Alemanha: CDU expulsa ex-chefe das secretas internas suspeito de simpatia pela extrema-direita

Hans-Georg Maassen foi afastado em 2018 por alegadamente ter aconselhado a Alternativa para a Alemanha na sua tentativa de evitar ser considerada uma ameaça à democracia.

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Friedrich Merz, na foto, distanciou-se da direita radical ao anunciar a expulsão de Hans-Georg Maassen ANNEGRET HILSE/Reuters

O presidente da União Democrata Cristã (CDU), Friedrich Merz, anunciou esta segunda-feira à noite a expulsão de Hans-Georg Maassen, que foi até 2018 chefe da espionagem interna (a Agência para a Protecção da Constituição, ou BfV na sigla em alemão).

Merz disse que a decisão de expulsar Maassen é uma maneira de traçar “uma linha clara” entre este e o partido. “Somos conservadores, somos liberais, somos sociais-cristãos – mas não somos de direita radical, e não somos comparáveis com a Alternativa para a Alemanha [AfD] em nenhuma altura. E é por isso que temos de erguer uma barreira nesta altura”, disse Merz numa conferência de imprensa em Berlim.

A decisão era “inevitável”, declarou Merz. E era tão evidente que as deliberações da liderança do partido demoraram apenas dez minutos, e ninguém se opôs à proposta de expulsão.

Maassen foi candidato do partido nas últimas legislativas, de 2021, num círculo eleitoral na Turíngia – mesmo contra a vontade da direcção nacional do partido. Não foi eleito.

Apesar da decisão do partido, que diz já não o considerar membro da CDU a partir de ontem, o processo pode arrastar-se anos se ele recorrer.

A liderança da CDU acusa-o de usar linguagem racista “antialemã” ou “antibranca”. Em Janeiro, no Twitter, Maassen escreveu que “uma das forças que são o motor da esfera política mediática” é “o racismo eliminatório contra brancos”, segundo a emissora alemã Deutsche Welle (DW).

A acusação mais grave contra o ex-líder da BfV é de ter tido contactos com a AfD para recomendar ao partido como poderia evitar ser considerado uma ameaça à democracia e não ser sujeito à vigilância dos serviços de espionagem interna, chefiados por si.

A AfD faz um jogo entre afirmações inaceitáveis, que dão a entender que o seu compromisso com a democracia não existe (o que lhe valeria a vigilância por ser uma ameaça) e a recusa de que seja este o caso. Também tem personalidades consideradas mais extremistas, como Bjorn Höcke, que um tribunal considerou poder ser chamado “fascista”, e outras menos – embora especialistas em direita radical considerem que esta é uma falsa distinção.

Algumas partes do partido estão sob vigilância mas, recorrendo a tribunal, a AfD conseguiu evitar que a medida fosse aplicada a quem estava nas listas de candidatos às legislativas de 2021.

Maassen também pôs em causa, em 2018, a autenticidade de um vídeo de militantes de extrema-direita a perseguir e atacar pessoas com aparência estrangeira na cidade de Chemnitz após o homicídio de um homem por dois requerentes de asilo (apesar de ter duvidado publicamente do vídeo, nunca apresentou qualquer indício de que as imagens pudessem ter sido manipuladas).

A hipótese de Maassen recorrer faz lembrar outro episódio, a saga do Partido Social Democrata com Thilo Sarrazin, que além de membro do partido fazia parte do conselho de administração do Banco Central alemão. Sarrazin publicou em 2010 um livro – que foi um bestseller – com a tese de que a imigração tinha trazido mais prejuízo do que benefício à Alemanha, que o quociente de inteligência do país diminuiu por causa dos imigrantes, desvalorizando ainda em particular a comunidade turca, que tinha como especialidade “vender fruta e legumes”.

Em 2018, escreveu outro livro, desta vez sobre o islão, afirmando que “prejudica e atrasa” a sociedade alemã.

O SPD acabou por conseguir que Sarrazin saísse do partido, mas só dez anos após a primeira decisão de o expulsar que foi tomada aquando da publicação do livro em 2010, e foram necessárias três tentativas, lembra a DW.

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