Uma década de Nicolas Ghesquière: Louis Vuitton prova que há mais do que o monograma

A casa de luxo francesa apresentou a colecção pré-Outono em Seul, na Coreia do Sul. Destaca-se o trabalho minucioso de manipulação têxtil feita pelo director criativo.

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Desfile em Seul em Abril Cortesia da Louis Vuitton
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Desfile em Seul Cortesia da Louis Vuitton
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O francês Nicolas Ghesquière está na Louis Vuitton há uma década, mas é dos directores criativos mais discretos entre as principais casas de luxo. Prefere que a moda fale por si e, em ano de celebração, mostrou o expoente máximo da sua expressão artística na apresentação da colecção pré-Outuno, em Seul. “A atmosfera da Coreia do Sul fica-me bem”, confessa o designer, em declarações exclusivas para imprensa seleccionada.

O desfile já aconteceu em Abril, mas a colecção só começa a chegar às lojas no final de Agosto, incluindo a Lisboa. Foi apresentada na icónica ponte Jamsugyo, em Seul. “É um monumento vivo”, elogia Nicolas Ghesquière, que conta ter concretizado um sonho que tinha “há muito tempo”. A localização escolhida é, insiste, uma “passerelle genuína”.

Para a cenografia, digna de um filme, contou com a ajuda de Hwang Dong-hyuk, o realizador da aclamada série Squid Game, que projectou imagens a evocar os ciclos de água na gigante fonte da baía do rio Han. Contou ainda com a participação da modelo Hayeon Jung, que marcou o início do percurso de Ghesquière na casa-mãe do conglomerado de luxo LVMH.

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Nicolas Ghesquière no desfile em Seoul Cortesia da Louis Vuitton

Com a intenção de se apresentar aos sul-coreanos — naquela que compara a uma “viagem diplomática — e reafirmando a sua visão enquanto criador, quis celebrar os “arquétipos da maison”, trazendo os códigos utilizados nos acessórios em pele para a roupa. “É algo que tenho desenvolvido durante dez anos e que agora representa uma forte assinatura”, reconhece Nicolas Ghesquière.

Como resultado, a colecção é um misto de referências entre tecidos, cortes, bordados e estampados, comuns ao “léxico” da Louis Vuitton (LV) e do homem do leme. “Elementos desportivos, claro, que têm sido das minhas inspirações favoritas, combinados com o classicismo francês”, explica. Exemplo perfeito é o coordenado de abertura com uma saia de corte em A em pele, combinada com um casaco desportivo estilo bomber e umas botas de estilo militar. “Uma silhueta dinâmica”, define.

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Cortesia da Louis Vuitton

E se as silhuetas são “dinâmicas”, sem inovar especialmente, é nos detalhes que está o luxo do trabalho de Nicolas Ghesquière. “Alguns dos meus exercícios favoritos incluem levar as técnicas ao limite e transformar materiais”, observa. Isso nota-se nesta colecção, em que há malhas modificadas, vinil rachado, efeitos com tweed, pêlos falsos e bordados que se transformam em padrão floral. Enfim, é um festim de manipulação têxtil.

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Modelo Annemary Aderibigbe com styling de Marie-Amélie Sauvé Cortesia da Louis Vuitton
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Anouk Smits com styling de Marie-Amélie Sauvé Cortesia da Louis Vuitton

Apesar de manter o reconhecível xadrez da casa, Nicolas Ghesquière não vive à sombra dessa identidade visual e não tem medo de a desconstruir ou colorir, dando-lhe uma nova roupagem. Por vezes, em marcas como a LV, os directores criativos correm o risco de estar constantemente a repetir as mesmas fórmulas e símbolos, por serem sinónimo de sucesso comercial.

Huyn Ji Shin Cortesia da Louis Vuitton
Cortesia da Louis Vuitton
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Huyn Ji Shin Cortesia da Louis Vuitton

Um legado de acessórios

Ghesquière aproveitou ainda para reavivar alguns dos ícones na linha de acessórios da marca. É o caso da mala Atlantis, que volta em novos materiais e (claro) com o monograma da marca. Não faltam também outros elementos como os óculos de sol ou os cintos.

De lembrar que a linha de acessórios é o que traz maior rentabilidade às casas de moda de luxo, em especial numa etiqueta como esta casa parisiense, com um passado ancorado nas malas. Fundada em 1854, pelo jovem Louis Vuitton, a casa era inicialmente especializada em comércio, ou seja, todos os materiais necessários para essa profissão, de caixas a bagagens. Foi ali que se revolucionaram as fechaduras das malas de viagem, com um engenhoso sistema que permitia maior segurança. O icónico monograma nasceu em 1896, pelas mãos de Georges Vuitton, numa homenagem ao pai.

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Cortesia Louis Vuitton
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Mala Atlantis Cortesia Louis Vuitton

Só no século XX é que a marca começa a fazer malas de mulher, sobretudo a partir dos anos 60 e 70, quando surgem as primeiras Speedy. De assinalar, na história da Louis Vuitton, a passagem de Marc Jacobs pelo cargo de director criativo, de 1997 até 2013. O norte-americano trouxe uma nova vida ao monograma e contribuiu para criar magia à volta da maison, sobretudo graças às supermodelos de então, como Naomi Campbell ou Kate Moss.

A linha masculina da marca ganhou outro fôlego em 2018, com a chegada de Virgil Abloh. Com ele, a LV entrou na era do streetwear e a linha de acessórios conquistou protagonismo. Agora, esse trabalho é continuado pelo músico e criador Pharrell Williams.

Annemary Aderibigbe com styling de Marie-Amélie Sauvé Cortesia de Louis Vuitton
Anouk Smits com styling de Marie-Amélie Sauvé Cortesia de Louis Vuitton
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Annemary Aderibigbe com styling de Marie-Amélie Sauvé Cortesia de Louis Vuitton

Quando se elege um novo director criativo, já não importa apenas o talento para a moda, mas também a capacidade de atrair atenção mediática e Williams é a prova disso. Já Nicolas Ghesquière joga noutra liga e assim se prevê que continue.

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