Duas moções de censura ao Governo de Macron pela reforma das pensões

Promotores de uma iniciativa “transpartidária” esperam conseguir o apoio d’Os Republicanos, cuja bancada está dividida. Sindicatos convocam novo dia de manifestações para quinta-feira.

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Presidente francês, que ordenou o uso do artigo 49.3 da Constituição, tem-se mantido em silêncio POOL/Reuters

Depois de aprovar a reforma do sistema de pensões por decreto, por não ter a certeza de ter votos favoráveis suficientes, o Governo francês agarra-se novamente à calculadora perante a perspectiva de enfrentar duas moções de censura na segunda-feira.

Mais uma vez, é nas mãos dos deputados d’Os Republicanos que está o sucesso ou insucesso das moções.

A primeira a entrar na Assembleia Nacional nesta sexta-feira, antes que se esgotasse o prazo de 24 horas para o fazer, foi a promovida por 20 deputados independentes. O grupo centrista, conhecido como Liot, conseguiu arrecadar as assinaturas de 91 deputados de cinco bancadas. “Lamento que os meus colegas d’Os Republicanos não tenham subscrito, mas espero que sejam numerosos a votá-la”, declarou o líder da formação no Parlamento, Bertrand Pancher.

O líder d’Os Republicanos, Eric Ciotti, anunciou na quinta-feira que não apoiará nenhuma moção de censura, argumentando que não participará “nunca numa coligação de extremos”. Mas vários dos seus deputados gostariam que o grupo tivesse apresentado uma moção própria e estão a ponderar votar as que serão debatidas.

Aurélien Pradié é um deles. Aos microfones da BFMTV deu uma pista do que poderá acontecer na segunda-feira: “Cada deputado é totalmente livre de participar noutra moção de censura. Eu, pessoalmente, não desejo associar os meus votos aos d’A França Insubmissa e da União Nacional.”

Nas contas daquela estação de televisão, e contando que toda a esquerda e a União Nacional (extrema-direita) votam favoravelmente o texto do grupo Liot, é preciso que pelo menos 30 deputados d’Os Republicanos também se associem para que a moção seja bem-sucedida. São precisos 287 votos para fazer cair o Governo e, até agora, apenas sete eleitos do partido de Ciotti manifestaram publicamente a intenção de votar as moções.

A União Nacional, de Marine Le Pen, que é o partido mais representado na Assembleia, também depositou nesta sexta-feira uma moção de censura própria e anunciou que votará favoravelmente “todas as apresentadas”.

Protestos continuam

Em Paris prossegue a greve dos trabalhadores de limpeza e 10 mil toneladas de lixo estão nas ruas por recolher. A paralisação vai durar “pelo menos” até segunda-feira, anunciaram os sindicatos.

A capital foi uma das dezenas de cidades em que se realizaram manifestações espontâneas, algumas violentas, na noite de quinta. Foram detidas 310 pessoas em todo o país.

Já nesta sexta houve bloqueios de estradas nos arredores de Paris. Em Bordéus, os manifestantes invadiram as linhas ferroviárias e impediram a circulação de comboios. Em Lyon, os trabalhadores da Ópera decidiram impedir a realização de espectáculos neste fim-de-semana.

O movimento intersindical convocou para a próxima quinta-feira, dia 23, uma nova jornada de luta. Será a nona em dois meses e a primeira depois da aprovação da reforma por decreto.

As tensões em redor desta reforma são tantas que a chefe da bancada parlamentar do partido de Emmanuel Macron, Aurore Bergé, escreveu ao ministro do Interior, apelando “aos serviços de Estado” que assegurem “a protecção dos parlamentares” da maioria. “Recuso ver os deputados do meu grupo, ou quaisquer deputados da nação, com medo da sua expressão individual, medo de votarem livremente porque temem represálias”, lê-se na missiva divulgada pela AFP.

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