O Grimsby Town é o novo herói da Taça de Inglaterra

Equipa do quarto escalão do futebol inglês surpreendeu o Southampton, da Premier League, e está nos quartos-de-final. “Disse aos jogadores que podíamos perder por 10-0”.

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Os jogadores a empunharem um dos peixes insufláveis usados pelos adeptos nas bancadas Reuters/TOBY MELVILLE
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A festa dos adeptos dos "mariners" Reuters/TOBY MELVILLE
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Gavan Holohan, autor dos dois golos do Grimsby Town Reuters/TOBY MELVILLE
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A mascote do clube, um marinheiro, antes do início do jogo Reuters/TOBY MELVILLE
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O momento da celebração de um dos golos Reuters/TOBY MELVILLE
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A festa dos jogadores no relvado, no final da partida Reuters/TOBY MELVILLE

Esta frase de Paul Hurst diz praticamente tudo: "Isto soa um pouco ridículo, é como se alguém estivesse a jogar Football Manager no computador". Foi esta a ideia que o treinador do Grimsby Town encontrou para definir o surpreendente/histórico/escandaloso apuramento da equipa para os quartos-de-final da Taça de Inglaterra. Uma proeza ainda mais improvável se tivermos em conta que aconteceu em casa de um adversário da Premier League.

Para se perceber melhor a dimensão do que alcançou o Grimsby Town, convém sublinhar que este pequeno clube de Cleethorpes, em Lincolnshire, no Norte de Inglaterra, compete no quarto escalão do futebol britânico. Sim, quarto escalão. E mesmo nesta realidade, francamente modesta quando comparada com as eliminatórias decisivas da Taça de Inglaterra, ocupa um pouco entusiasmante 16.º lugar (em 24 equipas) na classificação. Ora, tendo em conta que iria defrontar o Southampton (1-2), fora de portas...

As expectativas eram baixas, de facto. Muito baixas mesmo, de acordo com o discurso do próprio treinador: "Disse aos jogadores que podíamos perder por 10-0. Disse-lhes que poderia ter de usar uma venda nos olhos. É o medo a falar: se aparece pela frente um clube da Premier League, pode rebentar com qualquer adversário da League 2", admitiu Paul Hurst, em declarações à BBC Sport.

Na verdade, o Grimsby Town já tinha cumprido a missão na Taça com a chegada aos oitavos-de-final, afastando, ao longo da caminhada, o Plymouth Argyle (5-1), o Cambridge United (1-2), o Burton Albion (1-0) e o Luton Town (2-2 e 3-0). Mas ainda havia mais uma (pelo menos mais uma) surpresa guardada na manga para este clube fundado há 145 anos (inicialmente como Grimsby Pelham) e que tem o Scunthorpe United como principal rival.

No St. Mary's Stadium, em Southampton, sentaram-se quase 4000 adeptos da equipa visitante, também conhecida pela alcunha "Os marinheiros" - e isso explica por que razão havia centenas e centenas de peixes insufláveis nas bancadas, um ritual que deu um tom especial ao ambiente. Afinal de contas, era já um jogo histórico, independentemente do que acontecesse. É verdade que o Grimsby Town até já chegou a uma meia-final da Taça de Inglaterra, mas fê-lo num contexto muito distinto, na década de 1930, período em que a clivagem entre os clubes nada tinha a ver com o actual desequilíbrio de forças. Desta feita, era David contra Golias.

Dois penáltis, dois golos: "É surreal"

Isso foi antes do apito inicial. E em parte também durante o encontro, um daqueles jogos em que a realidade contraria a tendência das estatísticas: 75% de posse de bola para o Southampton contra 25% do Grimsby, 22-4 em remates, 16 deles dentro da área contra apenas dois, 10-0 em pontapés de canto. Acontece que os dois remates desferidos, dentro da área, pelos visitantes, resultaram em golo. E foram ambos de grande penalidade. E ambos assinados pelo médio irlandês Gavan Holohan.

O treinador do Southampton (último classificado na Premier League) viria a lamentar-se, no final, da má exibição colectiva e dos erros absurdos cometidos dentro da área, que custaram dois penáltis (e a eliminação) à equipa. Mas o dia era do Grimsby Town, que pouco se importou com o golo do adversário, aos 65', e aguentou estoicamente a vantagem até ter o direito de fazer a festa.

"Voltámos para o hotel ontem à noite, passámos algum tempo juntos. Não consigo tirar da cabeça a ideia de que estamos nos quartos-de-final da Taça de Inglaterra. Estamos encantados, mas é surreal", insistiu Paul Hurst, técnico de 48 anos sem especial currículo quer como jogador (um lateral esquerdo das Ligas amadoras), quer como treinador, mas que acaba de fazer do Grimsby Town apenas a segunda equipa do quarto escalão ou inferior, desde 1989-90, a chegar a uma fase tão adiantada da prova.

Gavan Holohan fez questão, de resto, de partilhar o momento com os adeptos ("É inacreditável a gente que trouxemos numa quarta-feira à noite, estou feliz por eles"), enquanto Hurst sublinhou o papel dos actuais proprietários, os líderes da empresa 1878 Partners, que em 2021 adquiriram o clube: "Têm sido tempos difíceis para o Grimsby. Os novos donos deram à cidade e aos adeptos um impulso. Desde que chegaram, só temos vivido dias bons". Nenhum como este, porém, até agora.

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