Brasil perde com Marrocos: “O maior erro é entrar em campo sem um técnico”
Os brasileiros ouviram “olés” em Tânger, derrotados por Marrocos, que continua em alta após o quarto lugar no Mundial.
Diz muito sobre a condição actual da selecção brasileira quando não é considerada favorita num jogo contra Marrocos. Foi como Juca Kfouri, um dos mais famosos comentadores de futebol do Brasil, olhou para o triunfo por 2-1 da selecção marroquina sobre a equipa canarinha em Tânger, usando como base o último Mundial, em que os africanos se portaram muito melhor (quarto lugar) que os brasileiros (eliminados nos “quartos” pela Croácia). “Enfim, confirmava o seu favoritismo”, considerava Kfouri na sua coluna no site UOL. “Mas a actuação brasileira esteve longe de decepcionar.”
Marrocos continua a "estar nas nuvens", depois de ter conseguido fazer o seu melhor Mundial de sempre e também o melhor de sempre de uma selecção africana – um quarto lugar, depois de ter eliminado Espanha e Portugal. E teve uma recepção à altura em Tânger, saudados como heróis por dezenas de milhares de compatriotas nas bancadas, os mesmos que durante o jogo brindariam a selecção brasileira com “olés”.
Walid Regragui lançou uma equipa bem próxima daquela que brilhou no Qatar, com oito jogadores que alinharam de início nas meias-finais com a França. Já Ramon Menezes, o interino que ocupou o lugar deixado vago por Tite, promoveu algumas estreias no Brasil, Andrey Santos, médio emprestado pelo Chelsea ao Vasco da Gama, e Rony, avançado do Palmeiras, numa equipa sem Neymar e com poucos habituais titulares – Militão, Casemiro, Paquetá e Vinicius foram as excepções. Já durante a segunda parte, o interino iria promover mais quatro estreias: Arthur, lateral do América Mineiro, Raphael Veiga, médio do Palmeiras, Vítor Roque, avançado do Athletico Paranaense, e Yuri Alberto, avançado do Corinthians.
A festa marroquina teve a primeira grande explosão aos 29', com um golo de Boufal, após uma excelente jogada pela esquerda, num remate que passou por quatro defesas brasileiros. O Brasil ainda chegou ao empate, já durante a segunda parte, com um remate de Casemiro de fora da área que Bono, o guarda-redes marroquino, não conseguiu segurar – a bola não ia muito forte, mas o guardião do Sevilha deixou-a passar por baixo do corpo. Já perto do final, Sabiri, médio da Sampdoria, fez o golo que deu o primeiro triunfo de Marrocos sobre o Brasil.
O Le Matin chamou “Histórico” ao triunfo dos “leões do Atlas”, que “consolidaram o seu estatuto de nova potência futebolística mundial”. No mesmo sentido foi o discurso de Regragui, o artífice desta ascensão de Marrocos ao topo. “Não é fácil bater a primeira equipa do mundo [n.º 1 do ranking FIFA]. Sabíamos que seria um jogo intenso e decidido nos detalhes. Foi um jogo de Mundial”, sentenciou o seleccionador marroquino.
Já do lado brasileiro, não se deu muita importância ao desaire, porque a selecção está em fase de transição, ainda sem substituto para Tite, que saiu após o fracasso no Mundial. Menezes, seleccionador dos sub-20, sabe que é apenas um interino. “O que sei é que em Abril vou começar a próxima preparação, o Mundial de sub-20 começa em Maio, está muito em cima. Sou funcionário da CBF, sempre focado e buscando fazer o meu melhor”, disse.
Kfouri até foi bastante brando com a selecção e conseguiu ver algumas notas positivas, classificando a exibição como “aceitável”, ao contrário dos seus colegas colunistas do UOL, como Paulo Vinicius Coelho, que criticou a falta de decisão sobre o novo treinador. “O maior erro é entrar em campo sem um técnico e sem um caminho”, escreveu PVC.
Já Walter Casagrande, antigo avançado do FC Porto e também colunista do UOL, não tinha nada de bom a dizer sobre a exibição do Brasil no Norte de África: “Ramon escalou mal e perdeu a chance de fazer o Brasil jogar bem.”
O “caminho” parece ser mesmo o de Carlo Ancelotti como próximo treinador da selecção brasileira, mas não haverá compromisso antes do final da temporada – o italiano irá continuar no Real Madrid, que ainda luta pelo título em Espanha e na Liga dos Campeões.
Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, vai deixando subentendido que “Carletto” será o substituto de Tite: “Ancelotti não é apenas o favorito dos jogadores, mas também dos torcedores. Em todos os lugares do Brasil, ele é o primeiro nome que os torcedores me perguntam.”