Gouveia e Melo diz que navio Mondego falhou missão por “erro humano” e garante que “Marinha não mente”

Chefe do Estado-Maior da Armada disse que o último incidente com o navio Mondego, que teve de abortar uma missão, teve origem “num erro humano”.

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Presidente da Câmara do Porto e o chefe de Estado-Maior da Armada reuniram-se para acertar os pormenores finais sobre as comemorações do Dia da Marinha LUSA/ESTELA SILVA

O chefe do Estado-Maior da Armada, Henrique Gouveia e Melo, aproveitou a sua deslocação ao Porto nesta quarta-feira para deixar duas garantias: o último incidente com o navio Mondego, que teve de abortar a missão nas Ilhas Selvagens, teve origem "num erro humano" que está a ser investigado, a que somou a garantia de que a "Marinha não mente"; e que está a “tentar transformar a Marinha numa nova Marinha”.

"A única coisa que posso dizer é que a Marinha não mente e que o último incidente não teve origem em problemas mecânicos ou da plataforma, foi um erro humano que estamos a investigar", afirmou Gouveia e Melo, em declarações aos jornalistas, no final de um encontro com o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, que decorreu à porta fechada na Sala D. Maria, e que serviu para acertar os pormenores finais relativamente às comemorações do Dia da Marinha, que vai decorrer este ano no Porto, em Maio.

O PÚBLICO questionou o porta-voz da Marinha, comandante José Sousa Luís, sobre se poderá estar em causa um erro premeditado. Na resposta, o porta-voz da Marinha diz que o “sensor de combustível actuou” — ou seja, marcou o baixo combustível do navio —, mas “quem deveria ter visto não viu”. “O erro humano foi terem visto mal o sensor do combustível, ou eventualmente não terem visto.”

O chefe do Estado-Maior da Armada foi muito parco nas declarações sobre o incidente que ocorreu no dia 27 de Março e que impediu o navio de patrulha costeira NRP Mondego de cumprir uma missão ao largo da Madeira. Segundo a Marinha revelou num comunicado divulgado nesta segunda-feira, a "causa da paragem súbita de quatro motores diesel, dois geradores eléctricos e dois propulsores, resultou de baixos níveis de combustível no tanque de serviço que alimenta os respectivos motores e geradores".

Henrique Gouveia e Melo recusou comentar a estratégia dos advogados dos 13 militares que pertenciam à guarnição e que se recusaram a cumprir aquela missão. No passado dia 11 de Março, o NRP Mondego falhou uma missão de acompanhamento de um navio russo a norte da ilha de Porto Santo, no arquipélago da Madeira, após 13 militares terem recusado embarcar alegando razões de segurança.

"Não vou começar a responder ao que os advogados pretendam que eu faça ou deixe de fazer. Nós fazemos o que temos de fazer, cumprimos com a lei e com os procedimentos legais", disse, quando questionado sobre a possibilidade de tornar públicos os processos disciplinares da Marinha.

Almirante "centrado" na Marinha

Sobre as afirmações do antigo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, almirante António Silva Ribeiro, que admite que as notícias insistentes sobre a potencial candidatura de Gouveia e Melo à Presidência da República prejudicam a gestão da Armada, o chefe de Estado-Maior respondeu ao lado, afirmando estar "totalmente centrado" nas suas funções. Na passada terça-feira, Silva Ribeiro disse na CMTV que as conversas de bastidores acerca de uma potencial candidatura de Gouveia e Melo a Belém “perturbam a Marinha e as Forças Armadas”. “É altamente pernicioso. O papel do almirante Gouveia e Melo é comandar a Marinha. Isso tem afectado a estabilidade das Forças Armadas.”

Questionado sobre as razões que levaram a Marinha a escolher o Porto para as comemorações do Dia da Marinha, o almirante Gouveia e Melo disse que o "Porto é uma grande cidade costeira, que tem um grande impacto na nossa história marítima, e por isso achamos que é a cidade para o Dia da Marinha". Foi neste contexto que declarou: “Nós estamos a tentar transformar a Marinha numa nova Marinha e o Porto é conhecido pelo seu dinamismo, portanto, julgo que é uma altura apropriada” para realizar o Dia da Marinha nesta cidade, justificou.

Moreira condecorado

Já o presidente da Câmara do Porto, o independente Rui Moreira, disse que a autarquia respondeu afirmativamente ao desafio de acolher o Dia da Marinha, que se vai prolongar ao longo de uma semana (de 18 a 23 de Maio). No âmbito desta iniciativa, a cidade vai ser palco de um conjunto de actividades e de eventos. Embora o programa definitivo só seja anunciado no próximo dia 10 na Casa do Infante, Rui Moreira revelou que "as coisas já estão avançadas".

"Estamos convictos de que vai ser um evento fantástico, muito importante para a Marinha e para os valores da Marinha e também para as nossas escolas. Vamos ter a Sagres aqui no Porto e um conjunto de eventos e de actividades que vai abranger muitas escolas. Vamos procurar fazer em conjunto uma programação que vai ter como epicentro a Alfândega do Porto", acrescentou o autarca.

Ao que o PÚBLICO apurou, Rui Moreira será distinguido com uma condecoração pela Marinha no âmbito das comemorações daquele ramo das Forças Armadas que vão decorrer no Porto.

Depois do encontro nos Paços do Concelho, Rui Moreira, o autarca independente que os sociais-democratas gostavam de ter a liderar a lista do PSD ao Parlamento Europeu, e Gouveia e Melo, que tem visto o seu nome associado a uma eventual candidatura a Belém nas eleições presidenciais de 2026, passearam lado a lado a pé até ao renovado Mercado do Bolhão, onde almoçaram no restaurante Culto do Bacalhau, que abriu recentemente. com Henrique Pinto de Mesquita

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