“Má notícia para os Açores”, disse Bolieiro a Costa quando foi informado da ida de Luís Rodrigues para a TAP

O primeiro-ministro ligou a José Manuel Bolieiro a poucas horas da conferência de imprensa, mas governo açoriano não gostou de ter sido apanhado de surpresa e de não ter sido consultado.

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Luís Rodrigues passa da liderança da SATA para CEO da TAP Miguel Manso

Pela hora de almoço de segunda-feira, a poucas horas da conferência de imprensa dos ministros das Finanças e das Infra-Estruturas, o primeiro-ministro António Costa ligou ao presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, a dar conta da saída de Luís Rodrigues da SATA para a liderança da TAP.

A novidade foi recebida com surpresa do lado açoriano. “É uma má notícia para os Açores”, respondeu Bolieiro, segundo apurou o PÚBLICO. Para o dia seguinte, ou seja, nesta terça-feira, o executivo dos Açores tinha prevista uma conferência de imprensa para apresentar o caderno de encargos, desenhado por Luís Rodrigues, para a privatização da Azores Airlines, uma exigência da Comissão Europeia para viabilizar o plano de reestruturação da companhia.

O governo regional também já tinha agendada uma reunião com todos os partidos no parlamento açoriano para dar conta dos critérios definidos para a alienação daquela empresa do grupo SATA (Serviço Açoriano de Transportes Aéreos), responsável pela ligação dos Açores ao exterior.

Pouco tempo antes da chamada de António Costa, Bolieiro tinha estado sob os holofotes dos jornalistas devido a uma nova crise no interior do seu governo, motivada pela demissão do secretário da Saúde por “divergências insanáveis” e razões “exclusivamente políticas”. Mas o assunto acabou relegado para segundo plano nas prioridades do governo açoriano, porque a saída do presidente da SATA numa altura decisiva para o futuro da companhia fez soar os sinais de alarme.

A forma como o processo foi conduzido pela República não agradou ao governo açoriano, confirmaram fontes governamentais ao PÚBLICO.

É a segunda baixa em dois meses. Em Fevereiro, o braço direito de Rodrigues na SATA, Mário Chaves, também saiu da transportadora açoriana para liderar a Portugália, que integra a TAP. Ambos tinham sido nomeados em Janeiro deste ano para a nova SATA holding, criada no âmbito da reorganização do grupo.

Na tal conferência de imprensa sobre a privatização da Azores Airlines, o secretário das Finanças, Duarte Freitas, que já presidiu ao PSD nos Açores, foi claro nas críticas. “Não fomos consultados, mas sim informados sobre a ida de Luís Rodrigues para a TAP. O governo dos Açores foi informado, não foi consultado. Aquilo que dizemos é que não vamos vergar. Não nos vão fazer desistir de salvar a SATA”, afirmou o secretário regional aos jornalistas, na Horta, onde está a decorrer o plenário da Assembleia Legislativa.

Duarte Freitas reconheceu que a saída do presidente da SATA é uma “contrariedade” e revelou que o executivo regional só recebeu um “contacto do Governo da República por volta da hora de almoço” de segunda-feira.

À Lusa, fonte oficial do Governo corroborou a história, afirmando que o primeiro-ministro informou pessoalmente o presidente do Governo Regional dos Açores, por telefone, na segunda-feira, sobre a saída de Luís Rodrigues para a TAP.

Inclusive na conferência de imprensa desta segunda-feira em que foi anunciada a saída dos líderes da TAP, o ministro das Finanças Fernando Medina agradeceu a Bolieiro a colaboração no processo.

Em Junho, a Comissão Europeia aprovou uma ajuda estatal portuguesa para apoio à reestruturação da SATA de 453,25 milhões de euros em empréstimos e garantias estatais, prevendo “remédios” como uma reorganização da estrutura empresarial.

A injecção financeira implica o desinvestimento de uma participação de controlo (51%) na Azores Airlines, o desdobramento da actividade de assistência em terra e uma reorganização da estrutura empresarial da SATA, com a criação de uma holding que substitui a SATA Air Açores no controlo das suas operações subsidiárias.

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