Pablo Neruda morreu de facto envenenado, confirma painel internacional de cientistas

A informação foi avançada pelo sobrinho do poeta chileno: bactéria clostridium botulinum encontrada nos restos mortais era endógena.

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Túmulo de Pablo Neruda REUTERS/Eliseo Fernandez

O poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973), Prémio Nobel da Literatura em 1971, terá mesmo sido envenenado com uma bactéria que lhe causou a morte em 1973. É esta a conclusão do terceiro painel de peritos chamados a estudar as causas do falecimento do escritor no dia 23 de Setembro daquele ano na Clínica Santa María, em Santiago do Chile, apenas 12 dias após o golpe de Estado com que Augusto Pinochet derrubou o Governo de Salvador Allende.

A notícia foi avançada na noite de segunda-feira pelo diário espanhol El País, que cita a convicção do sobrinho do poeta, Rodolfo Reyes, de resto já também veiculada pela agência noticiosa Efe.

“Posso afirmá-lo, porque vi os relatórios. Digo-o, como advogado e sobrinho, com muita responsabilidade, porque a juíza ainda não o pode referir, pois não tem ainda todas as informações”, disse Reyes ao El País, dando conta do resultado da investigação efectuada já este ano por um conjunto de peritos, que, finalmente, determinou que a toxina encontrada em 2017 nos restos mortais de Neruda lhe fora injectada. Isto leva a admitir que a causa efectiva da morte foi a bactéria clostridium botulinum, e não o cancro da próstata que lhe fora diagnosticado em 1969, como foi escrito na certidão de óbito e também defendido, em 2013, pelo primeiro painel de peritos chamado a investigar o caso.

“Isto era o que esperávamos, porque o painel de 2017 já tinha encontrado clostridium botulinum [no corpo]. Mas não se sabia se era endógeno ou exógeno, ou seja, se era interno ou externo. E agora comprovámos que era endógeno e que foi injectado ou colocado”, acrescentou Rodolfo Reyes ao diário espanhol.

Este é o resultado da investigação agora concluída por um painel internacional de cientistas (Chile, México, El Salvador, Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Alemanha e Dinamarca), a partir de exames efectuados em laboratórios neste último país e também no Chile. Segundo avança ainda o El País, as conclusões da investigação deverão ser divulgadas publicamente na quarta-feira, dia em que o relatório será entregue à juíza Paola Plaza.

A confirmar-se o que foi avançado pelo sobrinho de Neruda, vence a tese avançada em 2011 pelo antigo motorista do poeta, Manuel Araya – e depois também reclamada pelo Partido Comunista do Chile –, de que ele fora envenenado a mando do regime de Pinochet. Foram, de resto, estas declarações de Araya que motivaram, nesse mesmo ano, a abertura da investigação por parte da Justiça chilena, e a exumação dos seus restos mortais em 2013.

Caberá agora à juíza Paola Plaza fazer a avaliação destas novas provas científicas e determinar se se justifica abrir um processo judicial sobre a eventual intervenção de terceiros na morte do autor do livro de memórias Confesso que Vivi.

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