Cartas ao director

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Paula Santos vs Roberta Metsola

Paula Santos, líder do grupo parlamentar do PCP, perguntou a Roberta Metsola, presidente do Parlamento Europeu, se não se sentia incomodada por andar a assassinar a população e o povo da Ucrânia. Depois de ler e reler esta pérola política, para me certificar de que não me tinha enganado, e se Paula Santos está efectivamente na posse de todas as suas capacidades mentais, só posso concluir o seguinte: se tivesse viajado no tempo e vivesse durante a guerra da independência, Paula Santos teria apoiado os Filipes e Miguel de Vasconcelos... Caso tivesse aterrado na época das invasões francesas, para evitar mortes de portugueses resistentes, teria facilitado a vida aos generais ao serviço de Napoleão. Voltando à actualidade, deduzo que se a Rússia decidir invadir os países agora independentes que faziam parte da URSS, a jovem deputada apelará à não violência e à serenidade dos povos invadidos.

Helder Pancadas, Sobreda

A praga do "portinglês"

Sabemos que a linguagem molda o pensamento. Não é indiferente, por conseguinte, o modo como se escreve, reflectindo inevitavelmente uma visão do mundo. Vem isto a propósito da crescente “canibalização” do português pelo inglês, de que resulta um insuportável colonialismo linguístico. À semelhança das ervas daninhas, que sufocam tudo à sua volta, a praga do “portinglês” polui a paisagem mediática. Assim sendo, multiplicam‑se alarvemente os anglicismos semânticos. Vejamos alguns: com o sentido de prova, “evidência”; com o de crucial, “crítico”; com o de humano, “humanitário”; e, ainda, com o de intensificar/aumentar, “escalar”. É por isso que circulam impunemente os mais aberrantes sintagmas da lusa língua. Ei‑los: “evidência científica” (incrível oximoro!); “infra‑estruturas críticas” (perigosas?!); “crise humanitária” (crise?); e (como é possível?) “escalar o conflito”. Até quando, perguntar‑se-á, teremos de aturar tal rol de contra‑sensos? Haja paciência!

Eurico de Carvalho, Vila do Conde

Imitação<_o3a_p>

Sabemos que a espécie humana evoluiu a partir do pressuposto da imitação. A linguagem humana começou a partir da repetição dos sons emitidos pelos outros animais. As primeiras palavras de uma criança não são mais do que a repetição dos sons emitidos pelos seus pais. A uma determinada altura do desenvolvimento de uma criança, ela imita tudo o que os pais ou os irmãos mais velhos fazem. O desenvolvimento do nosso cérebro é feito a partir da repetição daquilo que vemos e ouvimos. Este pressuposto nunca deixa de estar presente ao longo da nossa vida. Daí termos países completamente diferentes uns dos outros em todos os níveis, desde a linguagem aos costumes, à cultura, à religião, ou seja, sociedades diferentes. Cada sociedade “produz” cidadãos de acordo com aquilo que lhes apresenta. Daí a importância extrema da natureza humana das pessoas que ocupam os mais altos cargos das sociedades. Só vamos conseguir mudar e melhorar o mundo se conseguirmos encontrar uma forma de eleger as melhores pessoas para os principais cargos dos diferentes países.

Miguel Xavier Sequeira, Lagos

Carta sobre o editorial "O direito à família"​

Há cerca de 30 anos, após o nascimento da nossa filha, considerei "dar-lhe" um irmão/irmã pela via da adopção. Dados os passos iniciais, esbarrei contra uma parede de burocracia, que pressupunha uma invasão incrível de privacidade em conjunto com uma infantilização dos adoptantes, a que acrescia um prazo de anos para o processo, não sendo candidatos à santidade desistimos. Recentemente, considerei acolher uma criança ucraniana. De novo o mesmo tipo de processo...

Sob a pressão das imagens de sofrimento do povo ucraniano, fui cumprindo as várias fases do processo. Pelo caminho descobri um regime legal (e digo-o sem ironia) a que me parece que só dois tipos de pessoas aderem sem hesitar: os que acham que conseguem lucrar com o subsídio atribuído por menor; e os melhores entre nós que são capazes de sofrer para ajudar os outros. Não cabendo em nenhuma das categorias, fiquei com a impressão de um sistema legal que trata os potenciais acolhedores como suspeitos criminais, que devem ser vigiados de perto para "garantir o superior interesse da criança".

Das entrevistas que li, fiquei com o lamento dos responsáveis de haver poucas famílias de acolhimento, como se fosse desse lado o problema. Se a minha família estiver, por hipótese, sintonizada com o pensamento médio português, então digo que o desenho do processo em vigor repele os candidatos. O facto referido no vosso jornal de as crianças ficarem "institucionalizadas" talvez tenha que ver com isso.

Artur Silva, Montemor o Velho

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