Esta discoteca móvel põe-te a dançar para sacudir a tristeza — e pode vir a Portugal

Há muitas formas de lidar com a tristeza e com o luto. A artista britânica Annie Frost Nicholson criou a Fandangoe Discoteca para ajudar a passar por momentos difíceis a dançar.

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A Fandangoe Discoteca pode passar em Portugal Joe Clark Photography
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As cores vivas marcam esta mini disco Joe Clark Photography
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No interior cabem até oito pessoas Joe Clark Photography
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É uma minidiscoteca onde cabem, no máximo e confortáveis, oito pessoas. Vai receber DJ sets, claro, mas também sessões de meditação, workshops de yoga, aulas de dança e “raves da dor”, momentos em que os participantes podem pedir músicas que os façam recordar pessoas que já partiram ou ex-namorados, por exemplo.

A Fandangoe Discoteca é​ o novo projecto da artista britânica Annie Frost Nicholson (e o último sob o alter-ego de Fandangoe Kid, uma alcunha de infância) e vai estar no bairro londrino Canary Wharf de 26 a 30 de Julho, antes de partir em digressão pelo Reino Unido e pela Europa.

Pode parecer uma festa triste, mas a ideia é dar oportunidade para expressar todas as emoções na pista de dança, um espaço seguro. Assim, as playlists personalizadas podem incluir sons nostálgicos que “te recordem alguém ou alguma coisa que perdeste” — e isto pode ser um luto, o fim de uma relação, um divórcio ou uma outra mudança. Também podes optar por uma batida forte e deitar tudo cá para fora, descreve a criadora em resposta ao P3, por email. Todas as formas de expressão são bem-vindas.

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Annie Frost Nicholson Joe Clark Photography

Esteticamente, a discoteca colorida que nasceu em colaboração com o Loss Project, um colectivo que se dedica a explorar o tema da dor e do luto, foi inspirada no movimento artístico De Stijl, em particular, no arquitecto e designer antiminimalismo Ettore Sottsass. Os tons rosa e vibrantes dão agora uma nova vida ao antigo quiosque.

Quanto a uma possível passagem por Portugal, Nicholson admite que o país "é uma segunda casa". A família da artista viveu perto de Olhão, Faro, durante 30 anos. "Temos muitas memórias colectivas de família lá, algumas das melhores e mais queridas recordações que guardo", diz. Assim, trazer este projecto para Portugal seria um sonho "numa dimensão muito pessoal e catártica".

O tema do luto e da dor é frequente nas criações de Annie Frost Nicholson, 39 anos, que perdeu "praticamente toda a família" num acidente de helicóptero, em 2011. O quiosque para dançar é o último projecto da artista sob a alcunha de infância que a ajudou a voltar a fazer arte e a "processar o luto" depois do trauma da perda da família.

Desde que saiu da faculdade de Artes e Design Gráfico de Londres, em 2009, a artista cria instalações que têm ocupado diferentes espaços públicos. No período pós-pandemia, em 2021, a carrinha de gelados Fandangoe Whip percorreu as ruas do Reino Unido a distribuir gelados (e terapia colectiva) depois de um crowdfund bem-sucedido. Pelo caminho, encorajava a falar-se sobre "o luto e a surrealidade no centro de 2020", "experiências universais que nos unem, em vez de todas as coisas que nos separam".

Quase sempre, as instalações artísticas são acompanhadas de programas complementares que põem pessoas a discutir temas muitas vezes evitados em conversas com amigos e família.

Na mesma linha, a artista que vive em Londres criou a Fandangoe Skip, um quiosque pela saúde mental que esteve em Londres e em Nova Iorque no ano passado. Recebeu mais de 200 mil visitantes e mereceu um documentário da BCC. Através destes trabalhos, "procura esmagar tabus à volta das nuances complexas da condição humana" e espelhar "preocupações sobre a vida, a morte, o luto e todas as suas permeabilidades".

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