Cartas ao director

Comparar o desempenho de personalidades

Numa percepção acerca dos estilos dos ex-presidentes podemos constatar a diversidade, na medida em que todos têm uma personalidade vincada. O que não se pode é confundir arrogância e austeridade com o êxito no desempenho. Essa avaliação resultaria falsa, porque baseada na imagem superegóica que essas personalidades tendem a querer mostrar. O mesmo se aplica a outros tipos de desempenho, como o caso de (ex-)primeiros-ministros. Por vezes, algumas declarações acerca de certas personalidades revelam que quem as profere está inebriado com uma identificação egóica e, portanto, que distorce a realidade. É exemplo disto a admiração incondicional em relação ao ex-primeiro-ministro (e ex-Presidente da República) Cavaco Silva, ao qual, por comparação com o actual primeiro-ministro, se lhe atribui uma aura de génio, esquecendo que essa alegada genialidade teve condições de extraordinária vantagem económica, a então designada “época das vacas gordas”. Em vez de se proclamarem essas apreciações cegas (ofuscadas por uma admiração irracional) e subjectivas, opte-se por uma comparação objectiva assente em factos – por exemplo, utilizando uma tabela comparativa, acerca do desempenho de diferentes personalidades, fazendo um paralelo entre as variáveis (circunstanciais) e os sucessos ou insucessos.

Luís Filipe Rodrigues, Santo Tirso

Tensão passageira ou sinais de bloqueio

É indiscutível que, para a opinião pública, o relacionamento entre Belém e São Bento já teve melhores dias. A questão está em saber se a tensão é passageira ou antes corresponde ao fim de um ciclo com tendência a agravar-se sobremaneira. No caso do pacote da habitação o mal-estar parece forçado, independentemente das ideias de fundo que dividam um e outro. É que o dito pacote está ainda em discussão pública e da Assembleia Nacional de Municípios já saíram vários contributos que poderão levar a mudanças na especialidade. É curioso que Marcelo endureça posições sempre que personalidades do seu partido apareçam a tentar marcar o ritmo do espaço político, desde Passos Coelho a Cavaco Silva, sem falar das tão propaladas conversas, quase diárias, a fazer fé em ambos, que Marcelo manterá com Luís Montenegro, pessoalmente ou ao telefone. O que vem a seguir não se sabe, mas o Presidente aparece agora como alegadamente disponível para alimentar a onda de críticas ao Governo. De ameaça em ameaça pode querer significar que já esteve mais longe o tempo de vir a constituir-se como sua força de bloqueio. Ora, cavalgar contestações não ajuda a uma necessária estabilidade democrática, antes só conduz a crises maiores, a não ser que Marcelo tenha o secreto desejo e esperança de ver o seu partido de volta ao poder antes do tempo...

Eduardo Fidalgo, Linda-a-Velha

A bolsa do Governo

O editorial de Manuel Carvalho publicado ontem, “ O Governo a abrir os cordões à bolsa”, analisa as recentes medidas do Governo em relação à actualização dos salários da função pública, mas em minha opinião cai na habitual, e errada, contrapartida de tais medidas, quando diz: “Mas no futuro vai exigir mais impostos ou menos investimento público. Não há progressões grátis.”

De facto, haverá seguramente outras medidas, nomeadamente a criação de mais riqueza, sem a qual não será possível ter melhores e mais justos salários. Tal implica não só o aumento das exportações mas também, e sobretudo, uma redução das importações e menor dependência do exterior, com recuperação de empresas e indústrias, algumas com tanto prestígio no passado e agora defuntas.

Mas igualmente necessário é o controlo dos gastos e desperdícios, como tão bem descreve no mesmo jornal o leitor Fernando Cardoso Rodrigues (“O deslassar do Estado…”), e do qual a saga TAP é bem demonstrativa, assim como o combate real à corrupção e evasão fiscal e uma Justiça mais simples, célere e eficaz.

Assim, o que é preciso é um governo que saiba governar e que tenha uma ideia consolidada sobre aquilo de que o país necessita, e não um que reage de forma avulsa e incoerente às pressões que a sociedade, muito justamente, sobre ele exerce.

Isabel Ribeiro, Lisboa

O país quer evoluir, ou não?

Algo de estrutural afecta o país, quando todos sabem como resolver tudo o que está mal, mas ninguém se entende para o fazer. Algo vai muito mal, quando a cada dia se arranja mais um problema e deixa-se marinar durante uns tempos, depois atira-se para um canto, sem nada resolver, e salta-se para outro problema. O país vai mal, quando se torna um país de problemas, sem soluções. O país vai piorando, se todos os dias aparecerem novos problemas, nunca havendo vontade de os resolver, antes pelo contrário. Não vamos evoluir, se o fito continuar a ser encontrar culpados, fazer grande alarido com esses culpados, e ficarmos por aí. Não vamos evoluir, quando preferimos a confusão à solução.

Augusto Küttner de Magalhães, Porto

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