Cartas ao director

Águas mornas

A conversa não é fácil nem sequer muito clara. Discute-se uma eventual diluição da fronteira entre territórios políticos, uma terra de ninguém entre “esquerda” e “direita”. Para João Miguel Tavares (J.M.T.), será uma espécie de “terra prometida” que o “deus do bom senso” reservou aos liberais, o povo eleito. É aí que se vai construindo o discurso equilibrado merecedor de constituir o evangelho socioeconómico que nos levará à redenção enquanto projecto de sociedade. Apesar de normalmente tomar banho com água muito quente, até posso concordar com parte substancial do discurso de J.M.T.

O problema é quando a nossa reflexão é feita em abstracto, principalmente se formos pessoas com uma vida razoavelmente confortável que, apesar da inflação e dos salários baixos, ainda conseguimos pagar as contas e ter dinheiro de sobra ao fim do mês para comprar um livro ou ir a uma sala de teatro. É que há uma multidão que não se pode dar a estes “luxos”. São os tais deserdados que nunca tiveram herança que não fosse fome e miséria. São os tais que, apesar de trabalharem, não conseguem ganhar dinheiro suficiente para pagar a renda de casa e poder comer decentemente uma vez por outra. E o tempo é curto.

A morte de Rui Nabeiro veio lembrar a todos nós que a solução se encontra na redistribuição da riqueza. Não há que abominar o capitalismo. Há que abominar os abutres, as sanguessugas e os vampiros que se aproveitam da nossa incapacidade para encontrarmos o tal lugar sem fronteiras onde todos seremos (mais ou menos) felizes.

Rui Silvares, Cova da Piedade

Os ricos e os riscos

Disse Costa e Silva que os portugueses consideram o lucro um pecado, frase que não corresponde à verdade — na minha opinião — porque aquilo que os portugueses sentem não é bem um sentimento de pecado, mas de inveja. É compreensível que um povo que vive, em grande maioria, com “dificuldades de tesouraria” sinta inveja de quem de tal mal não sofre. Inveja esta que só é atenuada quando aqueles que “lucram” e que mais têm de alguma maneira distribuem e partilham o muito que lhes sobra e mantêm com os menos afortunados uma relação de proximidade que esbata as diferenças de estatuto económico. Este foi — é — o segredo da popularidade de Rui Nabeiro e mal fará quem lhe suceder se não mantiver aquele mesmo padrão de comportamento.

Se o segredo da popularidade é aquele, o do “lucro”​ é outro bem diferente, um que o ministro da Economia não referiu. Trata-se da capacidade de assumir riscos. Nabeiro foi um homem que, desde muito novo, teve uma vida prenhe de riscos. Fazer contrabando entre Portugal e Espanha era difícil e perigoso. Arriscava-se a vida e era preciso saber com quem e quando se podia contar com outros. Foi uma “escola” onde se aprendia nas “aulas práticas” do dia-a-dia e, se somarmos a esta característica uma maneira de ser humanamente boa e, certamente, uma inteligência focada nas oportunidades, percebemos bem o sucesso daquele homem. Muitos houvesse como ele e este país seria bem melhor.

Jorge Mónica, Parede

“​Sr. Rui”​, exemplo universal

O exemplo de Rui Nabeiro, também o de uma minoria que como ele actuaram e actuam, deveria guiar todos os empresários e todos aqueles que, não o sendo, usufruem de riqueza que vai para além das suas necessidades. Deveria igualmente guiar os governantes dos países ricos e poderosos para que a solidariedade viesse a substituir o desejo egoísta de aumentarem a sua influência e riqueza. O “Sr. Rui” e Campo Maior são prova de que a solidariedade traz paz, harmonia e reconhecimento. Aquele homem, líder exemplar, deixou um importante legado. Vai este ultrapassar as fronteiras da sua terra? (…)

António Linhan, Londres

PÚBLICO Errou

Na edição de sábado, dia 18, por lapso, a fotografia usada para ilustrar o advogado Paulo Graça (na imagem em cima), que representa os militares que se recusaram a embarcar no navio-patrulha Mondego, era não de Paulo Graça, mas de outra pessoa, Paulo Graça Lobo. Aos visados, as nossas desculpas.

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