“Brincadeira de mau gosto”: vários menores que ameaçaram escolas identificados

Policiamento reforçado após ameaças de ataques a escolas na região de Lisboa. Mensagens de áudio e fotografias partilhadas por encarregados de educação em grupos.

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Publicações anunciavam ataques em escolas lisboetas Rui Gaudencio/Arquivo

A Polícia Judiciária identificou "vários autores" de ameaças de ataques feitas nas redes sociais contra escolas. Tudo teve início com fotografias publicadas no Instagram de armas e promessas de ataques terroristas em escolas de Odivelas. Pouco depois, já no WhatsApp, mensagens de voz em grupos de encarregados de educação mencionavam uma suposta “lista” onde estavam agendados ataques. O director nacional da PSP diz que tudo não passou de uma “brincadeira de mau gosto” sem risco real.

"É mais um exemplo do mau uso das redes sociais", declarou Magina da Silva, enquanto acompanhava uma operação policial de combate ao tráfico de droga no Porto​. O responsável diz que as publicações foram detectadas e comunicadas à Polícia Judiciária, com a situação a ser "despistada".

A Polícia Judiciária descreve os suspeitos como "jovens menores de idade", adiantando não ter recolhido quaisquer indícios que apontem para a sua radicalização ou extremismo.

A PSP reforçou o policiamento junto das escolas, após ser inundada por mensagens de encarregados de educação preocupados. Foi ainda pedido, em comunicado emitido por esta força da autoridade, que quaisquer movimentações suspeitas fossem comunicadas. Será que o anúncio destas medidas pode ter aumentado a credibilidade da ameaça e contribuído para o medo sentido por muitos encarregados de educação? Para Pedro Moura, este é um equilíbrio difícil de conseguir.

“Olho para isto com uma certa ambiguidade, a PSP está também num espaço mediatizado – basta lembrar o caso da Faculdade de Ciências em Lisboa. Por um lado, pode estar de facto a contribuir para medos que não têm propriamente razão de ser, mas, ao mesmo tempo, será difícil ignorar quando todas as pessoas têm isto na sua consciência. É um trabalho complicado porque, no fundo, é difícil não se dizer nada. É importante que no conteúdo não se procure alimentar estes receios simplesmente porque sim”, diz o investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS).

Cumpre-se, nesta quinta-feira, o aniversário do massacre de Columbine, ataque ocorrido a 20 de Abril de 1999. Nesse dia, dois jovens mataram 12 alunos e um professor, ferindo ainda 21 pessoas com recurso a armas de fogo. A presença desse ataque na memória colectiva terá servido para alimentar os receios.

"Este tipo de situações é enquadrado na literatura como 'pânicos morais'. Estabelece-se, a priori, um conjunto de receios extrapolados do conteúdo de mensagens. Isto significa que basta existir algum tipo de conteúdo para que a recepção dos públicos seja uma. O enquadramento dado ao massacre de Columbine é um exemplo claro”, explica Pedro Moura.

Controlo na entrada das escolas

Ao final da tarde de quarta-feira, os vídeos e boatos de que estaria montado um alegado ataque a escolas da região de Lisboa chegou aos ouvidos de professores e directores. Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), adianta que muitos decidiram reforçar as medidas de segurança: o efeito mais visível passou por um maior controlo das entradas nas escolas.

"Existiu o cuidado de reforçar a vigilância, usando essa estratégia ou até mesmo em contexto de recreio", explica o responsável, reiterando que pais e alunos comunicaram a situação às direcções. "Isto é muito recente, tem horas. O alarme foi dado ontem [quarta-feira] nas redes sociais, tivemos pais e alunos atentos que nos foram alertando. Para já, pelo que sei, não aconteceu nada de concreto", resume, dizendo que qualquer situação de anormalidade será comunicada às forças de segurança.

Fotografias usadas no Brasil

Nos casos que chegaram ao PÚBLICO, foram muitas vezes os próprios pais e professores a partilhar estas publicações e suspeitas. Num dos áudios a que tivemos acesso, uma mulher que se identifica como encarregada de educação menciona a existência de uma alegada lista com alvos e inventa um suposto ataque numa creche em Oeiras. Diz ainda que os ataques podem estar relacionados com ajustes de contas após actos de violência em Lisboa.

"Sei que vai ser um ataque parecido com o que aconteceu no Brasil há pouco tempo, com bombas, facas. Acho que hoje já houve um atentado numa creche em Oeiras, segundo me disseram. Acho que já passou na televisão", pode ouvir-se a mulher dizer, acabando a mensagem a dizer que não levará o filho à escola.

Nas fotografias partilhadas em grupos de encarregados de educação circula uma imagem que mostra um vasto arsenal de armas disposto numa cama. Uma outra mostra um homem com a cara tapada por uma balaclava adornada com o desenho de uma caveira e, abaixo, uma publicação no Twitter em que o mesmo utilizador diz querer torturar crianças.

Estas imagens foram usadas em casos idênticos no passado no estrangeiro: o mais recente aconteceu apenas há dias no Brasil. Foram usadas estas mesmas fotografias para semear o medo.

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