Morreu o arquitecto Paolo Portoghesi, arauto do pós-modernismo italiano

Foi o primeiro director da Bienal de Arquitectura de Veneza, que lançou um amplo debate internacional sobre o papel do passado na construção da cidade.

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Paolo Portoghesi Adriano Alecchi/Mondadori/wikicommons images
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A Bienal de Veneza anunciou esta terça-feira nas suas redes sociais a morte do “grande arquitecto” italiano Paolo Portoghesi, que foi director e presidente do evento. Paolo Portoghesi tinha 92 anos e morreu na sua casa em Calcata, perto de Roma.

“Exemplo extraordinário de intelectual, foi um iluminado presidente da Bienal (1983-1992) e primeiro director da Secção de Arquitectura”, lembra a Bienal de Veneza, acrescentando que foi no âmbito da primeira Bienal de Arquitectura, autonomizada da Bienal de Arte em 1980, que o arquitecto idealizou “a lendária Strada Novissima e deixou uma marca indelével na história da arquitectura contemporânea e do pós-modernismo”.

Paolo Portoghesi foi nomeado director da Secção de Arquitectura em 1979, altura em que encomendou a Aldo Rossi o famoso projecto do Teatro do Mundo, uma torre de madeira que recuperava a tradição dos teatros flutuantes de Veneza, em circulação pelos canais da cidade.

Arquitecto, professor universitário, teórico do pós-modernismo e sua figura cimeira em Itália, é o autor de edifícios como a Casa Papanice, em Roma, e a Igreja da Sagrada Família de Salerno.

Strada Novissima apresentava uma rua no recém-restaurado Pavilhão do Arsenale, a cordoaria de Veneza, convidando 20 ateliers destacados, como os de Robert Venturi-Scott Brown, Hans Hollein, Frank Gehry ou Rem Koolhaas, a construir a sua fachada nesse proclamado regresso à cidade. Numa bienal que tinha como tema geral "A Presença do Passado", o projecto Strada Novissima buscava novos caminhos para a arquitectura contemporânea, com base numa crítica à arquitectura moderna e num interesse crescente pelo historicismo.

No mesmo ano em que organizou a primeira Exposição Internacional de Arquitectura — Bienal de Veneza, Paolo Portoghesi publicou o seu livro mais conhecido, Depois da Arquitectura Moderna. Tem vários livros sobre história da arquitectura, dedicados a arquitectos como Borromini e Miguel Ângelo.

Dois anos depois, Paolo Portoghesi, que tinha feito a Mesquita de Roma em 1974, explorava na segunda bienal a arquitectura dos países islâmicos desde a Segunda Guerra Mundial. A próxima bienal já seria dirigida por Aldo Rossi, passando Portoghesi a ser o seu presidente, com direito a nomear o director.

“Ele é o curador da primeira Exposição Internacional de Arquitectura – Bienal de Veneza e consegue convencer o Aldo Rossi, um homem ligado aos racionalistas, a fazer o Teatro del Mondo, um teatro flutuante. Significa que Rossi apadrinha o pós-modernismo”, explica o crítico de arquitectura Jorge Figueira ao PÚBLICO, mostrando que essa figura lendária dá o seu aval aos termos da discussão. “É o fim do proibicionismo da história e do passado, com o regresso à rua e à importância da fachada, que tinham sido um termo maldito do desenho arquitectónico moderno.”

Paolo Portoghesi estudou Arquitectura na Universidade La Sapienza em Roma, terminando a licenciatura em 1957. Foi aí, em 1961, que começou a ensinar a história da crítica. Abriu atelier em 1964 como Vittorio Gigliotti, um arquitecto-engenheiro. No final da vida, lembra Jorge Figueira, dedicou-se um pouco à questão ecológica.

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