A pílula engorda? Posso “apanhar” uma infecção numa sanita? Livro do Bem-Estar e Saúde da Mulher responde

À venda a partir de 20 de Fevereiro, o livro da médica de família Nádia Sepúlveda quer responder a questões relacionadas com a saúde da mulher. Escolhemos dez (mais uma) dúvidas. Sabias que...?

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African American woman portrait with shadows on her body and white background in Granada, Spain Tania Cervián

... o risco trombótico é maior no primeiro ano de utilização do método hormonal ou após uma paragem com mais de um mês de duração?

Sabemos que o risco de um evento trombótico associado a um contraceptivo hormonal está aumentado no início da sua utilização, nomeadamente nos primeiros 12 meses, e depois vai reduzindo ao longo do tempo. De igual modo, o risco trombótico após uma pausa que seja superior a um mês, está igualmente aumentado. É um dos motivos pelos quais, se uma mulher estiver adaptada ao seu método, não faz sentido fazer «pausas para descanso», um conselho que era comummente escutado há uns anos atrás, mas que não tem, presentemente, qualquer justificação clínica.

... a pílula não causa infertilidade?

Contrariamente à crença habitual, a pílula não tem qualquer impacto a longo prazo na fertilidade feminina (nem nenhum outro método, à excepção do cirúrgico). A maioria das mulheres irá retomar os seus ciclos ovulatórios no prazo de três meses após a suspensão do método contraceptivo hormonal. A única excepção é o método progestativo injectável: a retoma plena da fertilidade pode demorar até 6 a 9 meses.

… a pílula não leva a um aumento considerável de peso?

O receio do aumento de peso é uma das preocupações mais frequentes das utilizadoras, mas a verdade é que, na maior parte dos estudos, não foi encontrado um aumento evidente de peso; por norma, não é expectável que ocorra mais do que uma variação ligeira de peso (± 1 a 2 kg) nas mulheres que iniciam o uso tanto de pílulas combinadas como progestativas. Relembro que, tendencialmente, quer os homens quer as mulheres, vão aumentando de peso ao longo da vida, pelo que este facto é um factor confundidor habitual nesta percepção de que se engordou após iniciar contracepção hormonal.

… a maior parte dos antibióticos não interfere na eficácia da pílula?

Contrariamente ao que se preconizava no passado, sabemos hoje que a maioria dos antibióticos utilizados (com excepção da rifampicina e rifabutina, usados no tratamento da tuberculose) não interfere directamente na eficácia da pílula contraceptiva. A única excepção será se a sua toma provocar diarreia intensa. Nesse caso será necessário associar um método adicional, como o preservativo, caso haja relações sexuais durante a terapêutica e nos sete dias seguintes.

… o efeito da pílula na libido é controverso?

Uma das principais dúvidas no que toca ao uso da pílula é se tem — ou não — impacto na libido e na lubrificação feminina. É fulcral deixar claro que a sexualidade, sobretudo a feminina, é extremamente complexa, por isso é bastante difícil avaliar este tipo de parâmetro de forma taxativa, sem factores confundidores. Não obstante, uma revisão da literatura científica aponta que, por norma, 85 % das mulheres reporta um efeito nulo ou positivo no desejo sexual, ao passo que 15 % referem uma diminuição. É importante abordar a sexualidade de forma holística, e ponderar suspender ou trocar, junto do(a) médico(a) assistente, caso surjam queixas.

… nunca se deve utilizar dois preservativos em simultâneo?

Não se devem usar em simultâneo nem dois preservativos masculinos, nem um preservativo feminino e outro masculino, ou dois femininos, pelo risco de aderência, que pode ocasionar ruptura e/ou expulsão, e consequente falha do método.

… não existe um limite para o número de “pílulas do dia seguinte” que uma mulher pode fazer?

A ideia de que uma mulher só pode fazer duas ou três vezes contracepção de emergência está enraizada, mas não existe qualquer base científica para tal crença. Esta falsa concepção chegou a ser um dos chavões da "Educação" Sexual (embora "doutrina" fosse uma designação mais fiel à verdade) que se praticou, outrora, nalgumas escolas, com intuito de assustar e promover o celibato e a abstinência sexual. O que a ciência nos diz, no entanto, é que estes métodos não têm efeitos a longo prazo na saúde feminina, nem na sua fertilidade a longo prazo. Não deverão, no entanto, ser usados como método contraceptivo recorrentemente, até porque não são 100% eficazes a evitar uma gravidez indesejada.

… praticamente, todos os adultos sexualmente activos terão HPV ao longo da vida?

A grande maioria de nós — estima‑se que cerca de 80 % até aos 45 anos — terá HPV (um ou vários tipos). Felizmente, a maioria dos casos são inofensivos, e não resultam em patologia. Esta infecção sexualmente transmissível é particularmente prevalente porque, não obstante a sua transmissão poder ser minimizada pelo uso de métodos de barreira, como os preservativos, durante as relações sexuais, esta pode acontecer pelo contacto pele com pele das regiões genital e anal. É importante que fique claro que ter HPV não significa, de todo, que se irá obrigatoriamente ter um cancro do colo do útero, mesmo que sejam dos tipos mais oncogénicos, o 16 e o 18. Existem outros factores, nomeadamente genéticos e de exposição ambiental (como o caso do consumo de tabaco, que aumenta substancialmente o risco) que têm um papel relevante na génese deste cancro.

... a candidíase vulvovaginal não é considerada uma IST?

Existe, por vezes, alguma confusão a respeito da candidíase ser, ou não, uma infecção sexualmente transmissível. A verdade é que a candidíase resulta da proliferação excessiva de fungos que já fazem parte da flora habitual da mulher (habitualmente Candida albicans), por desequilíbrios no pH e/ou no número de bactérias benéficas, os lactobacilos. Assim se explica que mesmo crianças e jovens do sexo feminino sem actividade sexual também apresentem candidíases vulvovaginais.

… uma infecção urinária não se “apanha” numa sanita?

Contrariamente à crença comum e que ainda hoje prevalece na mente de muitas pessoas, a infecção urinária não é algo que se contraia por utilizar uma casa de banho pública: virtualmente 99,9 % das infecções urinárias em mulheres jovens saudáveis resultam de nós mesmas, ou melhor, de microrganismos que residem habitualmente no nosso intestino, e que, por algum motivo, foram parar ao local errado.

… é recomendável utilizar protecção solar mesmo dentro de edifícios e dos automóveis?

Se realizarem actividades junto de uma janela, a radiação UVB será filtrada, mas o mesmo não acontece com a radiação UVA, que atravessa o vidro, e continuará a exercer os seus efeitos em termos de envelhecimento e desenvolvimento de manchas. Assim, é recomendado utilizar protector solar com protecção UVA, mesmo no interior de edifícios, se tiverem fontes de luz natural. Um exemplo ilustrativo deste paradigma pode ser encontrado no rosto da maioria dos taxistas: o lado esquerdo, mais exposto à radiação UVA, tem por norma uma aparência mais envelhecida, com rugas mais marcadas e mais manchas solares (isto se não estiverem a conduzir no Reino Unido, onde, pelos motivos óbvios, o lado "mais velho" será o direito).

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