Manifestações contra reforma das pensões proibidas em Paris
Polícia fecha praça da Concórdia e Campos Elíseos após duas noites de protestos contra a aprovação por decreto da polémica lei que aumenta a idade de reforma para os 64 anos.
As manifestações contra a reforma das pensões na praça da Concórdia e nos Campos Elísios, em Paris, foram este sábado proibidas pelo comando da polícia, após duas noites de protestos ensombrados por incidentes.
"Devido aos sérios riscos de perturbações à ordem e à segurança públicas (…) todas as manifestações na via pública na praça da Concórdia e imediações, assim como na zona dos Campos Elísios, estão interditas", declarou à AFP a prefeitura.
"As pessoas que tentarem reunir-se serão sistematicamente desmobilizadas pelas forças da ordem" e poderão ser multadas, acrescentou a mesma fonte.
Estes locais situam-se perto da Assembleia Nacional e do palácio presidencial do Eliseu.
A contestação à reforma das pensões decidida pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, tomou contornos mais radicais, com jovens activistas cansados dos cortejos semanais e prontos para endurecer a luta, após a decisão do Governo, na quinta-feira, de aprovar o texto.
Na sexta-feira, como na véspera, milhares de pessoas reuniram-se na praça da Concórdia.
Uma fogueira foi acesa e o ambiente ficou tenso ao cair da noite, com a polícia a carregar sobre a multidão, segundo jornalistas da AFP.
Várias centenas de pessoas enfrentaram a polícia com garrafas e foguetes, tendo esta replicado com gás lacrimogéneo ao actuar para evacuar a praça, debaixo de chuva. Segundo o comando policial, 61 pessoas foram interpeladas.
Na véspera, 10.000 manifestantes reuniram-se no local e 258 pessoas foram detidas.
O Governo francês decidiu na quinta-feira adoptar a reforma das pensões, recorrendo ao artigo 49.3 da Constituição, que permite a adopção de um texto sem votação, a menos que seja aprovada uma moção de censura ao Executivo. A medida prevê o aumento da idade da reforma de 62 para 64 anos.
Na segunda-feira a Assembleia Nacional (parlamento) deverá examinar as moções de censura ao Governo apresentadas separadamente por um pequeno grupo de deputados independentes e pela extrema-direita.
Os deputados do grupo independente Liot depositaram na sexta-feira uma moção de censura ao Governo, co-assinada pela coligação de esquerda NUPES, em resposta à imposição da reforma governamental.
Por sua vez, os eleitos da União Nacional (RN, extrema-direita) avançaram com uma moção de censura alguns minutos mais tarde.
“Não votaremos todas as moções de censura apresentadas”, sublinhou a deputada de extrema-direita Laure Lavalette. O texto apresentado pelo Liot é susceptível de federar diversos campos políticos, ao contrário da moção da União Nacuonal.
Para provocar a queda do Governo, uma moção de censura deve recolher a maioria absoluta na Assembleia nacional (287 votos). Este resultado necessitaria em particular que 30 deputados do partido Os Republicanos (LR, direita), num total de 61, fornecessem o seu apoio durante a votação, hipótese que parece improvável.