Uma efeméride para inspirar um novo campeão de Roland-Garros

Novak Djokovic e Iga Swiatek são favoritos para vencer o torneio francês, mas pela margem mínima.

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Yannick Noah foi o único tenista francês a vencer Roland-Garros DR
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A 122.ª edição do Torneio de Roland-Garros será marcada por uma efeméride: o 40.º aniversário da vitória de Yannick Noah. Um triunfo de um tenista francês na prova de singulares masculinos que encerrava um jejum de 37 anos e muitos ainda recordam, pois também nunca houve mais nenhum jogador da casa a erguer a Taça dos Mosqueteiros ou qualquer outro troféu do Grand Slam. Mas foi também o ponto alto de um sonho de um menino que, aos 11 anos, deixou a família em África.

Noah nasceu em Yaoundé, capital dos Camarões, e foi descoberto pelo antigo campeão Arthur Ashe, de visita ao país. Com a ajuda da Federação Internacional de Ténis, o jovem radica-se em França, sozinho e determinado em tornar-se tenista profissional. Uma decisão bastante difícil para a então criança e que ficou resumida nas lágrimas e no emotivo abraço dado ao pai, Zacharie, que irrompeu pelo court, após a conclusão da final de Roland-Garros ganha a Mats Wilander.

Curiosamente, os dois tinham-se defrontado no Jamor semanas antes, na final do Open de Portugal, do então designado Grand Prix – o primeiro grande torneio de ténis que teve lugar no nosso país. Wilander, que no ano anterior conquistara o primeiro de três títulos em Roland-Garros, venceu por 2-6, 7-6 (7/2) e 6-4, depois de salvar dois match-points. Ainda antes do major francês, Noah cumpriu aquilo que ameaçava e derrotou o rival sueco em terra batida, em Hamburgo. Resultados que contribuíram para o avolumar da confiança com que chegou a Roland-Garros.

A vitória sobre Ivan Lendl (n.º 3 do ranking) nos quartos-de-final confirmou o bom momento de forma. Restava saber se Noah conseguia manter o mesmo nível elevado por mais tempo, mas as dúvidas foram desfazendo-se ao longo das duas horas e meia da final, concluída com os parciais de 6-2, 7-5 e 7-6 (7/3).

“Foi uma França inteira que estava esperando essa vitória. O país não ganhava nada e ele foi o primeiro. Para mim, ele representa ‘a França que ganha’”, resumiu Benjamin Rassat, autor do documentário “Tous les autres s’appelent Noah”, lançado este sábado.

Do lado masculino, somente Henri Leconte (Roland-Garros), Cédric Pioline (US Open e Wimbledon), Arnaud Clément e Jo-Wilfred Tsonga (ambos na Austrália) estiveram presentes em finais do Grand Slam, mas sem sucesso. Já no sector feminino, Noah teve mais impacto.

Inspirou Amélie Mauresmo, que começou a jogar ténis aos quatro anos depois de assistir pela televisão à vitória de Noah.

Mauresmo chegou ao topo do ranking mundial e venceu dois majors (Austrália e Wimbledon) e é, actualmente, directora do torneio de Roland-Garros.

O sábado dedicado às crianças, na véspera do início do torneio, é doravante denominado como o Dia Yannick Noah, e um mural com a sua imagem foi desvendado. O ponto alto foi o concerto dado em pleno court Philippe Chatrier, com Wilander na guitarra. Desde que arrumou as raquetas, Noah dedicou-se inteiramente à música, com fortes raízes africanas e com sucesso como se comprovam pelos milhares de discos vendidos.

Graças à sua popularidade e ao trabalho desenvolvido pela sua fundação Enfants de la Terre, criada em 1988 e dirigida pela sua mãe, Yannick Noah foi eleito Personalidade Preferida dos Franceses em 11 semestres, nove dos quais consecutivos (2007-2012)

Embora nenhum outro jogador francês se tenha imposto em Roland-Garros, nunca faltou aos adeptos franceses por quem puxar. A França conta actualmente com 11 jogadores no top 100 masculino, sendo o melhor Ugo Humbert (39.º). No quadro de singulares estão 19 franceses que vão tentar fazer melhor do que no ano passado: dois representantes na terceira ronda. Outro facto marcante para a presente edição do torneio francês do Grand Slam: será a primeira sem Roger Federer ou Rafael Nadal desde 1998.

O único representante do Big 3 é Novak Djokovic, que, graças à sua experiência e seu palmarés – 22 títulos do Grand Slam –, encima a lista de favoritos. Mas o sérvio, aos 36 anos, já não tem o mesmo ascendente sobre os mais directos rivais: Carlos Alcaraz, possível adversário nas meias-finais, Daniil Medvedev, que já o derrotou numa final do Grand Slam, Casper Ruud, Stefanos Tsitsipas, Holger Rune, Andrey Rublev e Jannik Sinner. Um vencedor fora desta lista, será uma enorme surpresa.

Na prova feminina, a lista de candidatas é mais pequena. A número um mundial, Iga Swiatek, procura um terceiro título em Paris, mas ainda não se sabe se terá recuperado totalmente da lesão contraída há semana e meia, em Roma. As principais rivais são as jogadoras que lhe sucedem no ranking: Aryna Sabalenka e Elena Rybakina. Mas Sabalenka nunca passou da terceira ronda em Roland-Garros, e Rybakina só esteve uma vez nos quartos-de-final.

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