Portugal na corrida global pela indústria tecnológica verde

O interesse por investimento industrial verde nunca foi tão grande e influente nas relações globais de comércio. Portugal tem condições privilegiadas e deve aproveitar esta vaga de investimento.

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Portugal tem, como poucos países, acesso privilegiado a eletricidade e hidrogénio verde de baixo custo, e as maiores reservas confirmadas de lítio da Europa. A utilização estratégica destes recursos para investimento industrial tecnológico no país constitui uma oportunidade para impulsionar o perfil da economia portuguesa e contribuir para uma maior coesão europeia.

O interesse por investimento industrial verde nunca foi tão grande e influente nas relações globais de comércio. Aos subsídios apelativos do Inflation Reduction Act (IRA) dos Estados Unidos da América, a União Europeia (UE) respondeu com o Plano Industrial do Pacto Ecológico. Estimativas indicam que o IRA poderá gerar investimentos em indústria tecnológica verde de 1700 mil milhões de dólares nos próximos dez anos. Ao nível europeu, prevê-se um volume de investimento público de 570 mil milhões de euros. Esta vaga de investimento com elevado perfil de inovação criará novas fileiras de atividade industrial e milhares de empregos na produção das soluções necessárias à ação climática global.

Portugal tem condições privilegiadas e deve aproveitar a oportunidade desta vaga de investimento na indústria tecnológica verde. A par com Espanha, Portugal será provavelmente o país com preços mais baixos de eletricidade e hidrogénio verde a longo prazo na UE. É também o país com maiores reservas de lítio confirmadas na Europa. Apresenta-se também com elevados níveis de mão-de-obra qualificada - especialmente em áreas CTEM - e com uma forte orientação para a inovação.

O contexto global de forte investimento em indústria tecnológica verde coloca Portugal numa excelente posição para utilizar os seus recursos para impulsionar o seu perfil económico. A utilização de hidrogénio verde para produção de aço verde poderá gerar cinco vezes mais impacto económico e centenas de empregos face à sua exportação. Poderá também atrair outras cadeias de valor estratégicas, como a indústria de veículos elétricos ou de eólica offshore. No caso do lítio, apenas as reservas de uma das potenciais minas em Portugal (Minas do Barroso) serão suficientes para fornecer a produção de automóveis elétricos correspondente ao triplo da produção da Autoeuropa.

A E3G publicou recentemente uma análise sobre as oportunidades e barreiras para o investimento industrial verde em Portugal. Neste trabalho são apresentadas as seguintes recomendações para que as condições privilegiadas de Portugal possam alavancar investimento industrial verde:

Em primeiro, Portugal deve integrar a política de recursos com uma estratégia industrial (verde) a qual deve incluir as prioridades estratégicas de investimento, os recursos de financiamento a mobilizar, as metas de incorporação em determinadas cadeias valor (ex: aço verde no próximo leilão de eólico offshore) e uma estrutura sólida de governação.

Em segundo, melhorar o atual quadro de investimento do lítio, garantindo que beneficia as comunidades locais através de investimentos na cadeia de valor de baterias a nível regional, e cumprindo rigorosos requisitos ambientais. Refira-se que o novo quadro europeu de ajudas de Estado permite aumentar o apoio público a investimentos na produção de baterias em regiões mais desfavorecidas, como é o caso daquelas em que se situam os recursos de lítio em Portugal.

Em terceiro, maximizar a utilização de fundos europeus para apoiar o desenvolvimento destas novas cadeias de valor, tendo em conta a sua natureza estratégia e o seu potencial de transformação económica, em linha com a intenção manifestada pelo Governo português.

Por fim, ao nível europeu, é necessário reforçar o pilar de financiamento do Plano Industrial do Pacto Ecológico, compensando assim as diferenças de disponibilidade orçamental entre Estados-Membros na atração de investimento.

Portugal tem vantagens significativas no acesso a recursos estratégicos necessários ao desenvolvimento de indústria tecnológica verde. O aproveitamento deste potencial poderá significar um importante impulso no esforço de convergência de Portugal com os países mais prósperos da UE.

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