O objecto ridículo

Talvez para libertar o azedume, decidiu finalmente ir falar com o vizinho que era quase polícia.

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A Esperança abriu a arca onde se guardou a roupa da mãe na expectativa de, com um arranjo ou outro, servir-lhe um dia. Encontrou um livro no bolso de um avental. Pegou nele com receio. Lembrou-se das muitas vezes em que, quando entrava sem bater no quarto dos pais, a mãe escondia apressadamente o livro que estava a ler, com o desconcerto do gesto nervoso, pois poderia ter sido o pai a entrar no quarto e lhe desse uma tareia por estar ali a não fazer nada quando havia roupa para engomar e bainhas para coser e o pó para limpar. A Esperança olhou para a capa do livro. Será que o pai a castigaria caso a visse segurar num livro, mesmo que não o estivesse a ler, mesmo não sabendo ler? Não fazia ideia, o melhor seria guardá-lo na arca, esquecer aquele objecto ridículo, que não servia para nada senão para apanhar uma sova.

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