Um Europeu sem os melhores, mas com os melhores possíveis

Tal como já aconteceu em outras competições, Rui Jorge não pode recorrer a todos os melhores jogadores elegíveis.

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Rui Jorge, seleccionador nacional de sub-21 EPA/Igor Kupljenik
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Em rigor, o Europeu de sub-21 com organização partilhada pela Roménia e pela Geórgia não limita a idade dos jogadores participantes nos 21 anos – são elegíveis todos os jogadores nascidos a partir de 1 de Janeiro de 2000, para que todos os que participaram na qualificação tenham sempre a possibilidade de estarem na fase final. Isto quer dizer que neste Europeu podem estar jogadores de 23 anos, já com muita rodagem no futebol sénior – Erling Haaland, por exemplo, seria elegível para estar no ataque da Noruega, que bem precisou dos seus golos. Mas o ponta-de-lança do Manchester City já está noutro patamar competitivo, ele e muitos outros sub-23 do futebol europeu.

É com estas e outras limitações que Rui Jorge e os outros 15 seleccionadores presentes neste Euro sub-21 têm de fazer o seu trabalho. Olhando para a selecção portuguesa, que tem tido uma carreira sofrível neste Europeu e que enfrenta, neste domingo, a Inglaterra por um lugar nas meias-finais (17h, RTP1), podia ter outros jogadores? Sim, mas a selecção de sub-21 já não é o espaço para jogadores como António Silva (Benfica), Gonçalo Inácio (Sporting) e Vitinha (PSG), só para falar dos três sub-23 que estiveram na última convocatória de Roberto Martínez para os AA.

Nem para Gonçalo Ramos, ponta-de-lança titular do Benfica campeão em 2022-23, ou Nuno Mendes, lateral-esquerdo do milionário PSG. João Mário, o lateral-direito de eleição de Sérgio Conceição no FC Porto há três épocas, e Fábio Vieira, médio do Arsenal, podiam estar aqui e seriam mais-valias, mas chegaram ao final da época lesionados. Nesta selecção, está apenas um jogador com rodagem na selecção principal, Pedro Neto, extremo do Wolverhampton que tem sofrido muito com lesões nas duas últimas épocas, vendo assim travada a sua evolução nos AA.

Portugal está entre as selecções com menos jogadores internacionais na selecção principal, mas não é a que tem menos – Croácia e República Checa não têm nenhum. Para além de Portugal, também a Inglaterra tem apenas um que já esteve na equipa principal, Emile Smith-Rowe, médio-ofensivo do Arsenal – e se tivesse todos os seus craques sub-23, como Bukayo Saka (Arsenal), Jude Bellingham (Real Madrid) ou Phil Foden (Manchester City), seria ainda mais favorita.

No pólo oposto, as selecções que mais “abusam” dos seus jovens internacionais A são a Geórgia – 11, sendo que nenhum deles é o craque do Nápoles, Kvicha Kvaratskhelia, que nasceu em 2001 – e a Itália – oito já foram chamados por Mancini aos “azzurri” mais crescidos. Os georgianos beneficiaram imensamente de terem uma selecção com rodagem internacional, passando aos “quartos” em primeiro do grupo e sem derrotas, enquanto os italianos, com tantos craques da Série A, ficaram-se pela fase de grupos.

Rui Jorge, que está há 12 anos no cargo e que está a cumprir o seu quarto Euro da categoria como treinador, sabe que a selecção a seu cargo não é um fim em si mesmo, mas um ponto intermédio e que nem todos precisam de passar por ele.

“A prioridade é outra. A partir do momento em que esses jogadores estão num patamar superior e quando temos outros que podem estar aqui, preferimos abrir a porta a esses jogadores que dificilmente teriam essa oportunidade”, explicou Rui Jorge no dia em que anunciou a convocatória final.

Andamento de Premier League

A selecção dos três “leões” pode não ter os jogadores mais destacados desta geração, como Saka, Foden ou Bellingham, mas mais de metade da equipa (13 dos 23 convocados) passou 2022-23 na Premier League, e muitos deles com utilização constante. Como Jacob Ramsey, médio do Aston Villa, que está já na antecâmara dos AA, um dos protagonistas da excelente época da equipa de Birmingham, Harvey Elliott, médio do Liverpool e aposta recorrente de Klopp, Levi Colwill, defesa emprestado pelo Chelsea ao Brighton, ou Ben Johnson, defesa polivalente do West Ham.

Curiosamente, nenhum dos três guarda-redes tem experiência na Premier League, sendo que o titular neste Euro sub-21, James Trafford passou 2022-23 na League One, emprestado pelo Manchester City ao Bolton. É um dos três que passaram a época na terceira divisão, sendo que cinco estiveram no Championship e dois actuaram em clubes fora de Inglaterra – Angel Gomes no Lille, Jarrad Branthwaite no PSV Eindhovem, por empréstimo do Lille.

Na selecção portuguesa, nove dos 23 convocados por Rui Jorge jogaram fora de Portugal parte ou a totalidade da época passada, alguns com mais utilização que outros – Francisco Conceição, por exemplo, foi quatro vezes titular no Ajax e 15 vezes suplente utilizado; entre os que tiveram mais rodagem no futebol internacional, André Almeida, médio formado no Vitória de Guimarães e titular indiscutível do Valência.

Entre os restantes 14, uma boa parte teve papel importante em várias equipas da I Liga, como Alexandre Penetra, central do Famalicão, Bernardo Vital, central do Estoril, Leonardo Lelo, lateral do Casa Pia, ou João Neves, que ganhou espaço no meio-campo do Benfica na fase final da época. Mas muitos outros tiveram a sua época competitiva nas equipas B e/ou sub-23, como os benfiquistas Samuel Soares e Diego Moreira ou os portistas Francisco Meixedo e Vasco Sousa.

Na antecipação do jogo com os ingleses, para o qual a selecção portuguesa se apresentará na máxima força, Rui Jorge reconhece que a fasquia está muito alta devido a anteriores participações portuguesas no torneio (finalista em 1994, 2015 e 2021), mas que os seus jogadores têm sido “bravos”: “A grande responsabilidade que estes jogadores enfrentam é esse passado de qualidade de jogo e acho que isso os tem penalizado em relação à sua prestação aqui. Eles têm sido bravos, têm sido altamente solidários e têm lutado imenso, com muito coração.”

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