Cartas ao director

Ouça este artigo
--:--
--:--

O ruído do aeroporto e não só

Subscrevo inteiramente o texto e as legítimas preocupações do leitor Carlos Meira no PÚBLICO de 24 de Maio. Permito-me apenas acrescentar que o ruído não é de forma alguma o único, ou sequer porventura o maior, malefício para a saúde que a excessiva utilização do aeroporto traz a quem vive e/ou trabalha em Lisboa. Com efeito, é cada vez mais frequente o ar cheirar a querosene nas nossas ruas, acrescentando à poluição sonora a poluição ambiental e atmosférica. Além dos ouvidos, são os pulmões e todo o sistema respiratório que sofrem. Será tudo legítimo em prol do aumento do turismo?

Maria Santos, Lisboa

A "indústria do poder"

O noticiado pacto entre o PS e o PSD [segundo a TVI, existiria um esquema de troca de favores e distribuição de candidatos às juntas de freguesia de Lisboa entre o PS e o PSD, nas autárquicas de 2017] fez-me lembrar o seguinte episódio: no circo, os palhaços jogam boxe fazendo crer que acertam um murro no seu adversário, mas, antes de o punho lá chegar, já este imita ter ficado KO. Sabe-se que esta farsa que traduz o referido pacto está em investigação. Não é de estranhar quando uma “indústria do poder” se mascara em democracia. Sem se retirar a capacidade dos aparelhos partidários de serem os únicos a fazerem as escolhas dos candidatos que propõem, estas cenas repetir-se-ão. Os eleitores têm de ter o poder de riscar os nomes de que discordam para que se leve a sério as escolhas e o debate político tenha credibilidade. Os partidos não querem esta reforma porque os líderes receiam perder o poder que o aparelho partidário lhes dá, mas todos os democratas têm o dever de o exigir. Não se pode continuar a fazer da democracia uma formalidade, como acontece nos regimes autoritários. E, se não se corrigir esta palhaçada, a democracia será apenas uma “indústria do poder”, perdendo cada vez mais credibilidade, o que agrada aos defensores de regimes pró-fascistas.

João Baptista Magalhães, Folhada

Activos tóxicos

Recentemente vem um grupo de ilustres socialistas, e afins, declarar que a TAP não é um “activo tóxico” e como tal não deve ser privatizada. Tal como a maioria dos cidadãos, e, aliás, dos signatários desse manifesto, visto que muitos nada sabem de economia, não tenho competência para me pronunciar sobre os eventuais benefícios dessa decisão. Mas do que todos temos conhecimento é da incompetência, leviandade e amadorismo com que este assunto tem sido tratado pelos diferentes governos, particularmente pelo actual.

A mesma incompetência se traduz no caos na Educação e na Saúde, nas confusões na Habitação, na ausência de medidas na Agricultura, particularmente no que se refere à seca, etc., etc. Escondendo-se atrás de sucessivas cortinas de fumo, e indignações com declarações de antigos dirigentes, os problemas ficam por resolver. Os activos tóxicos são as empresas? Ou são os ministros? Ou quem os escolhe e define - ou não - a estratégia política do país?

Isabel Ribeiro, Lisboa

Esplanadas, tuk-tuks e pastéis de nata

É inquestionável a importância do turismo na recuperação de centros históricos e na revitalização de espaços rurais. Tem sido fundamental a sua contribuição na nossa economia. Após o desastre nas contas públicas que nos trouxe a famigerada intervenção da troika, o sol, o património cultural, as paisagens e a gastronomia já cá estavam. Não foi necessário muito criar para tirar partido desse potencial.

Não podemos, no entanto, ficar parados, contentes com o contentamento de quem cá vem sentar-se em esplanadas, dar umas voltinhas em tuk-tuk e provar pastéis de nata. Não podemos porque uma boa parte do emprego associado a essa economia é de baixo valor acrescentado e não corresponde ao modelo social com o qual nos pretendemos justamente identificar e a que muitos portugueses legitimamente aspiram.

Sim, é bom existir este contributo, não vamos matar a galinha dos ovos de ouro, pessimamente estaríamos se não existisse. Só que não deveria ser motivo de enorme contentamento termos uma economia “excelente” (?!) à custa de legiões de licenciados condutores de tuk-tuks e servidores de pastéis de natas. Algo de mais sério e consistente é necessário, a sério. E não é com um Estado voraz a apropriar-se de tudo o que pode, para depois pseudomagnanimamente distribuir, que lá vamos.

Carlos J. F. Sampaio, Esposende

Sugerir correcção
Comentar