“Sinto-me como se tivesse cometido um erro horrível ao tornar-me mãe”

Quando uma mãe se sente perdida no seu papel, é importande não desvalorizar os sintomas e procurar ajuda.

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A nossa cultura não dá muito espaço à ambivalência, quanto mais aos sentimentos que não são calorosos e alegres por ser mãe/pai DR/Danijel Durkovic via Unsplash

Estou a ter muita, muita dificuldade a assumir o papel de mãe. Sinto-me como se tivesse cometido um erro horrível; simplesmente não sei o que fazer comigo própria e com o resto da minha vida. Tenho apoio e um grande parceiro, mas não fazia ideia da pouca paciência que tinha e do quanto eles iriam desviar a minha capacidade de ser plenamente eu própria no dia-a-dia.


Obrigada por escrever. A única mensagem que quero que retirem hoje desta coluna é: “Não está sozinha”.

Não sei em que ponto está na maternidade, mas se é recente, a depressão pós-parto (DPP) é comum, e cerca de uma em cada sete mulheres pode desenvolver DPP após o nascimento, segundo os Institutos Nacionais de Saúde (NIH). A DPP é significativamente mais grave do que o baby blues ou tristeza geral. A DPP é uma doença mental grave e precisa de ser tratada desta forma.

Enquanto o baby blues pode fazê-la sentir-se ansiosa, mal-humorada e irritadiça, a DPP tem outro conjunto de sintomas, que, de acordo com os NIH, incluem: um humor depressivo que está presente durante a maior parte do dia, a perda de interesse ou prazer durante a maior parte do dia, insónia ou hipersónia, atraso ou agitação psicomotora, sentimentos de inutilidade ou culpa, perda de energia ou fadiga, ideação ou tentativa suicida e pensamentos recorrentes de morte, concentração reduzida ou indecisão, e uma mudança de peso ou apetite.

Também precisa de estar consciente da psicose pós-parto, que, segundo a Clínica Mayo, inclui sintomas como sentir-se confusa e perdida, ter pensamentos obsessivos sobre o seu bebé, alucinar e ter ilusões, ter problemas de sono, ter demasiada energia e sentir-se perturbada, sentir-se paranóica e fazer tentativas de prejudicar-se a si própria ou ao seu bebé.

Embora raros, os pais também podem experimentar estes sintomas.

Independentemente de estar a atravessar o período pós-parto, as coisas que escreveu são grandes alertas vermelhos de uma depressão. Fico animada por saber que tem um parceiro amoroso. Por favor, vá ter com o seu parceiro e diga-lhe como se sente perdida, e peça ajuda para obter apoio. Encontre um terapeuta especializado em parentalidade e depressão o mais depressa possível.

Não deve sentir nenhum julgamento por parte de um terapeuta em relação a sentir-se como se tivesse cometido um erro e tivesse perdido a sua identidade. Muitos, muitos pais sentem-se assim, mas a nossa cultura não dá muito espaço à ambivalência, quanto mais aos sentimentos que não são calorosos e alegres por ser mãe/pai. A pressão pela positividade só agrava as suas próprias dúvidas, mas saiba que não há nada de errado consigo. (De facto, há toda uma lista de livros sobre a ambivalência em torno da maternidade!)

Finalmente, é importante abordar estes sentimentos por si própria, mas também pela sua relação com os seus filhos. Sem acumular culpa e preocupação, os dados são claros de que a depressão parental afecta a ligação com os filhos, por isso, quanto mais cedo obtiver apoio, melhor será para todos na sua família. Como diz o ditado, “as crianças são observadores atentos, mas intérpretes pobres”, o que significa que os seus filhos presumirão provavelmente que foi algo que fizeram que a deixaram agitada e zangada.

Mais uma vez, não fizeram nada de errado, e não têm nada do que se envergonhar; a saúde mental é tão importante como qualquer outro aspecto da nossa saúde. Por favor, contacte um terapeuta, e se a depressão se sentir insuperável, contacte uma linha directa. Boa sorte.


Exclusivo PÚBLICO/The Washinton Post

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