Como se pode aproveitar uma tragédia? O Chega explica

Por um punhado de votos e de palco político, André Ventura e seus correligionários recorrem ao incitamento ao ódio, o discurso político mais lamentável que pode haver.

Rapidamente, André Ventura comentou o crime praticado por um homem de nacionalidade afegã que nesta terça-feira matou duas funcionárias e feriu um professor nas instalações do Centro Ismaili em Lisboa.

O atacante, que terá chegado a Portugal há um ano, reside em Odivelas e tinha aulas de Português na instituição onde cometeu o crime.

O Chega não perdeu tempo e, no Twitter, o seu líder André Ventura escreveu : “A política de portas abertas sem qualquer controlo deu nisto. O sangue destas vítimas é responsabilidade do criminoso afegão, mas está nas mãos do Governo de António Costa.” Esqueceu-se, por certo, de congratular as forças de segurança que depressa actuaram, imobilizando o atacante.

Ainda os corpos das vítimas não arrefeceram e os abutres de costume, na tentativa de colar o acontecimento a um acto de terrorismo, multiplicam-se como cogumelos nas redes sociais, apelando ao ódio, e tudo isto por uns votos.

Não se conheciam as motivações deste crime, mas os sábios do costume já deixavam transparecer que tudo isto era terrorismo.

O discurso do ódio e do racismo, a criação do caos e do medo na nossa sociedade está presente e tem um rosto. Dá pelo nome de André Ventura. Não se deixa uma investigação terminar, não se conhecem motivações e causas, mas depressa se opina – isto, vindo de quem é jurista, parece ser indigno.

Aproveitar-se politicamente de um crime significa tudo o que há de pior na política portuguesa. Entre este tipo de discurso e a corrupção, que venha o Diabo e escolha. Devemos reflectir sobre como chegámos aqui e sobre as razões pelas quais há políticos com discursos desta natureza.

Qualquer jurista saberá, ou deveria saber, que todo o crime tem muitas variáveis e das mais variadas ordens. Há uma investigação a fazer, um julgamento justo a realizar e uma pena a aplicar. Porém, André Ventura e os seus correligionários já aplicaram o direito em praça pública e já julgaram o cidadão, como é seu apanágio nestas ocasiões. Por um punhado de votos e de palco político, recorrem ao incitamento ao ódio, o discurso político mais lamentável que pode haver.

É isto que temos, mas não deve ser isto que a democracia escolhe. Adivinho já a posição de muitos que dirão que, se houvesse uma política de porta fechada a refugiados, este crime não acontecia, como se não acontecessem outros análogos cá dentro, cometidos por portugueses.

Querer fazer deste crime horrendo um acto de campanha eleitoral reflecte perfeitamente a génese de quem quer fazer tremer o sistema, significa falta de raciocínio político humano. O respeito às vítimas e às suas famílias, neste momento, não se fará com a atitude do Chega, mas sim com valores humanos e com os princípios basilares de um Estado de direito democrático.

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