Threads, a rede social de Zuckerberg que irrita Elon Musk e quer ser um novo Twitter com espírito de Instagram

Em sete horas, a nova rede social da Meta tinha tantos utilizadores como Portugal tem habitantes. Threads quer rivalizar com o Twitter e já está a ser criticada por Musk. Mas ainda não chegou à UE.

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Threads não tem data de lançamento no território da União Europeia Reuters/DADO RUVIC
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É a irmã mais nova do Facebook, do Instagram e do WhatsApp; e já tem tantos utilizadores quanto Portugal tem habitantes. Em poucas horas, o Threads já está a agitar as águas do mundo tecnológico: somou dois milhões de contas em duas horas. Quatro horas depois do lançamento, eram já cinco milhões. Ao fim de sete, tinham duplicado para 10 milhões.

A nova rede social, lançada à meia-noite desta quinta-feira — 15 horas antes do previsto inicialmente — está a ser uma fonte de tensões entre dois titãs das redes sociais: Elon Musk e Mark Zuckerberg. É que o Threads pertence ao gigantesco universo da Meta, que o último lidera, e promete rivalizar com o Twitter, propriedade do dono da SpaceX.

Ao longo dos últimos dois dias, Elon Musk tem alertado que o Threads pode recolher uma longa lista de dados pessoais dos utilizadores, que inclui a localização, compras efectuadas online, informações dos contactos pessoais, o histórico de pesquisas e informação financeira.

Mark Zuckerberg nunca respondeu directamente às críticas de Elon Musk, mas revelou os planos para a nova rede social numa publicação no blogue da Meta: Threads será "um espaço positivo e criativo para expressar ideias" através de "conversas positivas e produtivas".

Threads não entra na UE por causa da protecção de dados

Tudo isto está a acontecer longe dos telemóveis em território da União Europeia porque, segundo o Politico, a Meta teme que os termos e condições para a utilização do Threads — nomeadamente a recolha de dados que exige para funcionar — não obedeçam aos regulamentos de protecção de dados no espaço comunitário.​

Isso mesmo foi confirmado por Adam Mosseri, chefe do Instagram, quando explicou que a Meta não poderia esperar pela aprovação de Bruxelas sob pena de adiar por demasiado tempo o lançamento da nova rede social. Por isso, pelo menos por enquanto, o Threads está disponível na Google Play Store e na App Store — mas só em 100 países.

É uma cobertura suficiente para conquistar alguns dos nomes mais sonantes do mundo das celebridades. Segundo a própria Meta, entre as 10 milhões de contas na nova rede social estão as da cantora colombiana Shakira, do chef de cozinha Gordon Ramsey e o actor norte-americano Jack Black. Marcas como a Billboard​, HBO e Netflix também já estão na plataforma.​

Uma das presenças mais significativas no Threads é a da National Public Radio, que saiu do Twitter em Abril após ter sido rotulada com a etiqueta "imprensa afiliada do Estado". Esta é efectivamente a rádio pública norte-americana, mas essa indicação costuma ser utilizada apenas em meios de comunicação social cujo conteúdo editorial é controlado pelo Governo.

À imagem do Twitter, com o espírito do Instagram

Uma das críticas mais contundentes ao Threads é a semelhança da plataforma à rede social com que pretende rivalizar — o Twitter. O tema até já originou memes (imagens humorísticas na internet), com um utilizador do Twitter a reagir ao lançamento da nova rede social com uma imagem de três teclas de computador: "Ctrl", "C" e "V", necessárias para copiar e colar um conteúdo. A piada conquistou a atenção de Elon Musk, que reagiu com o emoji que simboliza o acto de chorar a rir.

Mas o espírito por detrás do Threads continua a ser o do Instagram, onde foi desenvolvido. "A nossa visão com o Threads é pegar no que o Instagram faz melhor e expandir isso para o texto", descreveu a Meta: "Assim como no Instagram, pode seguir e conectar-se com amigos e criadores que compartilham os mesmos interesses – incluindo as pessoas que já segue no Instagram, mas também outras".

A própria criação de uma conta no Threads faz-se através do perfil do Instagram, embora as informações que lá constam possam ser modificadas. Todas as contas de proprietários com menos de 16 ou de 18 anos (depende da maioridade definida em cada país) serão necessariamente privadas — depois dessa idade, essa definição também pode ser alterada.

Assim como no Twitter, há um limite de caracteres para cada uma das mensagens: podem até ter 500 caracteres (um quarto do limite estipulado desde Fevereiro na rede social de Elon Musk) e incluir links, fotografias e vídeos com até cinco minutos. As publicações do Threads também podem ser partilhadas directamente nas histórias do Instagram ou, a partir de um link, em qualquer outra rede social.

Ainda na lógica do funcionamento do Instagram, é possível controlar no Threads quem menciona o seu perfil ou pode responder às suas publicações, deixar de seguir, bloquear, restringir ou denunciar terceiros e filtrar conteúdos que tenham palavras ou expressões específicas.

Em breve, será possível tornar o Threads compatível com o ActivityPub, o protocolo aberto de rede social estabelecido pelo Consórcio da World Wide Web (W3C) que permite ao conteúdo publicado ser interoperacional com plataformas como o WordPress — a ligação ao Mastodon é uma possibilidade.

Até lá, a Meta quer continuar a apostar nesta "abordagem descentralizada", em que várias pessoas estão ligadas em rede, mas podem interagir em plataformas diferentes, de acordo com a linguagem digital que consideram mais adequada para as suas partilhas — fotografia, texto ou vídeo. É uma filosofia "à semelhança dos protocolos que governam o email e a própria web" e que, para a Meta, "desempenhará um papel importante no futuro das plataformas online".

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