“Todos somos pecadores.” Bispo de Beja diz que padres arrependidos de abuso poderão ter “perdão”

Bispo de Beja, que se esquecera de responder ao pedido de entrevista da comissão independente devido a um AVC que lhe deixou mazelas, admite agora que padres abusadores possam ser perdoados.

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O bispo de Beja, D. João Marcos Adriano Miranda

Para o bispo de Beja, D. João Marcos, os padres suspeitos de abusos sexuais que demonstrem arrependimento e reparem os actos cometidos poderão ser perdoados pela Igreja. “Todos somos pecadores, todos somos limitados, todos temos falhas. Esta maneira de abordar não é muito católica. Na Igreja Católica, existe o perdão", disse o clérigo, em declarações à SIC.

Nos últimos dias, na sequência da parca resposta da Comissão Episcopal Portuguesa (CEP) à lista de nomes de clérigos suspeitos de abusos sexuais a crianças, coligida e entregue pela comissão independente, a Igreja tem tido dificuldade em ser unânime sobre o que fazer. Continuar em funções ou suspender preventivamente padres que estão no activo até tudo ser investigado?

Questionado sobre se estes casos devem seguir para os tribunais, se os padres devem ser suspensos preventivamente ou se o “perdão” seria suficiente para ilibar padres suspeitos destas acusações, o bispo de Beja admite que estes sejam perdoados, se demonstrarem arrependimento.

“Se realmente as pessoas estão arrependidas do que fizeram, se fizerem a penitência e repararem o que fizeram. Se há este novo nascimento, que o perdão nos oferece, isso é importante. Não podemos desvalorizar isso”, disse D. João Marcos. “A justiça é como que a estrutura que segura, que dá firmeza, a este edifício que é a caridade, que é o perdão, que é a misericórdia”, acrescentou ainda.

No domingo, o cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, afirmou que os padres suspeitos só podem ser suspensos preventivamente por determinação da Santa Sé. No entanto, tanto o bispo auxiliar de Braga, D. Nuno Almeida, como o reitor do seminário maior de Coimbra, o padre Nuno Santos, discordam dessa visão. E garantiram, em declarações ao PÚBLICO, que os bispos não só têm esse poder de decisão, como são inclusive aconselhados a usá-lo no manual de instruções que o Vaticano divulgou em 2020 para ajudar os bispos e os superiores de institutos religiosos a lidar com este problema.

Na sexta-feira, em conferência de imprensa, o presidente da CEP, D. José Ornelas, pôs nas mãos de cada bispo quais as medidas a tomar “à luz do direito civil e do direito canónico”.

Na lista que foi entregue na sexta-feira pela comissão independente à CEP e, por conseguinte, às dioceses, o bispo diz constarem “nove situações” envolvendo suspeitas de abusos em Beja. No entanto, à SIC, D. João Marcos disse ainda não ter os nomes porque saiu mais cedo da reunião. Sobre o que fará com os clérigos suspeitos, disse que olhará novamente para as situações. “Cada caso é um caso. A decisão que tomarei dependerá em grande parte desta segunda análise dos casos”, disse.

D. João Marcos foi um dos bispos apontados pela comissão independente como não tendo respondido ao pedido de entrevista feito. O bispo de Beja esclareceu depois ter-se esquecido de responder, afirmando também que um AVC que sofreu há alguns anos lhe deixou algumas mazelas, entre as quais o esquecimento. Mas disse-se igualmente disponível para colaborar e que os arquivos foram postos à disposição para consulta da comissão independente.

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