Homens conspiram para acabar com o São Valentim?

Talvez os homens se tenham unido para criar um movimento feminista extremo que lhes dê a desculpa perfeita para mandar às urtigas o Dia dos Namorados.

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@designer.sandraf

Querida Mãe,

Estava a pensar no Dia dos Namorados e concluí que os homens são, de facto, muito espertos.

Qual é a estratégia da maior parte dos nossos maridos quando se trata de fazer uma surpresa ou de resolver algum problema emocional? Deixar passar até que seja virtualmente impossível ignorar mais tempo, então pedir desculpa, e depois deixar passar outra vez, claro.

Ao fim de algum tempo, ou acabamos por mudar as nossas expectativas e a vida segue ou então a vida segue na mesma, mas na direcção oposta à dele.

Ou seja — e quem é que não gosta de uma boa teoria da conspiração —, e se estes esquecimentos fossem propositados? Talvez os homens se tenham unido para criar um movimento feminista extremo que lhes dê a desculpa perfeita para mandar às urtigas o São Valentim, acabando de vez com a data. Quer provas? Aqui estão elas, ao estilo típico destas teses: mal fundamentadas, especulativas e, por vezes, factualmente duvidosas! Mas vamos lá.

Em 2011, o Bruno Mars lançou uma canção chamada When I was your Man cuja letra revela o arrependimento de um homem por não ter feito mais pela mulher quando ainda estavam juntos. O refrão canta (numa tradução livre): “Devia ter-te comprado flores, dar-te a mão, devia ter-te oferecido todas as minhas horas, quando ainda tinha essa oportunidade.” Ou seja, falhou, várias vezes, presume-se, até que ela se fartou, deu-lhe com os pés e ele pede-lhe desculpa. Nada de estranho, portanto.

Mas, ao longo dos últimos anos, a sociedade mudou – ou, pelo menos, a que se dá a conhecer nas redes sociais – e agora as mulheres afirmam-se, cada vez mais, como independentes, autónomas e capazes de passar bem sem um homem. Prova disso foi a canção, já de 2023, da Miley Cyrus que usa a melodia do Bruno Mars para dizer: “Eu consigo comprar flores para mim própria, escrever o meu nome na areia, falar sozinha durante horas, dizer coisas que não entendes. Posso levar-me a dançar e dar a mão a mim mesma.”

E agora mãe, vê o meu ponto?

Todos os homens têm hoje, dia de São Valentim, a desculpa perfeita:

“Meu amor, não te comprei nada porque sei que és uma mulher forte e independente que consegue comprar as próprias flores e, inclusive, falar sozinha, por isso combinei ir com os meus amigos jogar futebol, até porque como achas que não entendo nada do que me dizes, até pensei que preferias que não estivesse cá. Mas amo-te muito.”

I rest my case.

Mas, fora de brincadeiras, parece-lhe que os homens estão mesmo confusos sobre o seu papel neste São Valentim?


Querida Ana,

Obrigada por me fazeres rir, e estou segura de que por este país fora há centenas de homens gratos pelo pretexto fabuloso que lhes acabas de dar com esta birra.

O pior é que nem sempre a coerência é o nosso forte, e o facto de entoarmos estes gritos do Ipiranga no duche da manhã não significa que à hora do jantar não tenhamos mudado de ideias. Ou seja, nunca fiando, mais vale passar na florista e marcar mesa.

Pela minha parte vou vasculhar a Internet para tentar descobrir com quem é que a Miley Cyrus vai jantar à luz das velas.


O Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam.

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