Cartas ao director

Sem fixação de preços, IVA zero pode ser fiasco

Sem o controlo e fixação de preços o anunciado IVA zero pode passar a ser mais um fiasco do Governo PS. A fixação de preços máximos para serem praticados em todo o comércio, com base em custos reais e sem especulação, pelo menos para os 44 produtos alimentares que foram indicados para aplicar o IVA zero, era a forma mais clara e transparente para consumidores e comerciantes lidarem com o badalado ataque à inflação e ao aumento brutal do custo de vida que está a provocar.

Dá a ideia que o acordo de cavalheiros do Governo PS é só com a grande distribuição, quando o universo comercial de venda de alimentos é imenso e diverso. Com preços máximos fixados o consumidor saberia que não era obrigado a pagar mais, o comércio não estava impedido de concorrência com preços mais baixos e, eventualmente, perante situação em que o preço máximo não permitisse a margem de ganho razoável, o comerciante contactaria as entidades fiscalizadoras, justificando porque tinha que praticar preço superior.

O Governo PS irá entregar a fiscalização do preço dos alimentos a empresas, pagando 230 mil euros. Talvez se justificasse o reforço da ASAE em número de profissionais e meios, que permitisse mais eficácia na sua acção.

Ernesto Silva, Vila Nova de Gaia

Este desgoverno não age – reage

Ainda não há muitos dias, o ministro das Finanças, no alto da sua absoluta verdade, afirmava que mexer no IVA seria contraproducente... Afinal, o desgoverno reagindo aos vigorosos protestos populares reduz o IVA nalguns bens essenciais. Isto, na tentativa de acalmar quem passa mal e já tem fome! Os custos da inflação reproduzidos nos alimentos são mais de 20% do rendimento de uma família. A maioria ficará aquém. Temos dúvidas. Só por fé se acredita que a grande distribuição baixe os preços – já os vem aumentando previamente. Os hipermercados voltam a ganhar.

Agora, o desgoverno cria um observatório/instituição para “fiscalizar os preços”. Como? Verificar, melhor dizendo. Contrataram uma empresa privada para o fazer a troco de milhares de euros. Mais uma machadada na administração pública, que o podia fazer por preço módico. Esta sociedade está cada vez mais assimétrica.

Vítor Colaço Santos, São João das Lampas

A “disneylandização” de Portugal

Se esquecermos os cadernos de intenções dos sucessivos governos do PS e do PSD, que desígnio oculto terá resistido, ao longo destes anos de absoluta promiscuidade entre políticas públicas e negócios privados à dança das cadeiras? Pensando bem, só resta a transformação do país numa colónia de férias da Europa. De bandeja na mão, aí temos, no seu esplendor, Portugal inteiro: paraíso dos turistas dos “vistos dourados” e da economia de casino. Para os portugueses, porém, trata‑se de um inferno de baixos salários e rendas insuportáveis. Com a crise da habitação (verdadeiro fogo que alastra perigosamente em plena pradaria dos interesses instalados), eis‑nos, finalmente, perante o revelador fotográfico do apodrecimento de um regime iníquo, no qual se privatizam alegremente os lucros e se socializam — sem pudor — todos os custos. Sejam bem‑vindos, pois, ao admirável mundo novo da “disneylandização” de Portugal!

Eurico de Carvalho, Vila do Conde

Lugares em creches

A realidade do aparente paradoxo de o número de oferta de creches se ter reduzido e ter arrastado consigo o aumento da cobertura geográfica de tão precioso serviço explica-se pela intersecção no ponto em que ambas são tocadas por outra realidade ainda mais grave: menos nascimentos. Os “clientes” entre os zero e os 3 anos minguaram.

O artigo de Patrícia Carvalho de ontem no PÚBLICO deve ser lido na íntegra e, se possível, dado a ler a quem nos governa. O rigor das percentagens que perpassa o trabalho jornalístico eleva-o a relatório e pode até ter um efeito perverso que é poder aquecer o coração de alguns mais crentes governantes… Deixa, no entanto, gelados, os muitos potenciais jovens, pais e mães que sabem bem, e disso se lamentam, de que não existe no seu lugar, freguesia, concelho e/ou distrito, qualquer resposta estatal ao seu direito constitucional… a ter filhos.

Coloca-se, entretanto, para o problema da falta de resposta aos que ousarem decidir ter filhos o mesmo que já enfrentam nos seus empregos precários e mal pagos e nos seus lares com renda obscena e sempre de carácter eventual e a que o Estado não põe travão. Ou seja: mais deserto a somar ao deserto de direitos em que já vivem, ainda que nesta ocidental praia lusitana se apregoe todos os dias mais uma vantagem de nela se viver e que a gente comum teima em não descobrir.

Maria da Conceição Mendes, Canidelo

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