma academia mais competitiva e mais introspectiva.
Miguel Galaz, Odivelas

A magia da oposição

Quando estudei Economia, se defendesse o que os líderes da oposição apregoam, era chumbo pela certa. Nem ia à oral! Defender o aumento significativo das verbas para Cultura, Saúde, Educação, Justiça e para tudo e mais um par de botas e ao mesmo tempo baixar os impostos sem aumentar a dívida pública é mais difícil do que Jesus fez na multiplicação do pão e do vinho. Não há aumento da produtividade que resista!

Nos últimos anos, Portugal tem conseguido reduções significativas na sua dívida, levando mesmo as empresas de notação financeira a melhorar o rating atribuído, reduzindo os juros a pagar. Apesar da melhoria registada, a dívida não desapareceu e é ainda equivalente ao que é produzido durante um ano em Portugal!

Para combater esta impossibilidade, a oposição avança com o argumento moral da corrupção. É óbvio que sem corrupção o país seria mais justo e mais saudável e, por isso, deve ser fortemente castigada. Contudo, fazer crer ou acreditar que desaparecendo o fenómeno tudo estaria sanado é um logro em que não devemos cair. Os problemas de Portugal são muito mais estruturais e profundos do que a corrupção que sempre existiu, que existe e sempre existirá para mal dos nossos pecados. A defesa, e reforço, do Estado Social que construímos é incompatível com as exigências dos liberais da nossa praça.
Helder Pancadas, Sobreda

Ambiente e capitalismo

A entrevista a Mark Stoll no PÚBLICO de 17 de Agosto sobre o seu livro “Lucro – Uma História Ambiental” configura-se de enorme pertinência e actualidade. Aliás, esta relação entre o ambiente e capitalismo pode considerar-se uma ideia intemporal desde o auge da Revolução Industrial. A resposta aos estímulos para o desenvolvimento e permanente inovação criou paradoxos como o da crise de 1929 que derivou de um colapso devido a excessos de produção sem a correspondente procura. A máquina do consumo tem-se afinado de tal forma que tem evitado outras crises idênticas embora já tenhamos estado bem perto. Nesta sequência, a população alinha nesses mecanismos que apontam para o consumo, mesmo que desnecessário, criando desequilíbrios ambientais irreversíveis. As atitudes a tomar terão de passar pela educação para o consumo não só para crianças como para adultos, pela regulação e pela consciência ambiental dos agentes da máquina produtiva.

Sabe-se que acções pedagógicas como estas dificilmente terão efeitos imediatos e eficazes pelo que muitas vezes emergem soluções drásticas e imponderáveis que poderiam ser evitadas se houvesse uma resposta mais pronta às primeiras.
José M. Carvalho, Chaves

Mentira, base da corrupção

Carmo Afonso escreveu no PÚBLICO: “André Ventura, o político mais mentiroso de sempre”. E sustentou a sua afirmação com factos. Não seria necessário, dada a evidente tendência desse político para imitar os melhores representantes da era pós-verdade.

No entanto, o texto tem a vantagem de nos pôr a reflectir sobre a seguinte questão: André Ventura tomou como bandeira política a luta contra a corrupção, mas não quer perceber que a corrupção não nasce por acaso.

A primeira característica de um corrupto é o ser mentiroso. Só a iliteracia moral e cívica é que não entende que a corrupção tem na sua origem a falta de carácter, a desonestidade mental, o não procurar seguir na vida a linha do “fio-de-prumo”.

A mentira, na sua essência, é já uma forma de corrupção: falsear a verdade. Aqui está a base de toda a corrupção, de toda a hipocrisia. E já, agora, convém lembrar: André Ventura anunciou ter escrito ao Papa pedindo perdão por não estar presente nas JMJ. Mas isso não é pecado, pecado é ser como os fariseus: acusar os outros daquilo que ele próprio pratica.
João Magalhães, Marco de Canaveses

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