Dezenas de mortos no pior acidente ferroviário na história da Grécia

Choque frontal entre dois comboios deu-se na meia-noite de terça-feira. Ministro dos Transportes demitiu-se e chefe de estação foi detido. Há vítimas que só podem ser identificadas com análise ao ADN.

As carruagens de um comboio de passageiros saíram disparadas dos carris quando este embateu frontalmente num comboio de mercadorias, na terça-feira à noite, na Grécia. No pior acidente ferroviário de que há memória no país morreram pelo menos 40 pessoas e mais de 130 ficaram feridas.

A colisão ocorreu por volta da meia-noite (22h em Lisboa) e as equipas de resgate empenharam-se durante todo o dia de quarta-feira em encontrar sobreviventes e retirar os corpos presos nos destroços. No local, que fica perto de Tempe, a cerca de 380 quilómetros de Atenas, estão as massas disformes de carruagens que se tornaram sucata em poucos minutos e que podem esconder ainda mais vítimas mortais.

“Havia muitos bocados grandes de aço. Os comboios ficaram completamente destruídos”, contou à Associated Press um habitante das redondezas que diz ter sido um dos primeiros a chegar ao local do acidente. “As pessoas estavam assustadas, muito assustadas”, disse Vassilis Polyzos.

“O processo de evacuação continua e decorre em condições muito complicadas devido à severidade da colisão entre os dois comboios”, afirmou um porta-voz dos bombeiros gregos, Vassilis Vathrakogiannis. Segundo os sobreviventes, mal as duas composições chocaram, deflagrou um incêndio que, de acordo com o porta-voz dos bombeiros, elevou a temperatura da primeira carruagem para os 1300 graus. Quando ainda só estavam confirmadas 36 vítimas, Vathrakogiannis já alertava para que, tendo em conta o que encontraram no local da tragédia, era “expectável” que o número fosse maior.

Devido ao incêndio, só com testes de ADN será possível identificar algumas vítimas. Num hospital de Larissa, a cidade por onde o comboio de passageiros tinha passado pouco antes do embate, a Reuters encontrou familiares de passageiros à espera de notícias. “Teremos sorte se tivermos um corpo para enterrar”, desabafou à agência o cunhado de uma mulher, Maria, que estava na primeira carruagem e continua desaparecida.

O comboio de passageiros fazia a ligação entre Atenas e Salónica, a segunda maior cidade grega, e seguia com cerca de 350 pessoas a bordo, incluindo muitos estudantes que regressavam a casa depois de um fim-de-semana prolongado em que se festejou o Carnaval e o início da Quaresma ortodoxa grega.

Apesar de se tratar de uma linha com via dupla, e de o comboio de carga estar a fazer o percurso inverso ao de passageiros, as duas composições estavam a circular na mesma via quando se deu a colisão. O chefe da Estação de Larissa, responsável pela sinalização, um homem de 59 anos que estava no cargo há 40 dias, foi detido por suspeitas de negligência, mas este alega que houve uma falha técnica no sistema. De acordo com um porta-voz do Governo, Giannis Oikonomou, os comboios circularam “muitos quilómetros” na mesma via.

​O líder do sindicato de maquinistas, Kostas Genidounias, queixou-se a vários canais de televisão que o sistema de sinalização ferroviária na Grécia é arcaico e que a bordo dos comboios não há qualquer sistema electrónico funcional. “Nada funciona, é tudo feito manualmente”, disse. Um outro ferroviário, citado pelo site noticioso Greek Reporter, explica que compete ao chefe de cada estação monitorizar a circulação dos comboios e certificar-se de que não há perigo.

Entre as vítimas mortais contam-se pelo menos oito tripulantes de ambos os comboios.

O ministro dos Transportes e Infra-estruturas, Konstantinos Karamanlis, apresentou o pedido da sua demissão. ​“Sinto que é meu dever, como o mais pequeno sinal de respeito pela memória das pessoas que morreram tão injustamente, assumir a responsabilidade pelas deficiências do Estado grego e do sistema político ao longo dos anos”, disse em comunicado, citado pelo jornal Ekathimerini. “Quando algo tão terrível acontece, não podemos continuar a agir como se não tivesse acontecido”.​

​​O Governo grego decretou entretanto três dias de luto nacional. “O nosso dever é tratar os feridos e identificar os corpos. Posso garantir uma coisa: vamos descobrir as causas desta tragédia e faremos tudo o que pudermos para evitar que algo assim possa acontecer novamente”, declarou o primeiro-ministro, Kyriakos Mitsotakis, em visita ao local.

Entre os feridos há 66 pessoas hospitalizadas e seis nos cuidados intensivos. O chefe das urgências do hospital de Larissa diz que a maioria das vítimas são pessoas na casa dos 20 anos. Continuam desaparecidas entre 50 e 60 pessoas.

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