Mais perdas de competitividade

O problema da competitividade da nossa economia (ou da falta dela) não tem origem num mero indicador de preços. Tem séculos e que não se resolverá no curto prazo.

Nos últimos dias, ficamos a saber que em janeiro a competitividade da economia portuguesa diminuiu 0,16% face a dezembro de 2022, quando comparada com os nossos parceiros comerciais, desta vez fruto de o índice de preços no consumidor ser mais elevado no nosso país.

O problema da competitividade da nossa economia (ou da falta dela), não tem origem num mero indicador de preços, nem com qualquer outro indicador de curto prazo. É um problema de falta de produtividade dos fatores de produção, que tem origens distantes no tempo. É um assunto que tem séculos e que não se resolverá no curto prazo.

Descobrimos e colonizamos metade do mundo nos séculos XV e XVI e passamos a viver do comércio de especiarias, acabando com a Rota da Seda. Muito do ouro vindo do Brasil era descarregado diretamente na Flandres para pagar os luxos da corte e de uns quantos privilegiados. Vivíamos do comércio e não conseguimos aproveitar o pioneirismo da globalização.

Quando começou a Revolução Industrial, passamos ao lado, perdendo os ganhos de produtividade da industrialização, que foram obtidos por diversos países europeus. Por essa altura, andávamos a defender o território das invasões napoleónicas e com a família real a refugiar-se no Brasil. As guerras liberais deram a machadada final nas pretensões da industrialização.

Quando a Europa já se encontrava industrializada, Portugal era um país predominantemente agrícola e analfabeto. Com ligeiros picos e tentativas de industrialização, mas sem grandes resultados, chegamos ao Regicídio e à Implantação da República, fruto do generalizado descontentamento popular.

Nos primeiros vinte anos da I República, pouco ou nada mudou. Elevadas inflações fruto da cunhagem de moeda para financiar défices e pagar as despesas da I Guerra Mundial, elevado endividamento a Inglaterra, forte instabilidade governativa e nenhum crescimento económico, facilitaram a instauração do Estado Novo.

A lei do condicionamento industrial implantada por Salazar, para evitar o desemprego, impediu as empresas de se modernizarem e de adquirirem equipamentos industriais. O desemprego não podia subir, pois isso poderia colocar em causa a estabilidade social. O regime teria que sobreviver. Pobres, improdutivos, orgulhosamente sós, mas sem desemprego para proteger a ditadura.

Quando o país estava a começar a industrializar-se nos anos sessenta e setenta e a entrar na época que vários historiadores denominaram “período de ouro de crescimento da economia portuguesa”, surgiu o problema colonial, que levou à queda da ditadura e ao fim da pretensa “Primavera marcelista.”

Os dez anos seguintes ao 25 de abril de 1974 foram para esquecer. Instabilidade social, nacionalizações e tomada da gestão de empresas pelos trabalhadores. Uma sucessão infindável de erros, que afugentaram o investimento. Continuámos a somar décadas perdidas.

Com a adesão à CEE e o jorrar de apoios comunitários, algumas coisas positivas foram feitas, mas a produtividade pouco cresceu. É verdade que somos mais produtivos que há duas ou três décadas, mal seria, mas a distância para os nossos parceiros comerciais continua a aumentar.

É evidente que foram saltadas algumas importantes etapas históricas, mas uma coisa é certa: nunca em 500 anos conseguimos pelo menos igualar a produtividade de muitos países europeus. Será este um desígnio nacional? Talvez sim ou talvez não, mas sem produtividade temos os salários que produzimos.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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