Cartas ao director

Duas notas

Duas notas apenas, sugeridas pelo Público de ontem. A primeira refere-se aos escritos de João Miguel Tavares. Depois de, no domingo, ter publicado [no P2] um "ensaio" sobre a direita e a esquerda (ter-se-á perdido a noção da diferença entre ensaio e manifesto ideológico?), voltou ao seu habitual diapasão, neste caso a propósito da "irritação" do PS contra Cavaco Silva - observação realmente curiosa, quando se trata de um antigo Presidente que exibe, há quase uma década, a sua enorme raiva e até ressabiamento contra o partido que foi obrigado a colocar no governo. A segunda nota refere-se ao Tribunal Constitucional. A (real ou suposta) "guerra" Coimbra-Lisboa seria uma coisa divertida se não afectasse, como afecta, a imagem e a credibilidade de um órgão que é imensamente relevante para o funcionamento da nossa democracia. Não há, então, por parte dos juízes "caducados", a dignidade suficiente para renunciarem aos cargos? Fazem os outros finca-pé de ambições pessoais e teimas bairristas, bloqueando o processo de renovação? A responsabilidade pertence a todos os que, pela irredutibilidade, agora contribuem para o desprestígio do Tribunal.

António Monteiro Fernandes, Lisboa

Gato escondido com rabo de fora

A história repete-se, primeiro como tragédia, depois como farsa, dizia Karl Marx. Em 1995, durante o governo de maioria absoluta de Cavaco Silva, houve um bloqueio total à circulação na Ponte 25 de Abril, que acabou por conduzir à queda do governo. Ontem, um suposto grupo de professores independentes pretendeu repetir a história, mas daí resultou uma farsa, tendo em conta a fraca adesão a métodos do passado. Quando oiço falar em grupos independentes, fico sempre de pé atrás e com a ideia de que alguém quer esconder alguma coisa, porque ninguém é independente, pode é não estar filiado em nenhum partido. Desta vez o bloqueio falhou, por uma razão muito simples. O PCP não alinhou na aventura. E quando o PCP, que controla a grande maioria dos sindicatos, não alinha, é certo e sabido que a coisa vai falhar. O Chega e o BE ainda têm um longo caminho a percorrer até roubar o controle das ruas ao PCP.

J. Sequeira, Lisboa

As frases que Rui Nabeiro nunca diria

A vida de Rui Nabeiro mostra que é possível conjugar ser empresário com Humanidade e Solidariedade. Se todos os empresários fossem como Rui Nabeiro, nunca ouviríamos as frases de um ministro da Economia - “Infelizmente vivemos num país que, por motivos ideológicos, continua a considerar o lucro um pecado e nós temos de combater esses preconceitos” -, ou de um banqueiro - “Lucros excessivos na banca? Há hostilidade cultural ao capital e à sua acumulação.”

Pobreza e distribuição da riqueza estão intimamente associadas. Mais de 780 milhões de pessoas vivem com menos de 1,90 dólares/dia. Mais de 11% da população mundial vive na pobreza extrema e luta para sobreviver. Em contrapartida, os 10% mais ricos controlam 76% da riqueza global. Aos 50% mais pobres, cabem 2%. É preciso ter topete para chamar preconceituosos e “hostis culturais” aos que passam fome e aos que os defendem.

Fernando Vasco Marques, Sintra

O estado da justiça

Já não é a primeira vez, nem possivelmente será a última, que chamo a atenção para os esplêndidos artigos de Manuel Soares, presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses. Não sei nem quero saber a que partido pertence. As críticas sobre a justiça chovem de todo o lado, mas mesmo assim continua na mesma ou pior. Veja-se a carta da leitora Isabel Ribeiro de Lisboa, intitulada “Um longo fôlego na Justiça? Ou apenas um suspiro?". Não se entende o silêncio do Governo sobre tão importante assunto da vida de todos, gregos e troianos, nem de todos os partidos políticos. Quanto ao Presidente da República, brilhante aluno de Direito seguido de competentíssimo professor, sempre pronto a intervir sobre assuntos em “suspenso”, estranha-se o seu silêncio sobre um tema que envolve milhões de euros do erário público, ou seja, de todos nós.

Carlos Leal, Lisboa

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