OMS demitiu o cientista que liderou missão à China para descobrir origem da covid-19 por má conduta sexual
Ben Embarek estava sob investigação por má conduta sexual quando foi a Wuhan descobrir a origem da covid-19. OMS demitiu-o em 2022 após ter confirmado duas queixas. Embarek vai recorrer.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) demitiu o cientista que liderou a missão à China para investigar a origem do vírus responsável pela covid-19, Peter Ben Embarek, por suspeitas de má conduta sexual. O afastamento do investigador dinamarquês foi confirmado esta quarta-feira à noite por fonte oficial da OMS e pelo próprio cientista à Reuters, mas aconteceu ainda no ano passado.
Os casos, no entanto, remontam ao período de 2015 a 2017 e começaram a ser reportados à autoridade de saúde no ano seguinte, em 2018. Três anos depois, em 2021, Peter Ben Embarek foi enviado pela OMS a Wuhan para estudar a disseminação do coronavírus a partir daquela cidade chinesa. No ano passado, foi então demitido "na sequência de descobertas de má conduta sexual contra ele que foram comprovadas por investigações e num processo disciplinar correspondente", diz o comunicado de fonte oficial.
Em declarações à Reuters, Peter Ben Embarek admitiu que foi acusado de má conduta sexual, mas apenas num caso que terá acontecido em 2017 e que foi "resolvido imediatamente de forma amistosa". O cientista recusa ter estado envolvido noutros episódios, dos quais não se conhecem detalhes, e está a recorrer da decisão através do sistema judicial interno da Organização das Nações Unidas (ONU), a que pertence a OMS.
"Não estou ciente de nenhuma outra reclamação, nenhuma outra reclamação foi trazida ao meu conhecimento", afirmou Peter Ben Embarek. Mas, ao The Financial Times, a OMS especificou que o cientista foi alvo de duas queixas que estavam sob averiguação há cinco anos. Houve outras acusações, mas não foram "totalmente investigadas" porque as alegadas vítimas não quiseram colaborar na investigação interna. Por isso, "não foram tomadas acções disciplinares".
Mas, desde 2018 até ao fim de 2022, chegaram mais queixas contra Peter Ben Embarek, avançou a OMS, que pretende terminar todas as investigações nos próximos seis meses. Mas o nome do cientista dinamarquês já consta numa lista interna de suspeitos de má conduta sexual que as Nações Unidas utilizam para garantir que nenhum indivíduo mencionado na base de dados volta a ser contratado por outra instituição ligada à ONU.
Recorde-se que foi a equipa liderada por Peter Ben Embarek que concluiu que o SARS-CoV-2 terá tido origem em morcegos, saltado para uma espécie intermediária e depois para os humanos antes de se tornar pandémico, tal como consta no relatório da OMS. A tese de que o vírus responsável pela covid-19 escapou de um laboratório na China foi classificada como "altamente improvável", considerou a equipa. Desde então, Peter Ben Embarek tem sido dos cientistas mais vocais contra a hipótese de a pandemia ter tido origem laboratorial.