Cartas ao director

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A jusante dos resultados eleitorais em Espanha

O crescimento da extrema-direita é proporcional ao excesso de tolerância e oportunismo concedidos pela governação democrática moderada. A gestão da imigração e a corrupção são dos indicadores que mais influenciam aquele equilíbrio político. Apesar de enormes diferenças entre Portugal e Espanha no desenvolvimento global, pode detectar-se algumas semelhanças naqueles aspectos. Por isso, a dinâmica política dos resultados das eleições em Espanha deve servir como premonição daquilo que poderia acontecer em Portugal. Os espanhóis manifestaram a vontade de debelar moderadamente os abusos da democracia, conferindo essa legitimidade ao PP e retirando-a do Vox por ser demasiado radical e não penalizando demasiado o PSOE. Também sabem que as maiorias são arriscadas. Evidencia-se assim a maturidade eleitoral de nuestros hermanos.

José M. Carvalho, Chaves

Antigos combatentes exigem respeito

É sabido que o regime democrático pós 25 de Abril conviveu mal com os Antigos Combatentes da Guerra do Ultramar. Após anos ignorando aqueles que deram a vida pela pátria, ao contrário do que fez Portugal com os Antigos Combatentes da Grande Guerra e ainda fazem as nações civilizadas, tudo parecia alterar-se com o prometido Estatuto do Antigo Combatente aprovado pela Assembleia da República em 2020. Mas, afinal, cedo se revelou um documento vazio, sem conteúdo prático, muito distante das justas reivindicações dos antigos combatentes.

Até 136.000 cartões de antigos combatente estão retidos no Ministério da Defesa, o que é inacreditável. Um autêntico flop! Fartos de esperar os antigos combatentes anunciaram em manifestação realizada no Porto no passado dia 22 de Julho que vão avançar com greve de fome, a partir do próximo dia 20 de Agosto, junto ao Palácio de Belém, a exigir que sejam respeitados. Concordo e estou solidário. Espero que o Governo não faças de orelhas moucas.

Manuel Amial, Vila Praia de Âncora

Conselho de Estado

O funcionamento do Conselho de Estado deixa-me um pouco perplexo. No meu entendimento os conselheiros devem ser intelectualmente sérios, competentes e capazes de aconselhar o Presidente da República com isenção. O que se passa é que os doutos conselhos dos personagens estão sempre contaminados pelos interesses da área política donde são provenientes. Vidé intervenções de Cavaco e Cadilhe na última reunião. Há excepções que só confirmam regra.

O funcionamento do Tribunal Constitucional também não difere muito do exposto atrás. Preocupante a forma como é aceite este funcionamento de dois órgãos de relevante importância, e nenhum órgão de comunicação social o trate.

Octávio Senos Miranda, Lisboa

Insultos e discurso de ódio

O jornal PÚBLICO no seu questionário Proust tem feito questão de fazer esta pergunta: “Tem noção da época em que os homens homossexuais deixaram de ser chamados “maricas”?” É só homofobia na formulação ou há motivos ulteriores para publicar um insulto? As razões editoriais para publicar um insulto racista, por exemplo, devem ser cuidadosamente ponderadas, apesar de ainda infelizmente termos o desprazer de assistir a esse assalto aos valores democráticos, que é o racismo, sobretudo na sobre-excitação do foco mediático em reacção pavloviana à extrema-direita em assinalar qualquer declaração que permita mais clicks.

Esperamos que sobre insultos homofóbicos ou transfóbicos haja a capacidade crítica e a vigilância da parte de jornalistas, para não violentar grupos sociais já estigmatizados na sociedade portuguesa. No entanto, quando nem o PÚBLICO abdica de usar esta formulação num questionário de Verão, incluindo quando entrevista pessoas gays e lésbicas, podemos interpretar como um desejo de angariação de um conjunto de leitores homofóbicos a quem esse apodo possa agradar? E mais, e para quem lê e assina habitualmente o PÚBLICO e se possa sentir ofendido/a pela formulação, o que o PÚBLICO pode fazer? Ou a liberdade de expressão é também aqui entendida como a piada que a extrema direita a tornou: o direito inalienável a produzir discurso de ódio sobre grupos socialmente vulneráveis?

João Manuel de Oliveira, investigador/a em estudos de género, ISCTE-IUL

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