A verdade do poucochinho

Os portugueses têm o direito de saber a verdade. É preciso ler e interpretar os números e explicar o que significa a convergência de 0,4 pontos percentuais por ano.

Ouça este artigo
--:--
--:--

Em 2010 o nosso Produto Interno Bruto per capita, expresso em paridades de poder de compra, situou-se em 80,4% da média da União Europeia. Em 2022 a distância aumentou e estamos em 75,1% dessa média. Em vez de convergimos, estamos em clara divergência. Os anos passaram, a distância aumentou e estamos cada vez mais longe do poder de compra da média da União Europeia e alguns países do Norte de África já se aproximaram do nosso poder de compra, como seja o caso de Marrocos. Já não é só o clima que nos aproxima. É também a Economia.

Em abril ficamos a saber que, à partida, espera-se para este ano um crescimento de 1,8% do nosso PIB em comparação com o valor de 1,5% esperado em dezembro de 2022. Para os nossos políticos (aqueles do poucochinho) este facto foi motivo de grande regozijo. Na falta de melhor festeja-se a mediocridade.

Na mesma altura soube-se que, as previsões apontam crescimentos de 2% do PIB português para 2024 e 2025, enquanto 1,6% para os mesmos anos em termos de média para os países da União Europeia. Mais um motivo de festa: vamos convergir.

Caso estes valores das previsões se confirmem, se mantenham durante muitos anos (sendo que história nos diz que isso nunca aconteceu nos 35 anos de integração europeia), os países tenham as mesmas funções produção e se outras variáveis não se alterarem, demoraremos mais de 800 anos a atingir o nível médio do PIB per capita dos países da União Europeia. Não existe qualquer engano, são mesmo oito séculos que demorará a convergência total. Ao pensarmos que Portugal como país tem 880 anos, já vemos o absurdo deste problema.

Caso a convergência anual fosse de quatro pontos percentuais (o que nunca aconteceu), o processo demoraria 80 anos. Estes factos levam a pensar o porquê de tanta festa pelo poucochinho alcançado, quando se tem estabilidade política para fazer muito mais. Só levar os portugueses a sonhar o impossível e desviar atenções, para o que é realmente importante é que justifica os políticos o enaltecer destes feitos.

Os portugueses têm o direito de saber a verdade. É preciso ler e interpretar os números e explicar o que significa a convergência de 0,4 pontos percentuais por ano.

Nunca existiu em Portugal um verdadeiro debate sobre a nossa convergência com a União Europeia, nem sobre o que é preciso mudar para acelerar o processo. Como alguém muito sabiamente disse: “Sinto-me no presente deveras otimista quanto ao futuro do pessimismo”.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Sugerir correcção
Ler 2 comentários