Urgências: medidas para pulseiras verdes e azuis são “inadiáveis”, diz direcção executiva

Organismo liderado por Fernando Araújo vai avaliar o modelo de referenciação para as urgências, nomeadamente quanto aos casos menos urgentes.

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A Direcção Executiva do SNS (DE-SNS) vai avaliar o modelo de referenciação para as urgências, nomeadamente as pulseiras verdes e azuis. RG RUI GAUDENCIO

A Direcção Executiva do SNS (DE-SNS) vai avaliar o modelo de referenciação para as urgências, nomeadamente as pulseiras verdes e azuis. Estes são os casos, segundo a triagem de Manchester que são considerados não urgentes e que deveriam encontrar outras respostas fora da área hospitalar. Fernando Araújo assumiu que a discussão deste tema “não é mais adiável” e que vai ser avaliado pela estrutura que dirige.

“A urgência não pode ser o primeiro local onde as pessoas pensam ir quando têm uma situação aguda não grave. Temos de encontrar outras portas”, afirmou esta quinta-feira Fernando Araújo, no discurso de abertura do SNS Summit, o primeiro evento público organizado pela DE-SNS, que se realiza na Aula Magna do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

Haver resposta nos cuidados de saúde primários é “fundamental”, referindo que têm equipas “com enorme capacidade”. “Temos de ser capazes de nos organizar para dar uma resposta à doença aguda menos grave de forma diferente. As Unidades Locais de saúde vão nesse sentido de integrar cuidados e respostas e de que o cidadão possa aceder de forma diferente aos cuidados de saúde.”

Araújo defendeu que é preciso intervir nos algoritmos do SNS24 e do INEM, trabalho que já está iniciado, e também actuar na forma de referenciação dos casos menos graves que chegam às urgências. “Temos de actuar na referenciação dos doentes para o serviço de urgência, nomeadamente nos casos das pulseiras azuis e verdes.”

“Este é um tema que tem sido discutido em muitos locais, mas sempre adiado porque é impopular. A DE-SNS vai pegar neste tema, vai ser muito discutido, mas não é mais adiável. Esta é uma área em que vamos aprofundar e vamos tomar as medidas que têm de ser tomadas para mudar este sistema”, afirmou. Sobre as medidas nada adiantou, mas actualmente, dentro do plano de Inverno que foi criado pelo Ministério da Saúde, já existe uma vida verde Aces [Agrupamentos de Centros de Saúde], em que os hospitais propõem aos doentes triados com pulseiras verdes e azuis o encaminhamento para o centro de saúde com a garantia que terá uma consulta dentro de 24 horas. A aceitação desta proposta é voluntária.

Assumindo que o problema das urgências “afecta a confiança dos cidadãos e dos profissionais”, Fernando Araújo salientou que é preciso apostar na literacia junto dos utentes, mas também dentro do hospital. O responsável apontou a possibilidade de existirem equipas dedicadas, a constituição de centros de responsabilidade integrada, apostar mais na hospitalização domiciliária e fazer uma melhor gestão de camas.

“Esta é uma mudança que tem de ser conseguida. Temos de olhar para a gestão de camas em termos de demora média [de dias de internamento]”, afirmou Araújo, apontando os cálculos de uma equipa da Comissão Europeia que esteve recentemente em Portugal. “Segundo os seus cálculos, se tivéssemos uma demora média semelhante ao melhor hospital de cada grupo, teríamos mais 2000 camas para o país. Temos de ter capacidade de mudar e conseguir melhores resultados”, afirmou.

Do lado dos médicos também haver caminho a fazer, disse Fernando Araújo, nomeadamente com a criação da especialidade de medicina de urgência que "infelizmente não foi aprovada" pela Ordem dos Médicos. "Penso que é uma medida importante. Não é um caminho terminado e que vamos prosseguir para que tal seja possível", afirmou o director executivo.

Apostar nos cuidados de saúde primários

Na sessão de abertura, mas por vídeo, a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, afirmou que é preciso “colocar no terreno reformas concretas e não perder mais tempo”. “O SNS tem três problemas para os quais precisamos de respostas urgentes, que implicam reformas corajosas: acesso, recursos humanos e financiamento. É importante agilizar e perder o medo de dizer que o actual modelo de acesso centrado no hospital é muito errado ou ultrapassado”, afirmou.

Para Ana Rita Cavaco “é essencial concretizar a reforma dos cuidados de saúde primários e cuidados comunitários, que valorize o trabalho de equipa”. “É urgente apostar num novo modelo de maior proximidade”, disse, deixando um recado: “Não se fazem reformas sem pessoas.”

O novo bastonário da Ordem dos Médicos também participou no evento da mesma forma. Carlos Cortes também defendeu que é fundamental que existam “soluções alternativas para as pessoas não recorrem à urgência”. Mas há mais caminho a fazer, considerou.

“Temos em primeiro lugar de nos debruçar sobre o desafio da transformação digital. Para melhorar os cuidados de saúde temos de ter uma verdadeira transformação digital para ligar os sectores público, privado e social e melhorar a ligação entre os cuidados de saúde primários, hospitalares e continuados. Em segundo lugar está o desafio da integração. Só ligando o sector social à saúde é que podemos ter melhores resultados. O mais importante desafio é o da humanização. É importante não esquecer que temos de centrar sempre a atenção nas pessoas”, defendeu Carlos Cortes.

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