Para alimentar uma cria em vias de extinção na Tailândia, este tratador veste-se de abutre

O jardim zoológico soma já quase duas décadas de tentativas para aumentar a população de abutres-de-cabeça-vermelha, espécie “criticamente em perigo de extinção”.

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Os tratadores disfarçam-se para que as crias não se sintam atraídos pelos seres humanos Reuters/STAFF

Quatro vezes por dia, o tratador tailandês Watchiradol Phangpanya veste uma camisa preta de manga comprida, luvas vermelhas e um gorro vermelho, na esperança de conseguir ser credível na sua imitação de abutre-de-cabeça-vermelha (Sarcogyps calvus), espécie em vias de extinção. O objectivo é alimentar uma cria de abutre.

O pequeno pássaro, ainda cor-de-rosa e coberto de penugem branca que se transformará em penas pretas à medida que cresce, é o primeiro abutre-de-cabeça-vermelha a nascer no continente asiático, de onde é originário, e apenas o segundo no mundo.

Watchiradol e os seus colegas do jardim zoológico de Nakhon Ratchasima, no nordeste da Tailândia, querem garantir que os recém-nascidos criados em cativeiro são capazes de se desenvencilhar na natureza se forem libertados, e por isso devem garantir que não se sentem atraídos pelos seres humanos.

"É necessário (...) disfarçarmo-nos de ave, levando-os a verem-nos como semelhantes aos seus pais", disse Watchiradol, acrescentando que é a melhor oportunidade para desenvolver os instintos naturais da ave.

Um abutre-de-cabeça-vermelha recém-nascido no Jardim Zoológico de Nakhon Ratchasima
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Um abutre-de-cabeça-vermelha recém-nascido no Jardim Zoológico de Nakhon Ratchasima

A alimentação é feita à base de carne de coelho, veado, galinha e rato para simular aquela que seria a sua dieta na natureza. Depois de se alimentar, a cria aquece-se ao sol para obter a vitamina D de que necessita para o seu desenvolvimento físico e comportamental, disse Watchiradol.

"Será que sua alimentação é suficientemente nutritiva? Ou será que está que estamos a alimentá-lo demasiado? As preocupações existem sempre", afirmou.

Como necrófago, o abutre-de-cabeça-vermelha tinha um papel crucial no ecossistema ao consumir carcaças de animais. No entanto, a caça e as alterações ao seu habitat fizeram com que a espécie selvagem tenha sido considerada extinta na Tailândia e que os números totais mundiais tenham diminuído significativamente.

O jardim zoológico soma já quase duas décadas de tentativas para aumentar a população de abutres-de-cabeça-vermelha — e começa a ver resultados, com mais um ovo a ser incubado pelos seus progenitores. A equipa de conservação espera conseguir criar uma população suficientemente grande para uma possível libertação.

"O aspecto mais crucial do nosso sucesso seria melhorar o ecossistema do Santuário de Vida Selvagem de Huai Kha Khaeng, património da UNESCO", disse o director do jardim zoológico, Thanachon Kensingh, acrescentando que o parque no oeste da Tailândia foi outrora o lar da maior comunidade de abutres-de-cabeça-vermelha

"Gostávamos de ver este abutre a voar de novo pelos céus da Tailândia", afirmou.

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