Barcelona pagou 1,4 milhões de euros para ter informações sobre árbitros

O caso está em investigação e remonta aos anos entre 2016 e 2018.

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O Barcelona está sob investigação em Espanha EPA/Manuel Bruque

O Barcelona está envolvido num escândalo em Espanha que envolve o pagamento de dinheiro a responsáveis da arbitragem para que lhe fossem entregues “relatórios técnicos” sobre os juízes das partidas nas quais a sua equipa de futebol iria participar. No total terão sido pagos 1,4 milhões de euros num período de dois anos. O caso foi revelado pela Cadena SER, que confirmou junto de fontes judiciais que o Ministério Público espanhol está a investigar a situação desde o ano passado.

Tudo começou na sequência de uma investigação da Autoridade Tributária à empresa Dasnil, propriedade do ex-árbitro José María Enríquez Negreira e ex-vice-presidente do Comité Técnico de Árbitros (CTA), o órgão a que compete a gestão das questões da arbitragem na federação espanhola de futebol. O Ministério Público espanhol quer perceber quais as razões que levaram o Barcelona a pagar àquela empresa 1,4 milhões de euros entre 2016 e 2018.

Estas entregas decorreram durante a presidência de Josep Maria Bartomeu, mas, segundo fontes judiciais citadas pelo El País, elas ocorreram ao longo das últimas duas décadas, abrangendo os mandatos de Joan Gaspart (2000-2003), Joan Laporta, Sandro Rosell e Josep Maria Bartomeu .

Para já, o Barcelona admitiu, em comunicado, que solicitou “relatórios técnicos relacionados com arbitragem profissional”, e Enríquez Negreira também reconheceu que prestava assessoria ao clube catalão sobre os árbitros que iam apitar cada jogo da equipa “culé”.

O Ministério Público espanhol já ouviu alguns dos implicados e procura averiguar se há suficientes indícios de corrupção e avança com o caso para tribunal, ou se opta pelo arquivamento.

A Dasnil SL é uma empresa criada em 1995 por Enríquez Negreira, um ano depois de ter sido nomeado vice-presidente do órgão equivalente ao Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol em Espanha e três anos após pôr fim à sua carreira de árbitro profissional.

Federação espanhola condena e vai investigar

Até ao momento, não foi encontrado pela investigação nenhum documento no qual se comprovasse que o ex-árbitro prestava um serviço ao Barcelona. Isto, porque, de acordo com o que foi avançado pela Cadena SER, a assessoria era “verbal”. Contudo, dois antigos funcionários do Barcelona durante a gestão de Bartomeu terão declarado ao Ministério Público que a empresa entregava semanalmente, ou cada vez que o Barcelona jogava, relatórios sobre as características do árbitro que ia apitar o jogo seguinte da principal equipa de futebol dos catalães.

O procedimento implicava a entrega de um envelope nas instalações do Barcelona no qual se encontrava um relatório escrito e um DVD nos quais se analisava o perfil e o comportamento no terreno de jogo do árbitro que ia dirigir o jogo seguinte do “Barça”. Estes elementos eram depois entregues à equipa técnica dos catalães que decidiam se tinham utilidade ou não. Esta prática ocorria todas as semanas e envolvia não só a principal equipa de futebol do Barcelona, mas também o Barcelona B.

O caso já mereceu, entretanto, a condenação da federação espanhola de futebol. Em comunicado divulgado nesta quarta-feira o órgão liderado por Luis Rubiales manifestou a sua repulsa face a “comportamentos que possam ser susceptíveis de atentar contra a ética do juramento” arbitral, acrescentando que “nenhum árbitro no activo ou membro do CTA pode desenvolver algum tipo de trabalho que seja susceptível de gerar um conflito de interesses”.

A federação espanhola, contudo, anunciou que tomará a iniciativa de se constituir assistente nos processos judiciais que possam vir a surgir. Para além disso, o Departamento de Integridade da federação deu início a um conjunto de inquirições junto do CTA e do Barcelona e garantiu que irá adoptar as medidas que julgar convenientes.

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