Seca eleva o risco de extinção de porcos alentejanos

O impacto negativo da falta de água é sentido no sector dos porcos alentejanos. A redução da produção pode chegar a 50% e a seca severa é uma das causas que agravam a ameaça.

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O porco alentejano está entre as raças autóctones mais ameaçadas de extinção Daniel Rocha

A seca está a ter um impacto "muito negativo" no sector do porco alentejano, cujo efectivo teve uma redução de cerca de 30% a 50% nos últimos anos, revelou esta quarta-feira o presidente de uma associação de criadores.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Associação de Criadores de Porco Alentejano (ACPA), com sede em Ourique (distrito de Beja), Nuno Faustino, afirmou que o impacto da seca no sector é sentido, desde logo, na fase de recria, devido à falta de alimentação no campo. "Não havendo erva no campo, tivemos de compensar essa falta de pastagem com mais rações, aumentando obviamente os custos de produção", explicou.

A seca tem igualmente "uma repercussão directa no montado", utilizado pelos produtores na chamada "fase de montanheira", entre Outubro e Março, para engordar os animais com uma alimentação à base de bolota.

"A seca faz com que a produção de bolota seja sempre uma incerteza muito grande e, regra geral, muito pouca. E também tem influência na saúde do próprio montado", disse. Esta realidade, associada aos maiores custos de produção e ao facto de os preços de mercado não estarem a crescer, "pressiona negativamente a produção de porco alentejano", com impactos já evidentes.

"Houve uma redução grande do efectivo de porco alentejano, na ordem dos 30% a 50%, existindo, a nível nacional, menos de 5000 [porcas] reprodutoras", referiu Nuno Faustino, acrescentando que a raça, "neste momento, está na categoria de mais ameaçada nas raças autóctones a nível de extinção". Com esta conjuntura, continuou, "é o próprio sector que está em risco, sendo a seca mais um factor negativo muito pesado que afecta muito o porco alentejano".

O presidente da ACPA defendeu, por isso, uma diferenciação nas ajudas prestadas ao sector agro-pecuário no Sul do país, "para ser possível a sua continuidade".

"Obviamente que também terá de haver uma adaptação por parte dos criadores, mas caso não exista alguma diferenciação positiva nos apoios para estas regiões temo que, num horizonte de curto a médio prazo, a pecuária seja residual nesta região", concluiu.

A ministra da Agricultura e Alimentação, Maria do Céu Antunes, anunciou, a 8 de Maio, ter assinado o despacho que reconhece a situação de seca severa e extrema em 40% do território nacional, no Sul do país. Segundo a governante, o despacho já publicado em Diário da República torna possível "accionar um conjunto de medidas no âmbito dos apoios aos agricultores". O documento abrange um total de 67 municípios, entre os quais os 14 do distrito de Beja.

A 10 de Maio, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) divulgou que a situação de seca meteorológica se agravou em Portugal continental no mês de Abril, estando 89% deste território em seca, 34% da qual em seca severa e extrema.

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