Como descarregar o Threads em Portugal — e o que ter em conta antes de o fazer

A nova aplicação da Meta, rival do Twitter, não está disponível na União Europeia. Contudo, é possível aceder ao Threads a partir de Portugal e já há quem o tenha feito.

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Threads EPA/CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH
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O Threads foi lançado a 6 de Julho, é conhecido como o Twitter da Meta e não está disponível nos países da União Europeia (por boas razões).

O acesso à app nos 27 países membros da UE foi adiado por causa de incertezas quanto ao Regulamento dos Mercados Digitais (RMD), um pacote legislativo que regula o poder de mercado de plataformas online e que inclui cláusulas sobre a partilha de dados entre plataformas. O Threads partilha as contas e dados de utilizadores com o Instagram, também da Meta, sendo essa uma barreira imediata. A política de privacidade da rede social refere também que dados relacionados com a identidade de género, crenças políticas, etnia, raça e informações de emprego podem ser partilhadas com terceiros.

Segundo António Pinto, investigador em Ciência de Computadores ​do INESC-TEC, a Meta "requer muitos acessos" a informações que depois usa para "criar um perfil". Para isso, acede a dados como a localização, o número de telemóvel, historial de pesquisas e até mesmo as crenças religiosas e orientação sexual do utilizador. O professor de cibersegurança afirma que existe uma recolha de "demasiada informação".

Threads com VPN

No entanto, existem formas legais de contornar essa restrição, nomeadamente com o uso de VPN.

Uma VPN (uma rede privada virtual) garante a protecção da identidade e dos dados do utilizador online. Esta protecção é assegurada pela criação de uma rede privada que esconde o endereço de IP real, o que significa que toda a actividade é segura e difícil de rastrear.

O também professor de cibersegurança do Politécnico do Porto explica que esta é uma ferramenta que pode ser utilizada caso uma pessoa queira "aceder a um serviço disponível só nos EUA", por exemplo. O que a aplicação faz é "esconder a nossa origem real", para que a região do utilizador não seja localizável e assim ser possível aceder a conteúdo que não esteja disponível no país.

Esta é uma alternativa legal e existem múltiplos serviços de VPN a que os utilizadores podem aceder. No entanto, no caso do Threads, é uma opção que pode nem ser necessária já que "não há um bloqueio de região" por parte da aplicação da Meta, explica António Pinto, que rapidamente fez download da app em Portugal. Isto significa que, desde que se tenha acesso aos ficheiros de instalação disponíveis online, é possível instalar a aplicação num telemóvel Android, criar uma conta com o Instagram e usá-la normalmente. O "controlo feito para impedir o acesso" por parte de países membros da UE é exclusivamente feito ao "não disponibilizarem a aplicação na Google Play".

Threads com APKs (para Android)

Para utilizar o Threads, o investigador deu o exemplo do site APKMirror, um "site alternativo que deixa fazer download de aplicações, onde o ficheiro de instalação já se encontra disponível". O APKMirror não é uma loja oficial como a PlayStore, uma vez que não são os próprios programadores a colocar as aplicações no site. No entanto, disponibiliza apenas aplicações gratuitas e, segundo o próprio site, segue as disposições da lei dos direitos de autor dos EUA, a DMCA (Digital Millennium Copyright Act), e permite que os programadores possam aplicar uma notificação de violação de direitos autorais, caso não queiram que o conteúdo permaneça na plataforma.

Segundo Nuno Silva, professor de Direito na Universidade Católica do Porto, sites que oferecem este tipo de conteúdo, conhecido por APKs (Android Package Kits), "não são proibidos pelo Estado". No entanto, "ser gratuito ou não, é irrelevante", explica o docente, visto que não altera o facto de poderem estar a violar os direitos de autor. Quanto à sua utilização para aceder ao Threads, Nuno Silva afirma que não vai contra as restrições impostas à rede social, dado que foram os "próprios utilizadores a optar" por usar a plataforma.

Já foi registada a utilização de outros APKs para aceder à nova rede social a partir de território da União Europeia. Segundo a Bloomberg, jogadores de futebol como Eduardo Camavinga, clubes como o RB Leipzig e até mesmo o jornal Le Monde e a agência de notícias francesa AFP já têm perfis criados no Threads.

"Os nossos seguidores são todos franceses, não é complicado conseguir a aplicação", disse à Bloomberg Mickaël Frison, responsável pelas redes sociais do jornal francês Libération. "É uma questão de dias ou semanas até que os políticos comecem a aderir, se a discussão acontecer lá."

Texto editado por Renata Monteiro

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