Electricidade 100% renovável até 2025

A crise de custo de vida é um reflexo da injustiça social que a indústria fóssil tem interesse em proteger de modo a salvaguardar a sua existência.

Dia 13 de Maio vamos bloquear o Terminal de GNL do Porto de Sines. A nossa exigência principal é electricidade 100% renovável até 2025. Este é um passo intermédio crucial integrado num plano maior de descarbonização total da economia até 2030, sabendo que até lá Portugal precisa de reduzir pelo menos 75% de emissões. Isto quer dizer que a produção de electricidade através de gás fóssil deve ser totalmente substituída por um mix de energias renováveis. Este é não só um factor decisivo perante aquilo que nos dita a ciência climática, mas também um plano que nos garante soberania energética e conduz à justiça social que precisamos.

De acordo com o Relatório de Empregos para o Clima, o sector energético é de longe o que mais contribui para as emissões em Portugal, sendo que o caminho para a neutralidade carbónica em 2030 será em direcção ao aprovisionamento de toda a energia por electricidade renovável. Contudo, antes da electrificação de todo o consumo energético, é imperativo que a electricidade produzida por gás natural (entre 30%-40%) seja ultrapassada. Ou seja, é preciso garantir, antes de mais, que a electricidade que está a ser produzida não depende do consumo de combustíveis fósseis.

Em Portugal, a indústria fóssil beneficia enormemente com o mercado de electricidade, uma vez que este segue um modelo marginal de fixação de preços. Neste regime, o preço de toda a electricidade é determinado pelo preço da fonte mais cara que entra na rede. Neste caso, o gás fóssil, já que o preço da energia renovável é extremamente acessível. Isto quer dizer que, para empresas como a REN, a EDP ou a Galp, cujos lucros dependem de gás, vai ser sempre interessante exibir os seus investimentos em energias renováveis numa óptica de greenwashing.

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Protesto da Greve Climática Estudantil Matilde Fieschi

O consumo de electricidade produzida por gás fóssil depende particularmente da quantidade de energia renovável acessível. Acontece que um dos principais motivos para a redução de electricidade produzida por energia renovável é reflexo das alterações climáticas provocadas pela exploração de combustíveis fósseis, nomeadamente secas, que reduzem a produção de electricidade em barragens. Este foi o caso em 2022, cuja percentagem de electricidade produzida por energia hídrica diminuiu drasticamente em 36%, tendo sido substituída por gás pelas empresas.

Contudo, de acordo com os dados da REN, durante o mês de Março deste ano, 75,3 % da electricidade produzida foi de origem renovável. Isto significa que chegar à totalidade da produção não é uma questão tecnológica e muito menos inatingível, mas um objectivo bastante concreto e exequível. O desafio tecnológico para manter o equilíbrio constante entre produção e consumo é ultrapassável com tecnologia que há décadas que é estudada — soluções de armazenamento de energia, adaptação da rede eléctrica, diversidade do mix energético, entre outras.

Estas percentagens também significam que, por muito pequenos que sejam os valores da electricidade produzida por gás fóssil, os seus preços elevados estão a encarecer toda a energia e estamos nós todos a pagar. A crise de custo de vida é um reflexo da injustiça social que a indústria fóssil tem interesse em proteger, de modo a salvaguardar a sua existência. Por isso, a renúncia completa ao gás fóssil exige uma mudança estrutural da sociedade que nos elevará a níveis de justiça social mais elevados. Perante a crise existencial que nos assola, não nos restam opções senão confrontar este sistema pela raiz.

Enquanto for o sector privado a ter o controlo sobre direitos básicos como a energia, determinando a seu bel-prazer os preços, estaremos sempre a entregar a nossa sorte ao interesse dos accionistas e do capital. Apenas um sistema público fortalecido, que zele pelo interesse das comunidades e o bem-estar social, levará a transição justa que precisamos a bom porto. Esta transição tem de acontecer agora e será liderada pelas franjas da população mais afectadas pela destruição do capitalismo neoliberal, num problema que nos diz respeito enquanto colectivo.

Activistas são todas as pessoas normais que estão prontas para falar e agir quando é preciso. Temos motivos suficientes para agir já. É por isto que a “Primavera das Ocupas” começou: estudantes voltaram a ocupar dezenas de escolas pelo país, mas desta vez, com o objectivo de recolher 1500 assinaturas para o bloqueio do dia 13 de Maio. Este é um compromisso que diz respeito à sociedade no geral: somos nós o travão de emergência do colapso climático e social para onde nos encaminha a indústria fóssil.

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