Museu d’Orsay forçado a devolver obras de Renoir, Cézanne e Gauguin

Tribunal administrativo de Paris ordenou a restituição das pinturas aos herdeiros do negociante de arte e galerista Ambroise Vollard.

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Marine, Guernsey (1883), de Pierre-Auguste Renoir DR

A justiça francesa ordenou ao Museu d’Orsay que restitua quatro obras de arte – duas telas de Pierre-Auguste Renoir, uma de Paul Cézanne, e outra de Paul Gauguin – que vinham sendo reclamadas há uma década pelos herdeiros do marchand, galerista e editor Ambroise Vollard. O Estado francês, que tutela o museu, já anunciou que não irá recorrer da decisão.

As obras em causa são uma paisagem marítima – Marine, Guernsey (1883) – e um estudo a sanguínea para a obra O Julgamento de Páris (1908), ambos de Renoir, uma Natureza Morta com Bandolim (1885), de Gauguin, e uma aguarela de Cézanne intitulada Sous-Bois (1890-1892), que pertenciam à colecção de Ambroise Vollard e foram vendidas após a sua morte, no período de ocupação nazi da França.

Além destas quatro telas que agora vão finalmente reaver, os herdeiros de Vollard – que ajudou a lançar pintores como Van Gogh, Matisse ou Picasso – reclamam ainda direitos sobre mais duas obras de Renoir (Rosas Num Vaso e As Grandes Banhistas) e uma outra de Cézanne (Cabeça de Velho), também elas conservadas no Museu d’Orsay.

Ambroise Vollard – que deu nome à célebre Suite Vollard, um conjunto de cem gravuras que o galerista encomendou a Picasso nos anos 30 do século passado – morreu em Julho de 1939, aos 73 anos, num acidente de viação. Contou-se que estaria a dormir nos assentos traseiros do seu carro, conduzido por um motorista, quando um choque da viatura lhe fez tombar sobre a cabeça uma estátua de bronze esculpida por Aristide Maillol. A história nunca foi devidamente confirmada, mas o certo é que Vollard não fez testamento e deixou mais de seis mil obras de arte, cuja distribuição pelos seus irmãos e irmãs gerou intermináveis controvérsias.

Um desses irmãos, designado como executor da herança, Lucien Vollard, terá ajudado dois negociantes de arte franceses – Étienne Bignou e Martin Fabiani – a desviarem parte das obras da colecção para serem vendidas a museus e coleccionadores alemães durante a ocupação. Ambos foram condenados por ganhos ilícitos após a Segunda Guerra Mundial, mas aparentemente sem grandes consequências, uma vez que se mantiveram depois activos no meio durante várias décadas.

As telas foram encontradas na Alemanha pelas forças aliadas, em 1945, e devolvidas à França, onde se conservam no Museu d’Orsay, cuja colecção de pintura impressionista e pós-impressionista, com mais de mil telas, é considerada a maior do mundo.

Os herdeiros de Vollard pediram a devolução das obras, mas o Estado francês defendeu que as circunstâncias em que tinham sido vendidas não eram suficientemente claras para justificar a restituição. E o facto de Vollard não ser judeu e de a sua colecção não ter sido pilhada ao abrigo das leis raciais nazis tornou o processo de restituição mais complexo, explica o site ArtNews.

Em 2018, o Estado recusou-se a devolver estas mesmas quatro obras, mas em 2022 o tribunal judicial de Paris estabeleceu que os herdeiros de Vollard são os proprietários legítimos das telas. Uma decisão agora confirmada pelo tribunal administrativo, que ordenou ao Estado a devolução das pinturas. A decisão era ainda susceptível de recurso, mas o Estado francês terá já anunciado que não tenciona recorrer.

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