Ministériogate, um acto de ilusionismo

O primeiro-ministro criou um espectáculo em torno de João Galamba e Frederico Pinheiro, que mais parece um espectáculo de magia do David Copperfield, em Las Vegas.

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Desde que este Governo tomou posse, os casos políticos, que mais parecem saídos de um livro de Mário Puzo, têm acontecido em catadupa.

Mas, se já vem sendo habitual sermos brindados com sucessivas notícias de escândalos do Governo e dos seus governantes, principalmente na TAP, também já se percebeu que, António Costa, por culpa das escolhas que faz para os ministros que nomeia, não tem tido um momento para respirar.

Sem respirar e a sofrer ataques de todos os lados, o primeiro-ministro viu-se obrigado a encontrar uma solução para travar o descalabro político que avançava e que podia ditar a queda do Governo. Assim, ao deparar-se com um cenário dantesco e percebendo que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da TAP podia dar o golpe final no seu mandato e, mais importante, no seu futuro político internacional, António Costa decidiu assumir o controlo da situação.

Como só ele sabe, António Costa, com um passe de magia, conseguiu fazer um xeque-mate a todos os partidos, da esquerda à direita, travou alguma ingerência de Marcelo Rebelo de Sousa e ainda manteve uma imagem de líder carismático, isto para quem gosta de acreditar nesse paradoxo.

Assim, o primeiro-ministro criou um espectáculo em torno de João Galamba e Frederico Pinheiro, que mais parece um espectáculo de magia do David Copperfield, em Las Vegas. Neste tipo de espetáculos sabemos que o ilusionista tenta que as pessoas olhem para um lado enquanto o “truque” acontece noutro e parece-me que foi isso que aconteceu com o espectáculo de ilusionismo no Ministério das Infraestruturas, a que vou chamar Ministeriogate.

Enquanto os portugueses estiveram agarrados à televisão e a ler jornais ou nas redes sociais a tentar saber o que se passou com o ex-adjunto do ministro que, alegadamente, foi sequestrado no ministério, arremessou a sua bicicleta contra as portas de vidro da entrada do edifício e “roubou” um computador, mais ninguém quis saber dos restantes escândalos que ainda pairam sobre o Governo. Perante este espectáculo de magia, vamos analisar os “movimentos de mãos” que os principais intervenientes tiveram na ilusão que foi preparada para salvar o Governo.

O ministro João Galamba, que estava em Singapura, trocou umas mensagens escritas com o seu ex-adjunto, Frederico Pinheiro, porque este dizia não querer mentir à CPI da TAP, devido a umas notas que redigiu numas reuniões secretas com a ex-CEO da empresa, Christine Ourmières-Widener.

Enquanto todos estavam entretidos com o Ministeriogate, o “Grande Ilusionista Costa” encostou Marcelo Rebelo de Sousa às cordas, fazendo-o acreditar que era essencial para o Governo que a CPI da TAP não chegasse ao fim.

Perante este cenário, o Presidente só tinha duas hipóteses: ou dissolvia a Assembleia da República, mas ao fazê-lo a CPI da TAP extinguia-se de imediato, o que, para quem não estava a ver o truque de ilusionismo, dava a ideia que isso possibilitaria ao PS sobreviver à audiência do Frederico Pinheiro; ou engolia um enorme sapo, como veio a engolir, e mantinha o Governo em funções, para que a CPI da TAP viesse a apurar toda a verdade sobre os alegados esquemas, burlas, mentiras e abusos que aconteceram na nossa companhia aérea nacional.

Posto isto, questiono o seguinte: considera verosímil que, estando João Galamba em Singapura, país com uma diferença horária de 7 horas em relação ao nosso, seria por causa de uma divergência com o seu ex-adjunto que o iria demitir via chamada telefónica ou SMS, em vez de aguardar pelo regresso a Portugal e esperar para falar pessoalmente com ele, a fim de o demover a fazer aquilo que não desejava que viesse a público? Ou será que havia necessidade de criar um espectáculo para que o ilusionista Costa conseguisse mudar o rumo dos acontecimentos?

Fazendo aquilo que melhor sabe, ou seja, enganar todos na plateia com um passe de magia – e recordando o sobrenome de quem um dia foi apunhalado pelas costas pelo António Costa –, não será mais "seguro" dizer que o primeiro-ministro montou todo este espectáculo com o ministro Galamba e o seu ex-adjunto Frederico Pinheiro, criando o maior truque de ilusionismo de que há memória na política nacional?

Neste truque, Frederico Pinheiro teve de aceitar ser o “bom ou mau da fita”, consoante se é apoiante cego do Governo ou não, e o bode expiatório que, mais tarde, poderá vir a ser colocado numa “empresa amiga do Estado” a ganhar dezenas de milhares de euros por mês.

Por sua vez, João Galamba irá continuar a subir na hierarquia do Partido Socialista e passou a ser possuidor de um trunfo que poderá utilizar no futuro a seu favor.

Por último, António Costa garantiu que nada vai acontecer na CPI da TAP e que o Governo se mantém em funções, pelo menos, por mais alguns meses, ganhando o tempo suficiente para distribuir o dinheiro da “bazuca” por quem quiser, que é aquilo que verdadeiramente importa e não o futuro de Portugal ou dos portugueses.

Frederico Pinheiro já foi ouvido na CPI da TAP e, na minha opinião, a “montanha pariu um rato”, pois não apresentou provas e, não havendo imagens ou mensagens escritas do que se passou naquela noite, é a sua palavra contra a de várias pessoas do Governo e ele nem sequer falou sobre o que tinham as suas notas ou sobre os alegados esquemas criminosos que aconteceram na TAP…

A cereja no topo do bolo é que, sendo Frederico Pinheiro um homem de confiança de Pedro Nuno Santos, nada desta ilusão pode ter sido executada sem o aval e conhecimento deste último.

E se estamos perante um acto de ilusionismo – vem-me, novamente, à memória o nome de quem já foi apunhalado pelas costas –, não será "seguro" dizer que, quando António Costa estiver na Europa, Pedro Nuno Santos, inesperadamente, será apoiado por ele para o substituir na liderança do PS, atraiçoando, desta forma, o seu actual ministro e protegido, Fernando Medina?

Nesse dia os portugueses vão perceber que foram enganados, mas já será tarde demais, pois o dinheiro da “bazuca” terá sido partilhado pelos “amigos” do costume e, nessa altura, o Partido Socialista poderá permitir que outros partidos governem o país e imponham duras medidas e restrições orçamentais, para que, quando nos estivermos a reerguer, Pedro Nuno Santos venha a ser eleito primeiro-ministro e venha “salvar os portugueses” de tudo o que os outros partidos fizeram para tirar o país da bancarrota.

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